segunda-feira, 24 de junho de 2013

Antônio Sales

Antônio Sales nasceu em 13 de junho de 1868, filho de Miguel Ferreira Sales e Delfina de Pontes Sales. A pequena localidade de Parazinho, próxima a Paracuru, quando foi soterrada pelo avanço das dunas, mereceu os seguintes versos do poeta:



 A casa onde nasci, no Parazinho/ Já não existe mais/ sou no mundo como a ave cujo ninho/ desmancharam os rudes temporais/não somente meu lar, mas toda aldeia/
pousada a beira mar/ jaz sepultada num lençol de areia. 
E ali ninguém jamais há de habitar.../ mesmo os grandes coqueirais cuja fronde/ 
se erguia a farfalhar/ sumiram-se, e a graúna não tem onde/ 
ao cair do crepúsculo cantar.

Depois de aprender as primeiras letras em Parazinho, Antônio Sales veio morar em Fortaleza, onde trabalhou como caixeiro em diversos estabelecimentos do comércio local. Nas horas vagas dedicava-se à literatura. Em 1887 publica o primeiro soneto no jornal “A Quinzena”, veículo que divulgava as produções do Clube Literário, composto por Juvenal Galeno, Oliveira Paiva, Farias Brito, Justiniano de Serpa e outros nomes famosos. 
No ano seguinte, funda, juntamente com amigos interessados no estudo da língua portuguesa, o Clube Educando Caixeiral, que mais tarde se transformaria na conhecida Fênix Caixeiral. Partidário das ideias republicanas colaborou para a instalação do Centro Republicano Cearense. 

 membros da padaria Espiritual, vendo-se em pé, da esquerda p/direita: 
Artur Teófilo, Sabino Batista, José Nava, Rodolfo Teófilo, Lopes Filho, Ulisses Bezerra, Antônio de Castro Vital Barbosa.
Sentados, mesmo sentido: José Carvalho, Almeida Braga, Valdemiro Cavalcante, Antônio Sales, José Carlos Júnior e Roberto de Alencar. 

Antônio Sales participou de várias outras associações: Clube Literário, Clube de Letras e Clube Americanista. Mas sua maior atuação foi na Padaria Espiritual, que teve projeção nacional. Antônio Sales foi o inspirador e principal articulador dessa original agremiação literária. Idealizada nas mesas do Café Java e instalada solenemente às 19 horas do dia 30 de maio de 1802, na Rua Formosa n° 105, ele a batizou, deu-lhe prestígio, traçou-lhe a presidência, entregando-a a Jovino Guedes.

 Café Java, berço da Padaria Espiritual

O Pão foi o órgão de divulgação da Padaria Espiritual, que reunia o pensamento dos jovens escritores interessados em revolucionar o meio literário cearense.  Antônio Sales teve papel importante ao escrever o estatuto-manifesto que expressava a ironia e o humor dos membros. A imprensa do Sul do país destacou a movimentação dos jovens escritores, publicando o programa de ação.

 Bandeira da Padaria Espiritual - peça que se faz parte do acervo do Museu do Ceará (foto do acervo do blog)

Funcionário público, o escritor foi removido para o Rio de Janeiro, onde participa da fundação da Academia Brasileira de Letras. Enquanto isso, assinava a coluna satírica “pingos e respingos”, publicada no jornal Correio da Manhã.  Por tecer críticas ao Ministro J.J. Seabra, foi transferido para o Rio Grande do Sul onde passou alguns meses.
Com fama nacional através de jornais do Rio, São Paulo e Recife, Antônio Sales retornou ao Ceará em 1920. Em Fortaleza, tratou de reorganizar a Academia Cearense de Letras, tendo sido seu presidente no período de 1930 a 1937. Com 72 anos, faleceu em 14 de novembro de 1940, vitima de arteriosclerose renal. 


 exemplar do Jornal O Pão
 
Wilson Bóia, autor do livro Escritores na Intimidade, narra o sepultamento do escritor:
- por uma gloriosa coincidência, o nosso morto, que tanto lutara pela implantação do regime republicano, seria enterrado num 15 de novembro, às nove horas, saindo o féretro de sua residência, na Rua Liberato Barroso, n° 1377 (hoje 1383), de propriedade do magistrado Carlos Livino de Carvalho, com destino ao Cemitério de São João Batista, funerais custeados pelo Estado. 
A bandeira já descorada da Padaria Espiritual cobria o caixão funerário, testemunha muda de toda uma época irreverente. um grupo de intelectuais e de amigos conduziu o féretro à mão, acompanhado pelo povo em geral, estudantes, representantes do Interventor e do Prefeito e ladeado pelas alunas da Escola Doméstica de Fortaleza. O coche fúnebre levava numerosas coroas, tomando ainda parte no cortejo, 72 automóveis e 4 ônibus.

fotos do Arquivo Nirez
extraído do livro de Rogaciano Leite Filho
A História do Ceará passa por esta Rua
  

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Vira Virou...


