Na Praça dos Mártires (Passeio Público), tem a
Avenida Caio Prado, mas ele não foi um dos mártires envolvidos na Confederação
do Equador, que acabaram fuzilados naquele logradouro; durante algum tempo, a atual Praça da Sé foi denominada Praça Caio Prado, em homenagem ao mesmo personagem. Afinal, quem foi Caio Prado?
Avenida Caio Prado, no Passeio Público de Fortaleza
Caio Prado foi sem dúvida uma das figuras mais
interessantes que apareceu na provinciana Fortaleza daqueles tempos: filho de
tradicional família paulista, irmão do escritor Eduardo Prado, rico, bonito, intelectual, educado na Europa,
vivido e escolado no modus vivendi parisiense, depois de pouco mais de 7 meses a frente do governo de Alagoas, "caiu de paraquedas" no cargo de governador do
Ceará, nomeado por Sua Alteza Imperial Dom Pedro II.
Nascido em São Paulo, em 13 de junho de 1853, chegou
aqui aos 35 anos de idade. Assumiu o governo do Ceará em 21 de abril de 1888,
cercado de admiradores e elogios de simpatizantes, mas com reservas da imprensa
local. Ao tomar posse no cargo, logo se viu cercado de dificuldades de todos os
tipos. Para começar, o Estado enfrentava mais um período de seca, a chamada
“seca dos três oitos”, com a capital Fortaleza, mais uma vez, invadida por
retirantes, em busca de alimentos, abrigo, trabalho e assistência social; e
mais uma vez, exposta ao risco de epidemias, que costumavam surgir nessas
situações de caos.
Talvez pelo desconhecimento no trato de problemas com os quais nunca tivera contato, talvez por não saber distinguir as especificidades da terra que aceitara governar, o presidente Caio Prado permaneceu alheio e distanciado das graves crises que o Estado atravessava.
Para agravar o quadro, o presidente cercara-se de amigos e correligionários, nomeando-os secretários, assessores, e para os demais postos oficiais do governo, todos inexperientes e tão descompromissados quanto o próprio.
Talvez pelo desconhecimento no trato de problemas com os quais nunca tivera contato, talvez por não saber distinguir as especificidades da terra que aceitara governar, o presidente Caio Prado permaneceu alheio e distanciado das graves crises que o Estado atravessava.
Para agravar o quadro, o presidente cercara-se de amigos e correligionários, nomeando-os secretários, assessores, e para os demais postos oficiais do governo, todos inexperientes e tão descompromissados quanto o próprio.
Apesar das críticas que vinham de diversos setores da sociedade, e acusado de negligência em relação aos problemas que assolavam o Estado, Caio Prado não se abalou, e
entregou-se à convivência dos intelectuais da terra e pessoas da sociedade,
abrindo os salões do Palácio do Governo para receber a elite que o acompanhava
às tertúlias e aos piqueniques domingueiros em sítios e chácaras de Fortaleza e
Maranguape.
Sitio do livreiro Gualter, no Benfica, que o presidente Caio Prado costumava frequentar. A segunda foto, identifica os presentes na primeira.
O Palácio da Luz tornou-se um salão de festas aberto todo o tempo,
as festas e recepções eram contínuas, os gastos altíssimos. As viagens ao
interior do Estado eram tratadas como alegres excursões, sempre em companhia de
amigos e correligionários.
Enquanto as festas palacianas aconteciam, a seca
continuava implacável, trazendo para a Capital a miséria, a fome e um exército
de retirantes. Somente após os rumores da existência de ações que visavam sua
interdição, o governo decidiu adotar algumas providências ainda que tardias e
iniciou a assistência aos flagelados através dos serviços públicos.
embarque os chamados "soldados da borracha", que partiam em busca da sobrevivência e de melhorias de vida na Amazônia. Noticiais de jornais da época davam conta que em apenas dois vapores da
Companhia Brasileira, embarcaram 2.720 emigrantes; outro jornal revelava
que no período entre 19 de setembro a 12 de janeiro do ano seguinte,
deixaram a província 5641 pessoas com destino ao sudeste e 2421
cearenses foram para o Norte.
E a ajuda veio em maior intensidade em forma de
migração, principalmente para a Amazônia e para o Sudeste, solução bastante
comum em outras secas, sob outros governos. O “inferno verde” e os trabalhos
nos cafezais atraíam os nordestinos expulsos pela seca, que sonhavam com dias
melhores nos eldorados dos seringais e dos cafezais.
