terça-feira, 18 de maio de 2010

A Cidade Americanizada: Fortaleza no Pós-Guerra


exemplos de figurinos usados por homens e mulheres no inicio do século XX (foto reprodução)

Na segunda metade dos anos quarenta, terminada a Segunda Guerra Mundial, enquanto a Europa tentava recuperar-se dos estragos causados pelo conflito, os americanos emergiram como os novos heróis, os vencedores que derrubaram Hitler e seus aliados.
Em toda América Latina os americanos viram aumentar o prestígio e a idolatria pelos bravos soldados do Tio Sam. Nada mais natural para essas populações, inclusive a do Brasil, do que aderir à emergente cultura proveniente da América do Norte. E as grandes invenções americanas do pós-guerra foram o plástico, o pirex, as meias de nylon, a caneta esferográfica, além é claro, da coca-cola.
Fortaleza, que antes da guerra estivera sob jugo da moda francesa, de onde eram importados tecidos finos, chapéus, vestidos, sapatos e perfumes, de repente, encantou-se pelas quinquilharias americanas. E não foram só os produtos que causaram sensação por aqui: a música, a dança, os filmes encontraram espaço nos salões e nos cinemas da cidade.
Os jovens mascavam chicletes, tomavam coca-cola e dançavam Fox. Os mais velhos dançavam ao som de Glenn Miller e dos ritmos caribenhos.
Em frente as lojas do centro juntava pequenas multidões para assistir as demonstrações das novas aquisições. Nas Lojas de Variedades na Praça do Ferreira, os vendedores mostravam as maravilhas do plástico – através de copos que não quebravam mesmo quando eram arremessados ao chão – e do pirex, o novo vidro miraculoso que podia ir ao forno sem quebrar, para uma platéia que assistia tudo de boca aberta, queixo caído, maravilhada diante de tantas novidades.
Mas sucesso mesmo fizeram as meias de nylon: primeiro correu a noticia de que os americanos tinham inventado uma “meia de vidro”. Seria tão fina e transparente que podia ser lavada e usada em seguida, pois secava instantaneamente. Logo depois as meias de nylon chegaram às vitrines e causaram furor, as tradicionais meias de seda foram deixadas de lado, as mulheres tinham prazer em ostentar a novidade.
O plástico aumentou a família na forma de bacias, baldes, tigelas, pratos e até penicos. Então lançaram a grande novidade: o tecido de plástico, em peças estampadas. E logo surgiram os vestidos de plásticos, que as mulheres usaram sem pestanejar, abandonaram em seguida por causa do calor que faziam, para só depois descobrirem que a novidade servia era para fazer cortinas de banheiro.
Assim se deu a transição da elegante Fortaleza à francesa para a cidade americanizada: uma cidade seduzida por plásticos, pirex, e meias de ”vidro”.

Fonte:
Lopes, Marciano. Royal Briar: A Fortaleza dos anos 40. Fortaleza: ABC, Coleção Nostalgia, 1996.

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