O nosso centro da cidade, que
perdeu importância econômica, financeira, política e social nos últimos
tempos, ainda detém as construções mais representativas de uma época em que os
templos católicos refletiam o status e a fé da população, e atingiam todas as
classes sociais: As Igrejas Católicas. A maioria construída com donativos,
enfrentando os desafios dos tempos atuais, as igrejas resistem: cercadas de
grades, fechadas em boa parte do tempo, enfrentando a concorrência de igrejas
evangélicos, mas ainda acolhedoras e receptivas aos homens e mulheres de boa
vontade.
Estas são cinco primeiras
igrejas de Fortaleza, que já foram fundadas nos mesmos locais onde se encontram
até os dias atuais. Algumas foram reconstruídas com características totalmente
diferentes dos modelos originais, como as Igrejas do Coração de Jesus, de São
Benedito e a de São José (Catedral Metropolitana); a maioria, no entanto, sofreu
ampliações e adaptações, no entanto, foram poucas as modificações em relação a
construção original.
1 – Igreja do Rosário - 1730
A Igreja do Rosário foi
construída por volta de 1730, pelos negros da Irmandade de Nossa Senhora dos
Pretos, em uma época em que havia separação de raças e classes sociais em
templos religiosos. Era uma pequena capela de taipa e palha, erguida com
donativos ofertados pelos fiéis, num arrabalde da vila, que muitos anos mais
tarde se tornaria a atual Praça General Tibúrcio.
Em 1753, a capela foi
reconstruída com pedra e cal, porque ameaçava desabar. A capela mor ficou
pronta em 1755. No período de 1821 a 1854, Igreja do Rosário serviu de matriz
enquanto a Catedral Metropolitana passava por reformas. Construído em estilo
barroco, é o mais antigo templo de Fortaleza, tombada pelo Estado em 1983. Fica
na Rua do Rosário, s/n, Praça General Tibúrcio, Centro.
2 – Igreja do Patrocínio –
1852
A pedra fundamental da Igreja
de Nossa Senhora do Patrocínio foi lançada em 02 de fevereiro de 1850, e
ficaria pronta dois anos mais tarde. Em 1849 o cabo da esquadra Fortunato José
da Rocha disparou um tiro contra o Capitão Jacarandá, mas acertou o joelho do
Alferes Luís de França Carvalho, que estava ao lado do capitão. Vendo-se em
risco de perder a vida, Luís de França fez voto à Senhora do Patrocínio, que se
escapasse, faria uma igreja em sua devoção.
No ano seguinte, curado do
ferimento, lançou a pedra fundamental da igreja, ao norte da atual Praça José
de Alencar. O oficial teve que deixar Fortaleza e os trabalhos de construção
passaram a ser muito lentos, apesar da ajuda de muitos fiéis que apoiaram a
ideia do militar. A planta do templo foi feita pelo mestre Antônio de Rosa e
Oliveira.
As obras iniciadas por França
só foram concluídas devido aos esforços do cônego João Paulo Barbosa, que
contou com o auxílio de particulares, das Assembleias Provinciais, da Sociedade
Auxiliadora dos Templos, e dos materiais foram doados pelo governo nos períodos
de secas. Situada na Rua Guilherme Rocha, 536, Praça José de Alencar.
3 – Igreja de São Bernardo –
1854
Em 1854 o Tenente Bernardo
José de Melo construiu uma pequena capela de taipa e palha, em honra de Nossa
Senhora do Bom Parto. No primeiro inverno, com a força das chuvas que caíram, a
capela foi ao chão. Graças ao seu prestígio, o tenente Bernardo conseguiu um
empréstimo do governo, e com esse dinheiro construiu a atual Igreja de São
Bernardo. A igreja sofreu um único acréscimo em relação a construção original:
a sacristia, feita por Monsenhor Quinderé, durante os anos 40.
Inicialmente o povo chamava a
Igreja do Seu Bernardo, que com o tempo mudou para São. Ficou sendo a Igreja de
São Bernardo, embora a devoção maior fosse em louvor a Nossa Senhora do Bom
Parto. Para justificar o batismo da igreja o Tenente Bernardo mandou vir da
Espanha uma imagem de São Bernardo, que passou a ser o titular da igreja.
A Igreja de São Bernardo conta
com dois altares herdados da antiga Igreja da Sé, demolida em 1938: o Altar de
São José e o de N. S. do Bom Parto. Fica
na esquina das ruas Senador Pompeu e Pedro Pereira.
4 - Igreja do Pequeno Grande –
1903
imagem: https://www.tripadvisor.com.br |
Para que o templo ficasse
concluído, a Irmã Chambeaudrie doou à igreja uma herança de família. Por sua
vez, os membros de diversas associações – Filhas de Maria, Senhoras de Caridade
e as próprias freiras se dedicaram a missão de angariar recursos para a obra.
Situada na Avenida Santos Dumont, 55.