A administração de Caio Prado não fugiu à regra;
apesar dos elogios recebidos pelas iniciativas tomadas em socorro dos
necessitados, como a construção de açudes, foi muito criticado pela imprensa
pelas atitudes tomadas, e por incentivar a migração de cearenses para outras
regiões do país. Apesar das críticas, cada vez mais contundentes, o Presidente continuou incentivando a emigração, e não
apresentou nenhuma outra proposta, nenhuma
outra solução.
Para completar a tragédia da falta de chuvas, como sempre acontecia nessas situações com grandes aglomerações, fragilizadas pela falta de alimentos, carentes de higienização, de assistência médica ou de vacinas, proliferou no Ceará uma violenta epidemia de febre amarela, agravando o quadro de miséria para milhares de pessoas.
Com a epidemia instalada no Ceará, o próprio presidente foi uma das vítimas; acometido da doença, faleceu em 25 de março (ou maio) de 1889.
Para completar a tragédia da falta de chuvas, como sempre acontecia nessas situações com grandes aglomerações, fragilizadas pela falta de alimentos, carentes de higienização, de assistência médica ou de vacinas, proliferou no Ceará uma violenta epidemia de febre amarela, agravando o quadro de miséria para milhares de pessoas.
Com a epidemia instalada no Ceará, o próprio presidente foi uma das vítimas; acometido da doença, faleceu em 25 de março (ou maio) de 1889.
a antiga Praça Caio Prado, atual Praça da Sé, nos anos 40
Com características tão marcantes, Caio Prado seria
imortalizado no livro “A Normalista”, de Adolfo Caminha, um romance
regionalista que trata dos costumes da época em Fortaleza.
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"Uma tarde em que o Mendes, o juiz municipal e a
mulher, tinham ido passear ao Trilho, João da Mata entrou alvoroçado, sem
fôlego, com uma notícia a escapulir-lhe da boca – Sabem quem está muito doente?
Todos voltaram-se surpreendidos, com o olhar cheio
de curiosidade.
– Não, ninguém
sabia. Algum conhecido?
– O presidente, o Dr. Castro, teve um ataque há pouquinho. A rua está cheia. Diz que está bem mal.
– De quê, menino, interrogou o juiz muito admirado e já nervoso. Houve logo um interesse comovido dos circundantes.
– O presidente, o Dr. Castro, teve um ataque há pouquinho. A rua está cheia. Diz que está bem mal.
– De quê, menino, interrogou o juiz muito admirado e já nervoso. Houve logo um interesse comovido dos circundantes.
E João, sentando-se sem apertar a mão aos Mendes,
pálido, limpando a testa, foi dizendo o que sabia:
– Muita gente
defronte do palácio. Tinham sido chamados todos os médicos, e todos menos o Dr.
Melo, eram de parecer que se tratava de um caso de febre amarela. O presidente
tinha acabado de jantar e lia à cabeceira da mesa a correspondência do sul
chegada naquele momento, quando começou a sentir-se mal – embrulho no estômago,
tonteira, calafrios. Imediatamente ergueu-se, lívido, e ao dar o primeiro
passo, caiu fulminado!...
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Maria do Carmo passou a noite nervosa com insônias,
sentida com a doença do Dr. Castro, muito apreensiva.
Não podia se conformar com a ideia da morte do
presidente, o homem da moda, o querido das moças, o grande amigo do Ceará, que
tantos benefícios fizera a essa província, mandando construir açudes no sertão,
reconstruindo o Passeio Público, ativando obras do porto, facilitando a
emigração, prodigalizando esmolas, e finalmente introduzindo em Fortaleza
certos costumes parisienses, como por exemplo, o sistema de passear a cavalo a
chouto, de aparar a cauda aos animais de sela.
Lembrava as qualidades pessoais do fidalgo paulista,
o seu modo de falar num sotaque aportuguesado, muito moderado na conversação
intima, as suas maneiras delicadas, os seus belos dentes branquejando sob um
bigode sedoso e bem tratado...”
Trecho do romance A Normalista, de Adolfo Caminha
fonte:
GIRÃO, Valdelice Carneiro. A Emigração
Cearense no Governo Caio Prado (1888-1889). Fortaleza: Revista do
Instituto do Ceará, 1990.
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