José
Palhano de Saboia era apenas um seminarista, quando caiu nas boas graças do
bispo Dom José Tupinambá da Frota, primeiro bispo de Sobral, que o considerava
como seu filho adotivo. O seminarista era um sujeito carismático, desportista,
piloto de avião e moto, indisciplinado, inquieto e extremamente popular entre a
população de Sobral. Foi ordenado por Dom José depois de ter sido expulso do
Seminário da Prainha, por viajar para Sobral todo fim de semana, sem licença
dos superiores. Depois foi estudar em Roma, onde pouco demorou na Universidade
Gregoriana, retornando a Sobral. Muito inteligente e inquieto, Palhano não
gostava de estudar.
Passou
a trabalhar com Dom José, no Palácio Episcopal. Quando teve seu avião, levava o
bispo a acompanhá-lo nas suas piruetas aéreas. Atuando como tesoureiro das
riquezas da Diocese, era ele quem distribuía as honrarias e cargos da igreja.
Usava sua camionete para ajudar aos mais pobres, como transportar uma grávida
para a maternidade, ou um doente de volta para casa.
Por isso, não foi surpresa para ninguém quando ingressou na cena política, depois de indispor o bispo Dom José com um velho aliado, o cacique político da região, Chico Monte. Candidatou-se a prefeitura de Sobral em 1958, numa ruidosa campanha que repercutiu no Estado e no País inteiro, onde envolveu o próprio bispo, que viveu o vexame de passar por uma inspeção do arcebispo metropolitano, Dom Antônio de Almeida Lustosa, instrumentado pelas boas relações do então Ministro do Trabalho Parsifal Barroso, genro de Chico Monte, com a alta hierarquia da Igreja Católica.
Bispo Dom José ao lado do seminarista José Palhano de Saboia
O bispo Dom José, usado como trunfo na mesquinha campanha eleitoral – dada sua popularidade entre a população – era levado para cima e para baixo pelas ruas de Sobral, surdo, quase cego e senil, para ajudar o pupilo, que provocava pessoalmente o adversário Chico Monte. O veterano político tentou responder com a candidatura do monsenhor José Gerardo Ferreira Gomes. O bispo proibiu a disputa, sob pretexto de que não ia permitir a luta de entre dois padres.
vista aérea do Seminário Diocesano, inaugurado por Dom José em 1925. Funcionou até 1967
Padre
Palhano venceu a eleição. Dom José ainda pode testemunhar o feito, presidindo o
banquete em comemoração ao novo prefeito. Logo depois, morreu. A gestão de
Palhano à frente da Prefeitura de Sobral foi cheia de percalços, devido a forte
oposição de grupos políticos locais e do Governo do Estado.
Em
1962 candidatou-se ao cargo de deputado federal e na mesma época foi excomungado
pelo Vaticano por haver processado na justiça comum o bispo Dom Walfrido
Teixeira Vieira. Depois foi suspenso das ordens por Dom João da Mota. Na
véspera da eleição, correu em Sobral um boletim apócrifo, atribuído ao
secretário da Diocese, padre Sadoc, lamentando a punição ao padre Palhano,
dizendo tratar-se de um grande equívoco. As cópias do boletim foram jogadas de um
avião e inundou as ruas de Sobral. No ano de 1962, fundou a Rádio Tupinambá,
que possuía vasta programação musical, e de onde o padre divulgava notícias
bombásticas a respeito dos adversários.
O golpe
militar de 1964 foi o fim da carreira política de Padre Palhano, cassado por
Ato Institucional. Então, foi morar no Rio de Janeiro, onde se formou em Direito.
Quando pode, voltou a Sobral, às suas polêmicas, aos banhos no açude do Quebra,
sua paradisíaca propriedade na Serra da Meruoca.
Padre
Palhano terminou seus dias aos sessenta anos sem votos, sem a sua emissora de rádio, sem a
aura romântica que tanto cultivara. Seu enterro, no entanto, foi a consagração
que ele teria gostado de presenciar. A cidade inteira, chorando, levou-o à sua
última morada, lembrando seu carisma, sua alegria de viver, esquecendo e
perdoando seus arrebatamentos e as paixões que suscitara.
Extraído do livro” Clero, Nobreza e Povo de Sobral/Lustosa
da Costa. Rio-São Paulo- Fortaleza: ABC Editora,2004/publicação Fortaleza em
Fotos/Imagens IBGE e Internet
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