A paz alcançada. A vitória da causa democrática abre o País a perspectiva de trabalhar em paz e de vencer as graves dificuldades atuais. Não se pode, evidentemente, aceitar que essa perspectiva seja toldada, que os ânimos sejam postos a fogo. Assim o querem as Forças Armadas, assim o quer o povo brasileiro e assim deverá ser, pelo bem do Brasil”
(Editorial de O Povo – Fortaleza – 3 de Abril de 1964)
O Governador era Virgilio Távora (1963-1966), que mesmo sendo um político conservador, herdeiro de tradicional oligarquia cearense, mantinha boas relações com o governo do Presidente João Goulart (1961-1964). Tal proximidade com Jango deixava Virgilio Távora numa posição delicada naquele complicado jogo político do Brasil na década de 1960. O governador condenava o reformismo de Jango, mas não se declarava adversário do presidente porque precisava das verbas federais e do apoio técnico para a modernização do estado. Os conservadores reagiam contra o que chamavam de articulações comunistas no Ceará. A ala conservadora da Igreja Católica local fazia intensa pregação anticomunista, e acenava para as forças armadas na defesa da ordem pública, do regime e da pátria.
Governador Virgílio Távora
O Golpe Militar de 1964 teve efeitos dramáticos no Ceará. Como no resto do País, os meios políticos cearenses sabiam das tramas conspiratórias em andamento, embora não soubessem quando o levante militar eclodiria.
As primeiras noticias, confusas, sobre o golpe militar chegaram a Fortaleza ainda na noite de 31 de março, pelo rádio, o principal meio de comunicação de massas. As esquerdas tentaram então articular algum tipo de resistência, tardia e inutilmente.
Estudantes realizaram passeatas e concentrações na Praça José de Alencar, dissolvidas pelo Exército; as sedes das entidades estudantis foram invadidas pelos golpistas, seus dirigentes foram destituídos e substituídos por estudantes “democratas”.
Trabalhadores do Porto do Mucuripe, da Rede Ferroviária e dos Correios e Telégrafos iniciaram greves, logo desmobilizadas pelos militares com a prisão dos líderes e intervenção nos sindicatos. A Rádio Dragão do Mar foi fechada por conclamar a população a resistir ao golpe.
A sede do PCB (Partido Comunista Brasileiro), o “Escritório 25 de Março” no centro de Fortaleza, foi arrombada e praticamente destruída, sendo apreendida farta “documentação subversiva”; vários “subversivos” foram presos em Fortaleza e no interior, e trazidos para o 23° Batalhão de Caçadores; casas foram invadidas, pessoas foram presas por qualquer suspeita, bibliotecas foram confiscadas e o policiamento nas ruas passou a ser feito pelo Exército.
Capa do jornal O Povo noticiando o Golpe de 1964: a favor
Em seguida veio a cassação dos mandatos e dos direitos políticos. Muitos foram vítimas, não só as esquerdas, mas algumas lideranças moderadas, simples oposicionistas do governo.
Foram cassados os deputados federais Moisés Pimentel e Adahil Barreto Cavalcante e os vereadores de Fortaleza Luciano Barreira, Tarcisio Leitão e Manuel Aguiar Arruda.
A Assembléia Legislativa local foi a primeira do país a cassar deputados por razões políticas, no dia 10 de abril de 1964. Com a acusação de “falta de decoro parlamentar”, perderam o mandato Aníbal Fernandes Benevides, Raimundo Ivan Barroso, Pontes Neto, Fiúza Gomes, Blanchard Girão e Amadeu Arrais, os quais depois da sessão de cassação foram presos no 23BC.
Humberto de Alencar Castelo Branco
A cassação desses deputados foi a maneira encontrada de salvar o governo Virgilio Távora, que contava com vários auxiliares considerados esquerdistas, e que mantinham relações cordiais com João Goulart, era visto com certa desconfiança por setores da direita e por pouco não foi derrubado em 1964, ante a pressão dos militares “linha dura”, sendo poupado graças a sua amizade pessoal com Castelo Branco e ao prestigio de seu tio, o velho Marechal Juarez Távora perante os golpistas. Teve, entretanto de fazer sacrifícios à revolução para provar fidelidade à nova ordem política, através da demissão de técnicos “comunistas” da secretaria da educação e da cassação dos mandatos dos parlamentares.
No longo prazo a instauração da ditadura favoreceu o Governo Távora: o presidente Castelo Branco, o Ministro de Obras e Viação Juarez Távora e o Superintendente da SUDENE João Gonçalves, eram cearenses, o que facilitou a liberação de recursos junto ao governo federal.
Pesquisa:
História do Ceará de Airton de Farias
Cronologia Ilustrada de Fortaleza, de Miguel Ângelo de Azevedo (NIREZ)
Revista Fortaleza - Fascículo 4 - A Nossa Política
História do Ceará de Airton de Farias
Cronologia Ilustrada de Fortaleza, de Miguel Ângelo de Azevedo (NIREZ)
Revista Fortaleza - Fascículo 4 - A Nossa Política
15 comentários:
Por que o Parque das Crianças recebeu o nome de "Cidade das Crianças?"
Valeria,
o nome do logradouro era Parque da liberdade, na década de 1930 funcionou la o primeiro jardim de infância da cidade que foi batizado de Cidade da Criança. Depois disso passaram a chamar o parque de Cidade da criança.
Sra. Fátima,
Onde posso comprar o livro s/a Boemia Cearense, de Juarez Garcia ?
comprei num sebo, Sr. Felix, sugiro que consulte o site Estante Virtual. O titulo principal do livro é "Porque Hoje é Sábado" e o autor é Juarez Leitão
www.estantevirtual.com.br
abs
A senhora sabe alguma relação da Igreja evangélica,com a Ditadura no Ceará?
A senhora sabe alguma relação da Igreja evangélica,com a Ditadura no Ceará?
Olá Nara Lima,
não sei lhe dizer, nunca vi e nem li nada a respeito.
abs
Fátima, me chamo Rafaela, gostaria muito em entrar em contato com a sr. Posso entrar em contato via wpp ? abraços.
Gostaria de saber para onde foram parar os trilhos da ferrovia de braganca-pa, que o sr juarez Távora, desativou em 1965? Dizem que foi para o Ceará, alguém sabe algo relacionado?
ajudou muito minha irmã no trabalho de escola dela
jfgjutyetyurr4hjjghhgcu
Olá, gostaria de saber mais sobre Cultura e representações Ditadura Militar(Ceará)
E um passado tenebroso pode voltar nesses nossos tempos. Um verdadeiro túnel do tempo do terror. Parece que evoluímos muito pouco ou quase nada, com essa retórica de caça aos comunistas, como se vivêssemos ainda os anos 50 ou 60, da extrema direita aliada a extrema religião. Que Deus, o verdadeiro, tenha pena deste pais já tão cansado de guerras.
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