domingo, 4 de dezembro de 2011

O Automóvel do Júlio Pinto

O escritor Gustavo Barroso  relevou certa vez que, a última lembrança que conservava da Fortaleza de outros tempos, era do primeiro automóvel que apareceu na cidade, e causou grande sensação.  Júlio Pinto, espírito empreendedor e dono da Casa Palhabote –  localizada na Rua Major Facundo, 286 – comprou-o em segunda mão no Recife. 

Rua Major Facundo, em primeiro plano, à esquerda, a Garagem Elite (arquivo Nirez)

Marca Pic-Pic, tinha inúmeras manivelas externas de freios, mudança de velocidade e marcha ré.  Mais parecia um dos  vetustos cabriolés do Colignac montado sobre rodas de borracha. Entregaram a direção a um mecânico amador, o português Rafael Dias Marques.

Certo dia Júlio Pinto convidou o escritor para o passeio inaugural. Ao lado do condutor, o já citado Rafael Marques, ia o velho John Petter Bernard, dinamarquês e fabricante de malas.  No assento traseiro, Júlio Pinto e Gustavo Barroso.  

O carro saiu aos "pinotes", fazendo uma barulheira infernal e soltando rolos de fumaça pelo pontiagudo calçamento de Fortaleza. As janelas se enchiam de gente curiosa. Grupos e formavam  nas esquinas, corriam pessoas de toda parte. A molecada assanhada acompanhava de perto a perigosa aventura.

primeiro automóvel de Fortaleza, de Júlio Pinto e Meton de Alencar (arquivo Nirez)

De repente, em frente ao Clube Iracema, na Rua Formosa, o carro empacou, enguiçado, bufando.  Rafael não conseguiu consertá-lo, por mais que remexesse o mecanismo.  John Petter Bernard sujou-se todo e nada conseguiu.

Gustavo Barroso foi até a Praça do Livramento – que devia esse nome à capela ali existente, dedicada a N.S. do Livramento. Construída depois uma igreja maior a atual Igreja de N.S. do Carmo – e ali arranjou emprestado com um velhote que vendia água, dois jumentos, que puxaram o primeiro automóvel do Ceará até a garagem, com os moleques atrás gritando em coro:
- moço, me dá um tostão que eu ajudo a empurrar!

Extraído do livro
Consulado da China, de Gustavo Barroso. 

Um comentário:

Anônimo disse...

BOM TEXTO, MAS REDUNDANTE. SEM CRIATIVIDADE.