quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A Primavera Silenciosa e o mosquito da dengue

Foto: http://www.petlvr.com/blog

Ao ser introduzido para uso no combate a pragas, o Dicloro-Difenil-Tricloroetano – o DDT, mais poderoso pesticida que o mundo já conhecera — terminou por mostrar que a natureza é sensivel à intervenção humana. A maior parte dos pesticidas é efetiva contra um ou outro tipo de insetos, mas o DDT era capaz de destruir de imediato, e por muito tempo, centenas de espécies diferentes de insetos e aves.
De baixo custo, o DDT tornou-se conhecido durante a II Guerra Mundial, quando foi usado pelas tropas americanas contra insetos causadores de doenças como malária, tifo e febre amarela. Ao mesmo tempo, na Europa, começou a ser usado sob a forma de pó, eficiente contra pulgas e outros pequenos insetos.
No livro Silent Spring (Primavera Silenciosa), lançado em 1962, Rachel Carson, pesquisadora e escritora americana, mostrou como o DDT penetrava na cadeia alimentar e acumulava-se nos tecidos gordurosos dos animais, inclusive do homem - chegou a ser detectada a presença de DDT até no leite humano, com o risco de causar câncer e dano genético.
O mais contundente capítulo do livro, intitulado "uma fábula para o amanhã", descreve uma hipotética cidade americana na qual toda vida — desde os peixes, os pássaros, até as crianças — tinham sido silenciados pelos efeitos danosos do DDT.
Além da penetração do DDT na cadeia alimentar, e de seu acúmulo nos tecidos dos animais e do homem, Rachel mostrou que uma única aplicação de DDT em uma lavoura matava insetos durante meses e, não só atingia as pragas, mas um número incontável de outras espécies, de forma indiscriminada, permanecendo tóxico no ambiente mesmo com sua diluição pela chuva. Além de demorar de 4 a 30 anos para se degradar.
O livro causou comoção entre os leitores americanos. Devido a grande repercussão, o então presidente americano John Kennedy, ordenou ao comitê científico de seu governo que investigasse as questões levantadas pelo livro; os relatórios apresentados foram favoráveis ao livro e à autora. Como resultado, o governo passou a supervisionar o uso do DDT e este terminou sendo banido.
O uso do DDT foi proibido por volta dos anos 70. Dentre os malefícios identificados pelo uso do agrotóxico, estão o enfraquecimento das cascas de ovos das aves e o envenenamento de alimentos como carnes e peixes. Alguns estudos sugerem que o produto é cancerígeno, provoca partos prematuros e causa danos neurológicos, respiratórios e cardiovasculares.
A partir da década de 80, o Brasil suspendeu a fabricação do DDT em consequência da proibição de seu uso na agricultura. No entanto, continuou, até bem pouco tempo, a empregar o inseticida no controle dos vetores da malária e de outras doenças transmitidas por mosquitos, apesar dos impactos nocivos ao meio ambiente e à saúde humana decorrentes de sua aplicação.
Sobre a eficiência do DDT em combater mosquitos, não paira nenhuma dúvida. No Brasil, o uso do produto erradicou a malária em estados como o Ceará, Piauí e Minas Gerais. Em 1950, o então presidente Gaspar Dutra anunciou a erradicação da dengue no Brasil.
Esta doença voltaria após a proibição do uso do DDT no País.

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