sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O Crime na Pensão da Graça

No universo dos cabarés tudo podia acontecer. Os jornais registraram episódios marcantes, que resultaram em grandes manchetes a partir de fatos passados nas pensões de mulheres. Dentre os acontecimentos que alcançaram grande repercussão, está o crime que aconteceu na Pensão da Graça.

Rua Conde D'Eu, onde funcionava a Pensão da Graça (arquivo Nirez)
   
A Pensão da Graça, estabelecida na Rua Conde D’Eu 541, fora assumida por Alcinda Leal, quando a titular resolveu se aposentar. Alcinda irmã da Graça,  era amante de José Ramos de Oliveira, conhecido como Idalino, ex-jogador de futebol na década de 1940, atacante do Ceará Sporting Clube e da Seleção Cearense. Em meados da década de 1950, em visita a Campina Grande, sua terra natal, Idalino compra um automóvel Chevrolet dos comerciantes Aloísio Millet e Geraldo Castro, proprietários do veículo. O negócio foi acertado nas seguintes bases:  145 contos de reis, com entrada de 6 contos ficando o restante para ser pago em Fortaleza. Tudo combinado, vieram os três para Fortaleza no próprio carro, acompanhados de uma irmã de Aloisio de nome Luisinha. Era o dia 31 de agosto.

Nos antigos casarões do centro, funcionavam, no andar superior, as chamadas pensões alegres. Nesse sobrado do Barão de Ibiapaba, funcionava a Boate Ubirajara. (arquivo Nirez) 

Na manhã do dia 1° de setembro, os dois paraibanos, que estavam hospedados no Hotel Internacional, se encontraram com Idalino na Praça do Ferreira, sendo convidados a acompanha-lo à Pensão da Graça para quitação do débito. Chegando lá, Idalino encontrou Alcinda em seu quarto. O ex-jogador pediu à amante que saísse e fizesse companhia a Geraldo na sala de espera, enquanto ele tratava de negócios com Aloísio no quarto.  Uma vez sozinhos, Idalino, se aproveitando de um descuido de Aloísio, e de posse de uma barra de ferro, desferiu  violento golpe em sua cabeça, matando-o instantaneamente. Escondeu o cadáver numa peça ao lado e chamou Geraldo, que mal adentrou o quarto, foi também assassinado da mesma forma. Em seguida, o ex-jogador subtraiu os pertences das vítimas, joias, dinheiro e principalmente, o documento de venda do veículo que tinha em branco o nome do adquirente, e que foi logo preenchido com seu próprio nome.  Alcinda, sob ameaça de morte, tornou-se colaboradora do assassino.  À noite, despiu os corpos, meteu-os num saco e os transportou para a Barra do Ceará, à época local ermo e deserto,  onde efetuou o enterro em cova rasa.

A maioria dos sobrados das ruas do centro foram ocupados por cabarés depois que os proprietário se mudaram para outros bairros, como o Benfica e o Jacarecanga (arquivo Nirez) 

Luisinha Millet comunicou aos demais familiares em Campina Grande o desaparecimento misterioso do seu irmão e do amigo, e a família, mobilizando todas as forças, inclusive os governadores do Ceará, Pernambuco e Paraíba, provocou um amplo processo de investigação.  O ponto inicial da investigação era o Idalino, que pressionado, confessou o crime.
Submetido a julgamento, foi condenado a trinta anos de prisão. Alcinda Leal, devido aos atenuantes, de ter sido coagida a participar sob pressão e ameaça de morte, foi condenada a apenas seis meses de reclusão. 

extraído do livro
Sábado, estação de viver, de Juarez Leitão

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