terça-feira, 23 de agosto de 2011

O Palácio que o tempo Esqueceu

Gustavo Barroso em A Margem da História do Ceará, ao fazer alusão ao chamado Palácio da Luz, que já foi sede do Governo do Estado, advertia que o velho Palácio, carregado de significados, tradições e história, já não era adequado ao fim a que se destinava. E por isso,  uma grave ameaça pairava sobre o imóvel, porque em nossa terra, só existe desprezo pelo que chamam de velharias

A previsão só se confirmou em parte, visto que o imóvel não foi demolido, como temia o escritor. Mas tal como está, não é o retrato do que foi o Palácio da Luz.  

Cartão postal do Largo do Palácio ou Praça do Palácio (atual Praça General Tibúrcio), com a antiga sede do governo do Estado, com vista a partir do cruzamento da Rua Conde d'Eu à esquerda e Visconde de Sabóia. À direita a torre da Igreja do Rosário. (Foto de 1900, do livro Lembranças do Brasil) 

No tempo da Fortaleza antiga, o atual palácio era um casarão situado fora dos limites do perímetro da futura cidade, que era compreendido, praticamente entre o velho Quartel da Força de Linha (atual 10ª RM) e as ruelas que, vindas da beira do mar, avançavam poucas quadras para o sul, entre o Campo da Pólvora (atual Passeio Público) e o Largo do Conselho (Praça da Sé). 

A edificação do casarão foi iniciativa do capitão-mor Antônio de Castro Viana para sua residência particular, em fins do século XVIII. O capitão-mor faleceu em 1801, em situação de débito para com os cofres públicos, razão pela qual a Junta da Fazenda penhorou o imóvel, vendendo-o à Câmara Municipal por Oitocentos Mil Réis.


Palácio da Luz em 1908 ainda com a parte que foi demolida anos mais tarde. (arquivo Nirez)

E tão avultada era a quantia investida,  que o Senado da Câmara, para honrar a dívida, criou o imposto especial sobre a cachaça importada de Pernambuco, à base de quatro mil réis por pipa.

Em 1803 o terreno foi cercado  com uma paliçada de altas estacas juntas de pau-ferro, detalhe que  denota a pobreza dos cofres públicos. Em 1811 o governador Barba Alardo empreendeu pequenas obras de adaptação interna. 

A Praça do Palácio em 1910, com o Palácio da Luz à esquerda. 

Em 1839, já império o Brasil e Fortaleza já guindada à condição de cidade, o prédio ganhou ampliação que o levou até a Rua de Baixo, o que lhe deu o aspecto assobradado que tem até hoje.  É desse tempo o antigo salão de recepções, de janelas avarandadas que davam para o antigo Largo do Palácio (atual Praça General Tibúrcio).

Sacada do palácio da Luz - frente para a Rua Sena Madureira

Lá se conservou  a sede do Poder Executivo do Ceará até os anos 1960. Lá concordavam em residir, com as famílias os mais antigos mandatários do poder, os presidentes estaduais de antes da Revolução de 1930. Continuaram  a enfrentar os sacrifícios da hospedagem pouco pomposa  outros governadores de após 30. 

Mas com o crescimento da cidade, o surgimento de bairros, os terrenos centrais se valorizaram.  Para muitos passou a ser desperdício a área de terreno ajardinada do velho palácio, a apenas dois passos da Praça do Ferreira. 

Então se decidiu pela demolição da antiga parte social doméstica do Palácio da Luz. O argumento é que a cidade ganharia, para o lado leste, mais um quarteirão, enriquecendo a curta Rua São José (antiga Travessa das Almas).

Palácio da Luz frente para a Rua Pedro Borges

O projeto foi executado com  rapidez. Abriu-se ladeira abaixo, no rumo da Rua Conde d’Eu o sonhado quarteirão, a porta para a futura abertura de uma via que dali partiria, mediante algumas pequenas desapropriações, até a Praça da Escola Normal.

No entanto, logo depois, surgiram naquele trecho apontado como a ser desapropriado, novas e grandes construções, deitando por terra a falácia da abertura de vias e revelando as verdadeiras intenções dos partidários da demolição de parte do imóvel. 

O Palácio da Luz ainda funcionou como sede do Governo e residência do governador até 1963, quando a sede do poder for transferida para a Avenida Barão de Studart. Atualmente o imóvel abriga a Academia Cearense de Letras e a Sociedade Amigas do Livro. 
Fica na Rua do Rosário n° 1, centro de Fortaleza.


extraído do livro de Otacílio Colares
fotos antigas do Largo do Palácio retiradas do livro Lembranças do Brasil As capitais Brasileiras nos Cartões Postais, de João Emilio Gerodetti e Carlos Cornejo

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