quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Os Primeiros Teatros de Fortaleza

O primeiro edifício teatral da cidade registrado pela história aparece em 1830, em frente à Igreja do Rosário, na esquina da Travessa Municipal (atual Guilherme Rocha) e a Rua do Quartel (atual General Bezerril).  Era chamado popularmente de Teatrinho da Concórdia, embora também fosse chamado de Casa de Ópera.


O Teatro Concórdia, o primeiro de Fortaleza, funcionava na Praça General Tibúrcio, em frente à igreja do Rosário (arquivo Nirez)

A criação desse teatro foi obra de negociantes portugueses e empregados do comércio. Ali em 16 de setembro de 1832, se representou a tragédia Brutus, de Voltaire, em homenagem ao presidente da província José Mariano de Albuquerque Cavalcante (8/10/1831-23/11/1833), que voltava do sul da província, onde fora combater os rebeldes do caudilho Pinto Madeira.

Após doze anos, o Concórdia mudou-se para a Rua Formosa,  atual Barão do Rio Branco, com o nome de Teatro Taliense, ali funcionando até 1872. Em 1876 aparece o Teatro São José, se instalando originalmente na Rua Senador Pompeu  (antiga Rua Amélia),  onde ficou até 1884. Seu palco era frequentemente ocupado pelas animadas comédias do grupo amador Recreio Familiar. 

O Teatro São José já na sua sede própria na Praça Cristo Redentor para onde se mudou em 1915 (foto Ofipro)

Conta-se que de todas as peças tristes ou alegres levadas no São José, as que mais agradaram foram as operetas burlescas – De Baturité à Lua, Madame Angot na Monguba e Sinos de Corneville em Arronches.

Essas representações eram pontilhadas de incidentes verdadeiramente desastrosos, mas que em vez de provocarem protestos eram recebidos com incrível bom humor. 

Em certo espetáculo, uma dama devia em cena, cantar ao piano, uma terna canção de amor. Um grupo de amadores bateu a cidade, mas não encontrou quem lhe emprestasse aquele instrumento. Em desespero de causa e já no dia do espetáculo, alguém sugeriu que se pintasse, em uma das cortinas, um piano junto ao qual a artista cantaria, fingindo que tocava. A ideia foi aceita, mas qual não foi a decepção dos diretores da peça quando viram que o piano fora pintado fechado! Como não houvesse mais tempo para abri-lo, resolveram levar a cena assim mesmo. Chegado o momento, a moça tomou posição, fingindo dedilhar, ao tempo em que, atrás dos bastidores, uma flauta fininha fazia às vezes de piano.  Por pouco o teatro não desaba diante da algazarra e das gargalhadas da plateia.

Na esquina das ruas Barão do Rio Branco com Dr. João Moreira, defronte ao Passeio Público, foi inaugurado em 1877 o Teatro de Variedades, espaço ao ar livre, em que a plateia providenciava as próprias cadeiras.  Haveria espetáculo se não chovesse. A entrada custava $500.
Rua Dr. João Moreira, onde no século XIX, funcionaram o Teatro de Variedades e, mais tarde, no mesmo local, O Teatro São Luís (arquivo Nirez)
 
Após três anos, funcionou de 1880 a 1896, no mesmo local, o  mais importante de todos os teatros que antecederam o José de Alencar, no caso, o Teatro São Luís. Por ele passavam as companhias que excursionavam em direção e Norte e faziam escala em Fortaleza, apresentando óperas, operetas, dramas e comédias, para um público já bastante mais exigente.  

Além de espetáculos teatrais, o São Luís acolheu grandes acontecimentos, como a oratória inflamada  de José do Patrocínio e a execução da ouverture de O Guarani, na presença do próprio Carlos Gomes. Segundo relato de Raimundo Girão, de passagem por Fortaleza, o compositor recebeu uma manifestação improvisada pelas pessoas cultas da cidade, sendo levado à noite ao Teatro São Luís, onde a banda do 15° Batalhão do Exército faria uma apresentação em sua homenagem. 

O maestro Carlos Gomes, autor da opera O Guarani

Apanhada de surpresa e mal ensaiada, a Banda do 15°, torceu, ofendeu, assassinou a obra prima de Carlos Gomes. De pé, braços cruzados, à entrada do camarote presidencial, o compositor assistiu impávido à tortura de sua filha primogênita. O Teatro São Luís fechou em 1896, devido às confusões que os alunos da escola Militar faziam à sua volta.

Por um ano a cidade ficou sem espaço para espetáculos, mas logo em 1897, o Clube de Diversões Artísticas, dirigido por Papi Junior, levanta um pequeno teatro na Rua Formosa, atual Barão do Rio Branco, onde a depois famosa atriz Maria de Castro se iniciou. A experiência deu tão certo que, em 1898, foi criado o Grêmio Taliense de Amadores, do qual fizeram parte Ramos Cotoco e Carlos Câmara. O Taliense estabeleceu seu pequeno teatro na Rua Senador Pompeu, quase esquina com Liberato Barroso.

Desde meados do século XIX, a ambição dos governantes da província voltava-se para o propósito de construir um teatro oficial. Inúmeros deles tentaram alguns até iniciaram. Nessa época, sempre havia espetáculos em busca de palcos, uma vez que companhias de teatro que demandavam o norte do país, transitavam por Fortaleza.  


Praça José de Alencar, antiga Praça do Patrocínio, local escolhido para a construção do teatro oficial da cidade, em foto de 1929 (arquivo MIS) 

A primeira tentativa de construção de um teatro oficial aconteceu já em 1859 e coube ao então presidente da província Dr. João Silveira de Sousa (27/7/1857-15/9/1859). No entanto, já desconfiando da precocidade de sua ideia, já previa objeções desde o lançamento do projeto.  

Mesmo não sendo realizada de pronto, a proposta de João Silveira de Sousa ganhou adeptos e, em fevereiro de 1864, a ideia de construir o teatro é retomada. Para acolher a edificação, o local escolhido foi a Praça do Patrocínio (mais tarde Marquês de Herval e atual José de Alencar). O então presidente da província José Bento de Figueiredo Júnior (5/5/1862-19/2/1864), colocou a pedra fundamental do teatro que teria o nome de Santa Tereza em homenagem à imperatriz. 

Entretanto, os argumentos em defesa da construção do teatro não vingaram, a oposição atacou a iniciativa pela imprensa, qualificando a obra como supérflua e cara.  O resultado é que em outubro do mesmo ano, a Assembleia Legislativa decide suspender a obra.

Teatro José de Alencar, construído e inaugurado na primeira década de 1900 (arquivo MIS)

O projeto do teatro oficial só é retomado, desta vez com sucesso, em 1904, com a volta ao poder de Nogueira Accioly, que através de lei, autoriza sua construção reservando para tal a quantia de 400 contos.  Coube ao oligarca, por ironia, a glória do feito, mesmo que dois anos após a inauguração do teatro, tenha sido apeado do poder pelas forças progressistas urbanas, em nome da luta contra as oligarquias conservadoras.  

Extraído dos livros
Teatro José de Alencar – o teatro e a cidade
Geografia Estética de Fortaleza, de Raimundo Girão

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