No ano de 2006, o presidente da FIFA anunciava que provavelmente a Copa do Mundo de 2014 seria sediada no Brasil. Mas, apesar de candidato único, o Brasil precisava cumprir algumas exigências prévias para não correr o risco de ser vetado. Para garantir a escolha, o governo brasileiro cumpriu uma série de compromissos, fez promessas, garantiu obras, recursos e infraestrutura. No final do processo de escolha, fez uma última apresentação em Zurique na Suíça, enviando uma delegação que incluía o presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, 12 governadores, o ministro do Esporte, Orlando Silva, o senador Marconi Perillo, representando o Congresso Nacional, o escritor Paulo Coelho, o jogador Romário e o então técnico da seleção brasileira, Dunga.
No ano seguinte, em 30 de outubro de 2007, o
órgão confirmava o Brasil como país sede do evento. O País ficou em êxtase, a comemoração foi extensa, a popularidade do presidente subiu à estratosfera. Sediar a Copa do Mundo era o sonho dourado, aspiração máxima dos torcedores brasileiros, fiéis amantes de sua seleção, país de loucos por futebol.
Quando informado sobre a decisão de sediar o torneio, o então
presidente da CBF, Ricardo Teixeira, afirmou que
o Brasil era uma nação civilizada, que passava por uma fase excelente e o
país tinha tudo preparado para receber adequadamente, e organizar uma excelente Copa do Mundo. Anunciava ainda que nos próximos anos o país
teria um fluxo consistente de investimentos; que a Copa de 2014 permitiria ao
Brasil ter uma infraestrutura moderna; que em termos sociais seria muito benéfico; que era objetivo da CBF tornar o Brasil mais
visível nas arenas globais, pois a Copa
do Mundo iria muito além de um mero evento esportivo. “Vai ser uma ferramenta
interessante para promover uma transformação social." dizia Teixeira, que estava na sede da FIFA, em Zurique, quando fez
o anúncio.
A escolha das cidades sede foi anunciada em 31 de maio de
2009, nas Bahamas. No total, 18 cidades se inscreveram para receber os jogos,
mas apenas 12 foram selecionadas. Rio de Janeiro, São Paulo, Belo
Horizonte, Porto Alegre, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Recife, e Salvador.
As cidades escolhidas receberam alegremente a indicação debaixo de muita comemoração, tanto da parte dos governantes, quanto da população. Poucas
vozes se pronunciaram contra, afinal o
futebol é a paixão nacional, e a Seleção Brasileira é tudo que restou que
ainda é alvo de admiração, referência e objeto do orgulho nacional.
foto do site noticianahora.com.br
De repente, não mais que de repente – como já dizia o saudoso
poeta – a população caiu em si sobre os
reais valores empenhados nas obras da Copa; alertou-se para a falta de escolas, de
hospitais, de transportes, que não funcionam adequadamente, mas nunca são melhorados porque o país não tem
dinheiro; acordou do sonho de assistir
grandes clássicos de futebol porque não teriam acesso aos estádios, que foram refeitos e viraram
arena. E principalmente, perceberam que o futebol é o ralo por onde escorrem bilhões de Reais, parte
empregada em obras faraônicas, superfaturadas e de qualidade duvidosa, parte surrupiada, desviada por corruptos insaciáveis, cartolas milionários, arrogantes e poderosos, velhas raposas sempre presentes na cena nacional.
E de repente, não mais que de repente, desamaram e repudiaram a sua seleção, a menina dos olhos, tantas vezes cantada e idolatrada, nos velhos tempos em que representava a Pátria de Chuteiras.
Pois até isso a incompetência oficial conseguiu: acabar com a
paixão entre futebol e povo, entre seleção e torcedor; o futebol virou vilão, o pai de todas as mazelas. A Copa é em 2014, mas a reação à situação calamitosa do Brasil fez o brasileiro perceber o tamanho do problema. E a culpada de tudo, é a Copa, por isso ninguém mais a quer. O que acontecerá daqui para frente, é impossível prever, mas pelo andar da
carruagem, ou o povão fará as pazes com seu velho amor, ou a Copa 2014, no
Brasil, já era. Snif Snif...
Soneto da Separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
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