Uma execução na câmara
de gás, ocorrida no dia 2 de maio de 1960, no estado americano da Califórnia, nos
Estados Unidos, causou tremenda comoção em todo o Brasil, atingindo inclusive Fortaleza.
O condenado à pena de morte chamava-se Caryl Chesmann, tinha 39 anos quando
morreu e foi acusado de assaltos, furtos e estupros. Era chamado de “bandido da
luz vermelha”, porque usava um automóvel de cor clara, e colocava uma luz
vermelha no teto, simulando uma viatura da polícia, e assim abordava jovens
casais, que não tinham tempo de fugir ou esboçar uma reação. O suspeito era
dono de uma extensa ficha criminal, com registro de crimes e infrações
cometidas desde a adolescência. Na vida adulta passou boa parte de seu tempo
nas prisões de Los Angeles. Ficou em regime de liberdade condicional até ser
novamente preso em janeiro de 1948, agora sob acusação de ser o bandido da luz
vermelha, um temido estuprador que roubava e molestava suas vítimas.
Num julgamento
considerado parcial e cheio de falhas, sem provas contundentes, baseado numa
confissão em que o acusado alegava ter sido torturado, e no depoimento de duas
testemunhas, Chesmann foi condenado à pena de morte. A polêmica já começou a
partir desse ponto, porque Chesmann não era acusado de assassinato, portanto
não era caso de pena de morte. Começou ali uma batalha jurídica que durou 12
anos, rendeu 10 apelos, inúmeras apelações à Suprema Corte, 16 recursos a
tribunais secundários 9 decisões proferidas pelo Superior Tribunal da
Califórnia. Na prisão Chesmann dispensou
advogados e fez sua própria defesa. Estudou direito, tornando-se um
especialista na área penal e escreveu quatro livros: 2455 – Cela da Morte; A
Lei Quer Que Eu Morra; A Face Cruel da Justiça; O Garoto era um Assassino
(romance). Todos transformaram-se em best-sellers internacionais.
A sentença foi adiada
por 7 vezes. Afinal tudo foi em vão. Caryl Chesmann foi executado na câmara de
gás, no presídio de San Quentin, na Califórnia. A morte na câmara de gás era um
método cruel e demorado. De acordo com reportagens da época, o condenado
sobreviveu por longos 9 minutos, se contorcendo e gritando, desde o início do
processo que começou com a colocação das pastilhas do gás letal, às 14:03 e
terminou com a constatação de que o homem estava morto às 14:12 horas. A anunciada
execução de Chesmann provocou um debate mundial em torno da pena de morte, dos
critérios do julgamento e desencadeou um clamor pela clemência do presidente
dos Estados Unidos, que nunca foi concedida.
Enquanto isso em
Fortaleza...
O radialista Peixoto
de Alencar, então em grande evidência nos microfones da Rádio Dragão do Mar,
promoveu uma campanha popular em busca de assinaturas para um enorme
abaixo-assinado que seria entregue ao presidente Dwigh Eisenhower, que estava
com uma viagem agendada para o Brasil. Segundo se informava, o avião
presidencial faria uma escala técnica em Fortaleza.
prédio da Assembleia Legislativa
A possível estadia do
presidente, ainda que breve, animou os defensores da ideia. Peixoto e
companheiros de imprensa, numa camionete da “Dragão do Mar” percorriam as ruas
da cidade em todas as direções, coletando apoio da população ao movimento “Chesmann
não deve morrer”. A campanha foi um sucesso.
Em poucos dias foram colhidas milhares de assinaturas, reunidas em numerosos volumes
para o devido encaminhamento ao presidente norte-americano.
Tudo pronto para a
solenidade, eis que chega a mais nova informação: o voo de Eisenhower não faria
mais escala em Fortaleza. E chegou-se à conclusão que remeter todos aqueles
pacotes à Casa Branca chegaria fora de tempo, ou seja, tarde demais para
Chesmann, que vivia seus últimos momentos no corredor da morte em San Quentin.
prédio da Rádio Dragão do Mar (imagem Marciano Lopes)
Foi então que a coisa
começou a se desenhar como mais uma página das histórias folclóricas, nascidas
em nossa cidade: o vereador José Diogo da Silveira, apresentou uma mensagem na
Câmara Municipal, que foi aprovada por unanimidade, através da qual o vereador
se oferecia ao governo americano para morrer na câmara de gás no lugar de
Chesmann. Argumentava que era um homem já alquebrado, podia ser sacrificado em
favor da sobrevivência de um jovem que muito ainda poderia fazer, no Direito e
pela humanidade.
Os jornais de
Fortaleza abriram grandes reportagens – “Zé Diogo quer morrer no lugar de
Chesmann”. O assunto virou destaque, formando-se grupos favoráveis e contrários
à ideia de José Diogo. Como se não bastasse, despontou a figura de Edmundo de
Castro – Dedé de Castro – jornalista irreverente, sarcástico, típico daquela
imprensa de então. Dedé elaborou um manifesto, assinado por inúmeros
jornalistas e intelectuais da terra, formalizando o apelo ao presidente Eisenhower
no sentido de que fosse aceito o oferecimento de José Diogo.
O apelo publicado nos
jornais da cidade, foi mais uma das artes praticadas pelo atuante “Ceará
Moleque” naqueles anos finais dos anos 50/início dos anos 60.
Fontes consultadas:
Paulo César Dutra - Caryl
Chessman:O Bandido da Luz Vermelha. Disponível em <https://www.folhadiaria.com.br/materia/69/2413/paulo-cesar-dutra/caryl-chessman-o-bandido-da-luz-vermelha>
Luiz Roberto da Costa
Júnior – Chesmann um inocente executado na Câmara de Gás. Disponível em <https://www.recantodasletras.com.br/artigos-de-politica/6934684>
https://memoria.bn.br/pdf/386030/per386030_1960_00345.pdf
Blanchard Girão – Sessão das Quatro
cenas e atores de um tempo mais feliz. ABC Fortaleza – 1998.
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