planta de Fortaleza 1811- atribuído ao capitão de fragata Antônio Marques Giraldes
Até meados do século XIX a evolução urbana de Fortaleza foi
bastante lenta. Em 1865, os naturalistas Luiz e Elizabeth Agassiz denunciavam
problemas referidos por outros viajantes: a inexistência de um cais, as
dificuldades do desembarque, o areal incômodo, a precariedade das condições sanitárias, e os
surtos epidêmicos, a exemplo da malária. Por meio das atas da Câmara Municipal,
pode-se acompanhar o crescimento ocorrido ao longo do século XIX.
Rua Major Facundo, início do século XX
Em 1800 havia
um "arruador", para organizar o traçado das ruas e, 13 anos depois, a Câmara
Municipal possuía uma planta parcial da vila, elaborada pelo engenheiro Antônio
José da Silva Paulet, que posteriormente a complementou, incluindo outras áreas
que demonstravam a viabilidade de expansão no sentido Leste-Oeste.
No ano seguinte, havia a preocupação
com o nivelamento e aterro das ruas, e posteriormente, os proprietários das
casas tiveram o prazo de apenas 8 dias para pavimentar os logradouros. A pavimentação
era incipiente, não atendia às necessidades, sendo comuns as reclamações acerca
de pedras soltas, que dificultava o tráfego de veículos. Era proibido o tráfego
de carros puxados por bois nas ruas calçadas, sob pena de multa aos infratores
no valor de quatro mil réis ou 8 dias prisão.
Praça do Ferreira, início do século XX
A Câmara também não se omitiu sobre a regulamentação das
construções, ainda que em 1859, ainda não existissem os sobrados. A carência de
tijolo e cal, bem como o próprio solo arenoso da cidade criavam dificuldades para seus 8.000
habitantes, que contavam apenas com 1.418 casas, sendo que 517 delas eram de
tijolo e telha. Em 1848 foi proibida a construção de batentes ou degraus que
dessem para a rua, a fim de não prejudicar o alinhamento.
Avenida Pessoa Anta
De modo geral as licenças para edificações eram concedidas
com o devido alinhamento comprovado com visto de um fiscal da prefeitura; propostas
que seriam consideradas excêntricas nos dias atuais eram discutidas com
naturalidade na Câmara. Assim, o próprio presidente da Câmara chegou a propor
que a cidade fosse dividida em tantos bairros quanto fosse o número de
vereadores. Outra curiosidade é que até mesmo a cor das residências chegou a
ser objeto de deliberação, sendo aprovada a proibição de que o interior das
casas fosse branco ou encarnado.
Praça General Tibúrcio 1856, antigo Largo do Palácio, e depois Praça do Palácio. Com a colocação da estátua do general Tibúrcio, passou a se chamar com o nome do herói da Guerra do Paraguai
Não se podiam abrir janelas para as ruas e, em 1861, surgiu
a primeira referência à numeração e denominação das ruas e travessas, em
tabuletas. Contudo, só nesse ano a Câmara aprovou uma regulamentação mais
precisa para a construção de residências e prédios, inclusive nos limites da
cidade. Qualquer contravenção seria passível à aplicação de multa de 10 mil
réis, além do risco de demolição das construções irregulares.
Vale ressaltar que Fortaleza não apenas crescia de forma
controlada, como passou a ser mais
efetiva a preocupação com o embelezamento da cidade, a construção de praças e a
arborização, mesmo nas áreas mais distantes do centro. No largo próximo à Santa
Casa da Misericórdia, foi mandado construir um Passeio Público, após a
edificação de um paredão que dava para a praia.
Praça da Sé, antiga Caio Prado, Praça do Conselho, Largo da Matriz
De forma similar, cerca de um conto e 500 mil réis foram
gastos para o embelezamento da Praça do Conselho, e em 1864, a Câmara dispunha de
funcionários especiais encarregados da conservação de árvores plantadas em
certos trechos da cidade, investindo também contra a derrubada de árvores nos
quintais particulares. A justificativa era que tal destruição contribuía para
aumentar o calor da cidade, e por outro lado, as árvores protegiam as ruas e
casas contra fina poeira soprada pelo vento. Acreditava-se mesmo que a poeira
espalhada pelo vento conduzia germes e micróbios de moléstias como a
tuberculose.
Extraído do
livro de Gisafran Nazareno Mota Jucá
Verso e
Reverso do perfil urbano de Fortaleza
4 comentários:
esse texto foi muito útil em minha pesquisa.pois ele contem informação muito importante.
que bom que o texto foi útil.
abs
Por que os interiores das casas não podia ser branco ?
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