No universo dos cabarés tudo podia acontecer. Os jornais registraram
episódios marcantes, que resultaram em grandes manchetes a partir de fatos
passados nas pensões de mulheres. Dentre os acontecimentos que alcançaram
grande repercussão, está o crime que aconteceu na Pensão da Graça.
Rua Conde D'Eu, onde funcionava a Pensão da Graça (arquivo Nirez)
A Pensão da Graça, estabelecida na Rua Conde D’Eu 541, fora
assumida por Alcinda Leal, quando a titular resolveu se aposentar. Alcinda irmã da Graça, era
amante de José Ramos de Oliveira, conhecido como Idalino, ex-jogador de futebol
na década de 1940, atacante do Ceará Sporting Clube e da Seleção Cearense. Em
meados da década de 1950, em visita a Campina Grande, sua terra natal, Idalino
compra um automóvel Chevrolet dos comerciantes Aloísio Millet e Geraldo Castro,
proprietários do veículo. O negócio foi acertado nas seguintes bases: 145 contos de reis, com entrada de 6 contos
ficando o restante para ser pago em Fortaleza. Tudo combinado, vieram os três
para Fortaleza no próprio carro, acompanhados de uma irmã de Aloisio de nome
Luisinha. Era o dia 31 de agosto.
Nos antigos casarões do centro, funcionavam, no andar superior, as chamadas pensões alegres. Nesse sobrado do Barão de Ibiapaba, funcionava a Boate Ubirajara. (arquivo Nirez)
Na manhã do dia 1° de setembro, os dois paraibanos, que
estavam hospedados no Hotel Internacional, se encontraram com Idalino na Praça
do Ferreira, sendo convidados a acompanha-lo à Pensão da Graça para quitação do
débito. Chegando lá, Idalino encontrou Alcinda em seu quarto. O ex-jogador
pediu à amante que saísse e fizesse companhia a Geraldo na sala de espera,
enquanto ele tratava de negócios com Aloísio no quarto. Uma vez sozinhos, Idalino, se aproveitando de
um descuido de Aloísio, e de posse de uma barra de ferro, desferiu violento golpe em sua cabeça, matando-o
instantaneamente. Escondeu o cadáver numa peça ao lado e chamou Geraldo, que
mal adentrou o quarto, foi também assassinado da mesma forma. Em seguida, o
ex-jogador subtraiu os pertences das vítimas, joias, dinheiro e principalmente,
o documento de venda do veículo que tinha em branco o nome do adquirente, e que
foi logo preenchido com seu próprio nome.
Alcinda, sob ameaça de morte, tornou-se colaboradora do assassino. À noite, despiu os corpos, meteu-os num saco
e os transportou para a Barra do Ceará, à época local ermo e deserto, onde efetuou o enterro em cova rasa.
A maioria dos sobrados das ruas do centro foram ocupados por cabarés depois que os proprietário se mudaram para outros bairros, como o Benfica e o Jacarecanga (arquivo Nirez)
Luisinha Millet comunicou aos demais familiares em Campina
Grande o desaparecimento misterioso do seu irmão e do amigo, e a família,
mobilizando todas as forças, inclusive os governadores do Ceará, Pernambuco e
Paraíba, provocou um amplo processo de investigação. O ponto inicial da investigação era o
Idalino, que pressionado, confessou o crime.
Submetido a julgamento, foi condenado a trinta anos de
prisão. Alcinda Leal, devido aos atenuantes, de ter sido coagida a participar
sob pressão e ameaça de morte, foi condenada a apenas seis meses de reclusão.
extraído do livro
Sábado, estação de viver, de Juarez Leitão
3 comentários:
Tenho primas que são filha do Idalino que gostariam de saber mais sobre o pai q nunca assumiu a paternidade
Olá. Tudo bem? Eu sou neta do Idalino. Gostaria de conversar com você, se possível
Meu e-mail daniellypassos@yahoo.com.br
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