terça-feira, 8 de abril de 2014

A Vila Floresce no Forte

 fortaleza de N. S. da Assunção
Elevado à Vila em 1726, o antigo povoado do Pajeú, formado à sombra do Forte Schoonenborch, daria somente depois de um grande espaço de tempo, seus primeiros passos rumo ao desenvolvimento.  A Vila cresceu circundando a Fortaleza de N. S. da Assunção, seguindo o roteiro das águas correntes do Pajeú e cuidando do florescente comércio algodoeiro. 
No lado nascente do Forte, situava-se o sítio do naturalista João da Silva Feijó, coronel de engenheiros que veio residir na Vila em 1799, com a incumbência de estudar a geografia da região, seus recursos e produções. Esse sítio era cortado pelo caminho ondulante do Pajeú que, sereno e silencioso deslizava por seus pomares antes e se lançar ao mar.
Na praia, formava um grande  maceió ou pocinho que, desde tempos idos recebia pequenas embarcações, servindo também de aguadas e banhos públicos. Nesse sossegado recanto, olhando para o forte sombreado de árvores, moraria posteriormente Manoel Franklin do Amaral, meio-irmão do Visconde de Jaguaribe e pai do Barão de Canindé. A partir de 1911 ali seria residência de João Eduardo Torres Câmara Filho, pai de Dom Helder Câmara, futuro arcebispo de Olinda e Recife. 

 Praça General Tibúrcio

O Pajeú animava no sítio do naturalista Feijó, uma nascente d’água que abastecia um chafariz público, inaugurado em 1813 e decantado em versos, por sua importância no progresso da vila. O deficiente abastecimento de água foi melhorando com o chafariz implantado na parte principal da cidade. Dia e noite o chafariz estava rodeado de gente, na maior parte escravos, conduzindo potes de barro. A população foi crescendo de maneira desordenada em volta dessa fonte de água potável, amontoando suas casas nas barrancas sinuosas do riacho.

 Prédio da Assembleia Provincial, na atual Rua Sobral, Praça Caio Prado (Praça da Sé)

O governador Sampaio tratou de reparar aquele desalinho. Assumindo o governo do estado em 1812, Manoel Inácio Sampaio contratou o engenheiro Silva Paulet para desenvolver um plano de urbanização para a Vila. Um dos melhores administradores do Ceará colonial, Sampaio deparou-se com uma pequena vila pobre e sem atrativos, com uma população que não ultrapassava os 3.000 habitantes, com um casario simples, em formato de caixotes e um só pavimento.

 Prédio da Tesouraria Provincial, que ficava ao lado da 10a. RM. Foi demolido para construção do Fórum Clóvis Beviláqua, que funcionou ali por quase 40 anos, até mudar-se para a Av. Washington Soares, em 1998. Hoje, no local existe a ampliação da Praça Caio Prado (Praça da Sé).

Governador por 8 anos reconstruiu em alvenaria a Fortaleza de N.S. da Assunção, criou a Alfândega, estabeleceu os Correios terrestres que serviam com regularidade e realizou o recenseamento da população de Fortaleza.
O progresso dos negócios do cotonifício, acompanhando essa boa administração, ia diminuindo o grau de pobreza da vila, propiciando o surgimento dos primeiros homens de posse do povoado.  Algumas residências eram levantadas com mais apuro, considerando valores decorativos. Cuidou-se da instrução, do interesse pelas artes e do bom trato nos hábitos sociais.

 Escola de Ensino Mútuo, construída em 1879, foi a primeira escola para meninos de Fortaleza. Ficava na atual Praça do Ferreira, na esquina onde hoje se encontra o Palacete Ceará/Caixa Econômica, à época, um local considerado ermo e longe da vila, que se concentrava no entorno do forte de N.S. da Assunção

Desses saraus participava o português José Pacheco Spinosa, morador nas vizinhanças do palácio, numa casa que posteriormente integraria o antigo Mercado Público. Associado ao proprietário de terras Antônio Maciel Alves, foi um dos primeiros a comercializar o algodão, diretamente do porto de Fortaleza para a Europa. 

Rua Perboyre Silva 
Essa exportação somente foi permitida após a Carta régia de 17 de janeiro de 1799, consignada por D. Maria I, determinando a separação administrativa do Ceará da capitania de Pernambuco. Antes, esse produto era encaminhado de Aracati ou Mossoró para Pernambuco, seguindo então para a Europa.
O navio "Felicidade",  o segundo a realizar em dezembro de 1808, a travessia direta de Portugal a Fortaleza, era de propriedade de Antônio Manoel Alves e José Pacheco Spinosa. Antes a escuna “Flor do Mar”, comandada por Antônio Nunes de Mello efetuara esta viagem.

extraído do livro Ideal Clube - História de uma Sociedade
de Vanius Meton Gadelha Vieira 
fotos do Arquivo Nirez

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