No ano de 2006, o presidente da FIFA anunciava que provavelmente a Copa do Mundo de 2014 seria sediada no Brasil. Mas, apesar de candidato único, o Brasil precisava cumprir algumas exigências prévias para não correr o risco de ser vetado. Para garantir a escolha, o governo brasileiro cumpriu uma série de compromissos, fez promessas, garantiu obras, recursos e infraestrutura. No final do processo de escolha, fez uma última apresentação em Zurique na Suíça, enviando uma delegação que incluía o presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, 12 governadores, o ministro do Esporte, Orlando Silva, o senador Marconi Perillo, representando o Congresso Nacional, o escritor Paulo Coelho, o jogador Romário e o então técnico da seleção brasileira, Dunga. 


No ano seguinte, em 30 de outubro de 2007, o órgão confirmava o Brasil como país sede do evento. O País ficou em êxtase, a comemoração foi extensa, a popularidade do presidente subiu à estratosfera. Sediar a Copa do Mundo era o sonho dourado, aspiração máxima dos torcedores brasileiros, fiéis amantes de sua seleção, país de loucos por futebol. 


Quando informado sobre a decisão de sediar o torneio, o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, afirmou que  o Brasil era uma nação civilizada, que passava por uma fase excelente e o país tinha tudo preparado para receber adequadamente, e organizar uma excelente Copa do Mundo.  Anunciava ainda que nos próximos anos o país teria um fluxo consistente de investimentos; que a Copa de 2014 permitiria ao Brasil ter uma infraestrutura moderna;  que em termos sociais seria muito benéfico; que  era objetivo da CBF tornar o Brasil mais visível nas arenas globais, pois a  Copa do Mundo iria muito além de um mero evento esportivo. “Vai ser uma ferramenta interessante para promover uma transformação social." dizia Teixeira, que  estava na sede da FIFA, em Zurique, quando fez o anúncio.


A escolha das cidades sede foi anunciada em 31 de maio de 2009, nas Bahamas. No total, 18 cidades se inscreveram para receber os jogos, mas apenas 12 foram selecionadas. Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Recife, e Salvador. 

foto do site zerohoraclikrbs

As cidades escolhidas receberam alegremente a indicação debaixo de muita comemoração, tanto da parte dos governantes, quanto da população. Poucas vozes  se pronunciaram contra, afinal o futebol é a paixão nacional, e a Seleção Brasileira é tudo que restou que ainda é alvo de admiração, referência e objeto do orgulho nacional.

 foto do site noticianahora.com.br

De repente, não mais que de repente – como já dizia o saudoso poeta  – a população caiu em si sobre os reais valores empenhados nas obras da Copa;  alertou-se para a falta de escolas, de hospitais, de transportes, que não funcionam adequadamente, mas nunca são melhorados porque o país não tem dinheiro;  acordou do sonho de assistir grandes clássicos de futebol porque não teriam acesso aos estádios, que foram refeitos e viraram arena. E principalmente, perceberam que o futebol é o ralo por onde escorrem bilhões de Reais, parte empregada em obras faraônicas, superfaturadas e de qualidade duvidosa,  parte surrupiada, desviada por corruptos insaciáveis, cartolas milionários, arrogantes e poderosos, velhas raposas sempre presentes na cena nacional. 


E de repente, não mais que de repente,  desamaram e repudiaram a sua seleção, a menina dos olhos, tantas vezes cantada e idolatrada, nos velhos tempos em que representava a Pátria de Chuteiras.
  

Pois até isso a incompetência oficial conseguiu: acabar com a paixão entre futebol e povo, entre seleção e torcedor; o futebol virou vilão, o pai de todas as mazelas. A Copa é em 2014, mas a reação à situação calamitosa do Brasil fez o brasileiro perceber o tamanho do problema. E a culpada de tudo, é a Copa, por isso ninguém mais a quer. O que acontecerá daqui para frente,  é impossível prever, mas pelo andar da carruagem, ou o povão fará as pazes com seu velho amor, ou a Copa 2014, no Brasil, já era.  Snif Snif...

 
   Soneto da Separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.