5 – Igreja de Nossa Senhora do Carmo – 1906
imagem UOL |
Originalmente era a capela de
Nossa Senhora do Livramento, um pequeno templo erigido pela Irmandade dos
Pardos, administrada pela Paróquia do Patrocínio, erguida em área distante do
centro, cercada de árvores, com uma lagoa nas proximidades. No início do século
XX, foi decidida a construção de uma igreja em substituição à capela, que se
encontrava em péssimas condições. Ainda na construção, foi permitido que fosse
mudada a invocação para Nossa Senhora do Carmo.
O templo foi inaugurado em 25
de março de 1906, sendo o primeiro capelão monsenhor José Gurgel do Amaral. A
imagem que ocupa o centro do altar-mor tem uma história de desencontro: o Padre
Dantas tinha encomendado a imagem de Nossa Senhora do Carmo em Portugal. Quando
a efígie da santa chegou a Fortaleza, ele foi avisado de que deveria pagar os
direitos alfandegários para que pudesse recebê-la, o que ele não fez por
esquecimento.
Então a imagem foi a leilão,
tendo sido arrematada pelo Sr. José Rossas, que procurado pelo padre negou-se a
cedê-la por qualquer preço. Dias depois José adoeceu gravemente, e fez uma
promessa de entregar a imagem à Igreja caso ficasse curado. Alguns dias depois,
mandou que sua esposa procurasse o Pe. Dantas para entregar-lhe a imagem da
Virgem Maria, sem qualquer compensação.
A Igreja do Carmo fica na Avenida Duque de Caxias, s/n.
Foram totalmente reconstruídas:
Igreja do Sagrado Coração de
Jesus – 1886/1961
imagem Instituto do Ceará |
imagem Pinterest |
Em 1952, os engenheiros
Luciano Pamplona e Valdir Diogo aumentaram a altura da torre e colocaram um
imenso relógio trazido de Roma na fachada. Cinco anos depois, em 1957, a torre
cedeu e soterrou a entrada da igreja. Não houve vítimas. Ao invés de reconstruir
a igreja, pois apenas a torre fora afetada, os capuchinhos optaram por derrubar
toda a igreja para construírem um templo maior, com rampas para subida dos
carros, uma torre vazada e uma grande cúpula sobre a nave principal. A nova igreja foi inaugurada em 1961.
Localizada na Avenida Duque de Caxias,135, Centro.
Igreja de São Benedito – 1885
A inauguração da Igreja de São
Benedito ocorreu na manhã do dia 8 de abril de 1885. Era uma igrejinha pequena, original, com
quatro frentes para os quatro pontos cardeais, com torre de madeira
envidraçada, situada ao lado oriental do Boulevard do Imperador, atual Avenida
do Imperador. No dia 27 de julho de 1938 foi instalado o Santuário da Adoração
Perpétua, na Igreja de São Benedito. Depois nos anos 1960 foi construída uma
nova igreja na Rua Clarindo de Queirós, que fica ao lado, e o antigo templo foi
transformado em uma livraria, e foi demolido em 1974.
Catedral Metropolitana – 1795/1978
imagem Arquivo Nirez |
A primeira Igreja da Sé, que
tem São José como patrono, foi concluída em 1795 e demolido em 1820.
Em 1854 teve início a
construção da segunda igreja de São José, em estilo colonial, o espaço em
frente passou a ser chamado de Largo da Matriz; Hoje é conhecida por Praça da
Sé. Essa segunda igreja foi demolida em 1938.
A Catedral Metropolitana atual
foi inaugurada no dia 22 de dezembro de 1978, tendo o padre Tito Guedes à
frente de suas obras e como Arcebispo Metropolitano, Dom Aloísio Lorscheider. Fica
na Rua Conde D' Eu. entre as ruas General Bezerril, Dr. João Moreira, Castro e
Silva e Rufino de Alencar.
As nossas igrejas são bastante
modestas se comparadas aos imponentes templos construídos na Bahia, Pernambuco
e Minas Gerais, sob os ciclos da cana de
açúcar e do ouro. A arte do Ciclo do Gado é a mais humilde, toda a sua
arquitetura se faz, pela falta da pedra apropriada para a obra, em simples
alvenaria, na qual se executa uma ornamentação própria. Nem esculturas, nem
cinzeladuras, nem obras de talha, nem ouro, nem mármore e só algumas exibem azulejos.
Fontes:
FONTES, Eduardo. As Pouco
Lembradas Igrejas Fortaleza: subsídio à história dos templos católicos de
Fortaleza. Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 1983.
BEZERRA DE MENEZES, Antonio. Descrição da Cidade de Fortaleza. Introdução e Notas de Raimundo Girão. UFC/Prefeitura Municipal de Fortaleza, 1992
BARROSO, GUSTAVO. À Margem da História do Ceará. Imprensa Universitária do Ceará, 1962
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