prédio da Escola de Música Luiz Assunção, no centro de Fortaleza. A Escola de Música continua atraindo alunos, mesmo depois de 63 anos de atividades (foto de Rodrigo Paiva, para o blog Fortaleza em Fotos e Fatos)
Na Rua Solon Pinheiro, n° 60, bem em frente ao Parque da
Criança, imprensada ali, entre o antigo prédio do IBEU, hoje transformado em
estacionamento, e a ABCR (Associação Beneficente Cearense de Reabilitação),
está a Escola de Música Luiz Assunção. O casarão foi construído em 1875 e está
com tombamento provisório feito, através do decreto número 11.961, de 2006,
pela Prefeitura de Fortaleza.
Em setembro, esse mesmo palacete completou 63 anos de portas
abertas para a música. (desde 17 de setembro de 1950). Bons tempos em que recebia a fina flor da
burguesia fortalezense para celebrar a criação da Sociedade Musical Henrique
Jorge, cuja finalidade precípua era manter a primeira Orquestra Sinfônica do
Ceará.
De 1950 a 1979, as noites naquele pedaço de chão da cidade, as
segundas, terças e sextas-feiras, eram tomadas pela elegância da música
erudita, nacional e internacional, regida ao longo de 29 anos de resistência
por nomes como Orlando Leite, Mozart Brandão, João Inácio e Cleóbulo Maia.
entrada do prédio da Escola de Música, construído em 1875
Em 18 de novembro de 1992, no Diário Oficial do Município,
seu registro consta como Escola de Música Luiz Assunção, iniciativa do professor Jairo Castelo Branco, que mantém a escola “viva” até hoje, apesar de
dificuldade financeira, e do estado precário em que se encontra a estrutura
física do prédio. Mas tanto no seu passado de Sociedade Musical Henrique Jorge,
como Escola de Música Luiz Assunção há fatos e episódios que não só ilustram o
registro de nossas efemérides musicais, como também o descaso na preservação de
nossos bens culturais.
A Sociedade à época de sua fundação, 1950, foi uma homenagem
ao maestro da fase pioneira da nossa música, Henrique Jorge. Teve
como aporte financeiro subvenção federal por iniciativa do seu filho, Senador
Paulo Sarasate, que inclusive foi importante na aquisição do imóvel e dos
instrumentos da Orquestra, importados da Alemanha, numa justa homenagem ao seu
genitor que muito contribuiu para a formação musical de Fortaleza, fundando a
primeira escola de música, em 1919: Escola de Música Alberto Nepomuceno que
encerrou as atividades, com o seu falecimento, em 1928.
detalhes internos do velho casarão
O velho casarão da Solon Pinheiro abrigou a nossa primeira Orquestra
Sinfônica que antes tinha seus ensaios nas dependências no Parque da Liberdade (Cidade da Criança).
Com a nova sede a Orquestra não só realizava seus ensaios, como também, foi
palco de suas apresentações públicas para a sociedade da época.
A Orquestra que teve também a iniciativa importante do
músico Raimundo Vale, resistiu até os anos de 1970, e pouco a pouco foi
perdendo sua motivação, por uma serie de circunstâncias, segundo o prof. Álvaro
Moreno, ainda ativo no seu curso de canto lírico e popular, na Av. Treze de Maio,
2936.
dirigida por Jairo Castelo Branco, A Escola de Música segue oferecendo cursos de diversos instrumentos: além das aulas, o espaço, em situação preocupante, guarda parte da história da música cearense
A perda da verba federal, com a morte do Senador Paulo Sarasate, o
comprometimento da estrutura física do imóvel que já era uma ameaça, a falta de
renovação do elenco de músicos, em sua maioria com idade avançada, e certamente
um gestor administrativo foram motivos suficiente para o fim da Orquestra e da
Sociedade Musical Henrique Jorge.
Na lembrança ficaram nomes que pela força dos seus talentos,
tão bravamente, sustentaram por algumas décadas a Orquestra: Raimundo Vale,
Pedro Veríssimo, Frei Wilson, Avelino Telo, Aurélio Bezerra, José Arão Cisne,
Josias Benício, Pianistas Sinhazinha Mota, Dina Piccinini, Maestros Joaquim
Aristóteles, Vasquen Femanion, João Inácio da Fonseca, Cleóbulo Maia, Orlando
Leite e outros. Álvaro Moreno cita o seu crescimento com o maestro Cleóbulo Maia,
músico experiente que fez arranjos de músicas eruditas nacionais e
internacionais, exigindo maior habilidade dos músicos, que se apresentaram em
vários recitais públicos, como a homenagem ao governador Gonzaga Mota.
A
aproximação do maestro e prof. Orlando Leite à Sociedade Musical foi importante
porque houve a apresentação do coral do Conservatório de Música Alberto
Nepomuceno com a orquestra.
O imóvel, bastante desgastado tanto interna quanto externamente, precisa de reparos
Com o fim da orquestra e depois de alguns anos abandonado, o prédio volta à
atividade, em 1982, numa iniciativa do prof. Jairo Castelo Branco que passou a
administrá-lo como uma Escola de Música. Em 1992, numa homenagem ao seu
parceiro nas serestas e casas de shows, muda o registro para Escola de Música
Luiz Assunção.
Professor Jairo detalha os dissabores ao reabrir o prédio que estava
abandonado e tomado por indigentes que por lá pernoitavam, contribuindo ainda
mais para a degradação do patrimônio. Valeu-lhe a recuperação dos 2 pianos que
estavam abandonados e da parte interna da futura escola. Numa velha instante
guarda o que restou da Orquestra Sinfônica: uma pilha de partituras manuscritas
de arranjos de maestros, recuperadas por ele e Luiz Assunção, jogadas no
quintal do imóvel.
durante a semana, a calçada e a fachada da Escola de Música, ficam tomadas de vendedores ambulantes, que encobrem a entrada e dificultam o acesso ao imóvel
A escola continua funcionando, necessitando, urgentemente,
de um reparo em sua estrutura física para evitar o pior: que fique soterrada em
seus próprios escombros. Segundo consta no registro de tombamento da prefeitura
de Fortaleza, processo nº.13/2006 está aguardando instrução de tombamento
definitivo. Se há interesse na preservação desse espaço histórico e cultural de
Fortaleza, urge uma visita ao local para projetar a sua recuperação, pois
qualquer alteração no seu espaço físico, depende de autorização da Coordenação
do Patrimônio Histórico cultural.
Em sua parte interna mostra-se uma imagem em
que suas dependências, lentamente, vão se esvaindo em destroços, por conta do
descaso de uma política que resguarde o patrimônio histórico e cultural de
nossa cidade. E assim mais um capítulo da história de Fortaleza vai se
extraviando, perdendo-se no tempo, sem que uma ação restauradora possa
recuperá-lo.
fotos do Diário do Nordeste
fontes:
Jornal do Comércio do Ceará, disponível em
Jornal Diário do Nordeste, disponível em
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