terça-feira, 1 de junho de 2010

É tudo Verdade

Pescadores que cumpriram o percurso Fortaleza/Rio de Janeiro a bordo da jangada São Pedro: Manoel Preto, Jacaré, Tatá e Jerônimo (foto reprodução)

Em Setembro de 1941 um grupo de jangadeiros, tendo como porta-voz Manuel Olímpio Moura, vulgo Jacaré, então presidente de uma colônia de jangadeiros, saiu de Fortaleza, viajou 2.700 km numa jangada até chegar ao Rio de Janeiro, na época capital do país. O objetivo dos cearenses Jacaré, Tatá, Manoel Preto e Jerônimo, era apresentar reivindicações da categoria ao ditador Getúlio Vargas.

A máquina de propaganda do Estado Novo, frente ao impacto da intensa cobertura pela imprensa da época, procurou neutralizar o potencial crítico da viagem, apresentando os quatros jangadeiros como “heróis do mar”, ao mesmo tempo em que o aparato repressor do regime controlava cada passo deles.

Já em Cabo Frio, os jangadeiros tiveram de retardar a viagem para chegar ao Rio no festivo dia 15 de novembro. Desfilaram pela Avenida Rio Branco com a jangada em cima de um caminhão. Getúlio os recebeu em audiência pública e decretou, para a alegria da comunidade dos jangadeiros, salário mínimo de aposentadoria e pecúlio para as viúvas.
Esse decreto nunca foi cumprido.

A repercussão internacional do feito dos jangadeiros chegou à redação do jornal norte-americano “Time”, despertando o interesse do ator Orson Welles, que se preparava para vir ao Brasil como parte da política de boa vizinhança do birô latino-americano coordenado pelos americanos. Welles desembarcou no Brasil em fevereiro de 1942, sem nenhum roteiro, para realizar dois filmes no Brasil: um sobre o Carnaval, outro sobre a aventura dos jangadeiros.

Orson Welles esteve duas vezes em Fortaleza: a primeira em março de 1942, para estudos da pré-produção e a segunda de 13 de maio a 14 de julho do mesmo ano, que resultou nas imagens que o diretor de Cidadão Kane nunca pode editar.

Em 19 de maio de 1942, filmando na praia do Juá no Rio, aconteceu a tragédia. A mesma jangada da viagem ao Rio de Janeiro foi atingida por uma forte onda e virou num dia de mar revolto, jogando os quatro homens na água. Jacaré submergiu, voltou à tona, pediu socorro, nadou desorientado mar adentro e desapareceu. Seu corpo nunca foi encontrado.
Welles indenizou a família e empenhou-se em concluir o filme utilizando um dublê. Pressionado por todos os lados, com produtores descontentes com a extensão das filmagens e com a ênfase na pobreza e na negritude do episódio sobre o carnaval, Welles deixou o Brasil para nunca mais voltar, sem ter a oportunidade de finalizar o “It’s All True”, editado parcialmente sete anos depois de sua morte.

Muitas lendas e especulações surgiram com a morte do jangadeiro. Nenhum amigo próximo acreditava que o mar pudesse vencer Jacaré: era tempo de censura dura e ele falava demais, daí ficou a suspeita de que o acidente pode ter sido provocado. No filme "Nem tudo é verdade" (1985), de Rogério Sganzerla, um personagem não-identificado também cutuca a mesma suspeita:
"Nossos adversários em Fortaleza não gostavam mesmo de Jacaré, pois ele era uma espécie de advogado da nossa classe. Para o senhor ter a idéia do ódio que movia o nosso companheiro desaparecido, basta dizer que a sua morte foi comemorada a champanhe pela Federação de Pesca do Ceará”.


Fontes
http://www.etudoverdade.com.br/periodico/coluna/coluna.asp? lng=&id=179

4 comentários:

Unknown disse...

Puxa vida, nossa história é tão rica e tão esquecida... e pensar que eu sei mais da história da França que do Ceará...
Oi, Fátima, tudo bem?
Olha, além do comentário, tô passando pra dizer que aquele texto do Otoniel Ajala Dourado foi enviado por mim a alguns senadores. O Cristovam Buarque respondeu, e eu postei a resposta no meu blogue. Passa lá pra ver, ok?
O endereço é bloguedofrido.blogspot.com.
Abraços.

Fred Osório disse...

EXCELENTE PUBLICAÇÃO FÁTIMA, NÃO PODEMOS ESQUECER OS FEITOS DOS NOSSOS TRABALHADORES DO MAR. AGRADEÇO EM NOME DOS TRIPULANTES DAQUELA JANGADA.

Fred Osório disse...

Parabéns pelo Blog. Agradeço a lembrança em nome daqueles trabalhadores do mar.

Fátima Garcia disse...

Obrigada Fred Osório, todos precisam saber que também temos nossos heróis. abs