sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O Balanço das Horas na Fortaleza Antiga

Até a década de 1840, Fortaleza  “dormia com as galinhas”, como se costumava dizer nesse tempo.  O direito de locomoção era restrito: a polícia não permitia que ninguém permanecesse nas ruas depois das 9 horas da noite. O aviso vinha do quartel do corpo fixo, que no horário determinado, tocava o recolher.  As notas compassadas da corneta eram perfeitamente ouvidas nos pontos mais afastados da pequena cidade, e os retardatários apressavam o passo em busca de suas moradias. 


A antiga Igreja da Sé, hoje só existe na memória dos que a conheceram e nos arquivos de fotografias  - esta é do arquivo Marciano Lopes

Ouvia-se então, na Praça da Carolina, o ruído das portas das tavernas, que se fechavam apressadamente, e o burburinho alvoroçado de pessoas que se retiravam,  depois de estarem ali desde 6 horas, no pequeno comércio de peixe fresco e da carne vinda à tarde do matadouro.

Com a expansão da Igreja católica, e com a igreja dominando a paisagem, eram os sinos que faziam o papel de regulador da vida dos moradores. Com seu toque característico, anunciavam as datas festivas e tristes, os nascimentos e as mortes, marcavam eventos como as procissões, casamentos, batizados, alertavam sobre sinistros e ataques, e serviam, ainda,  para reunir a população, para algum comunicado, avisar aos fiéis sobre o inicio das missas e ofícios religiosos. Os sinos indicavam ainda as chamadas horas canônicas e a passagem das horas do dia.

Antiga Intendência Municipal  (só pode ser vista em fotografias como essa, do arquivo Nirez)
 
Em Fortaleza o sino da matriz anunciava o falecimento de moradores, mas o costume foi abandonado a partir de 1878, quando a pior seca da história do Ceará dizimou praticamente a metade da população do Estado e Fortaleza se tornou a Meca dos flagelados.

Praça do Ferreira 1930 - (Este monumento só pode ser visitado por fotografia - esta é do IBGE)

Em meados da década de 1850, surgiu uma novidade, na Igreja Matriz, o primeiro relógio público. No final do século XIX, é a Intendência Municipal quem vai ditar as horas. E em 1933, quem passa a dividir o comando dos horários da cidade com a Intendência é a Coluna da Hora, localizada no centro da Praça do Ferreira, local de maior prestígio da cidade.

Mas os três monumentos não sobreviveram ao passar do tempo e foram demolidos os três, juntamente com seus relógios pioneiros. No balanço das horas tudo mudou na amada Fortaleza, cidade sem memória e sem passado. 

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