Com a entrada do Brasil no confronto mundial, os Estados Unidos instalaram bases em Belém, Natal, Fernando de Noronha e Fortaleza – a costa Norte-Nordeste constituía-se ponto estratégico de defesa para os Aliados, pela proximidade da África, já ocupada pelos Alemães, e por possibilitar a patrulha do Oceano Atlântico.
O B-17 chamado
de Fortaleza Voadora foi um avião bombardeiro quadrimotor construído pela
Boeing, durante a Segunda Guerra Mundial, para a Força Aérea dos Estados
Unidos. Era uma aeronave potente, de grande raio de ação, capaz de provocar
grande destruição em alvos inimigos e com grande capacidade de autodefesa.
Quando a pista do Pici ainda estava em fase
final de construção, foi prematuramente inaugurada por uma aeronave desse
tipo, que precisou pousar por se encontrar perdida em relação a sua rota
original. O sobrevoou deste avião de grande porte causou pânico em Fortaleza (foto wikipédia)
Os Blimps sobrevoavam o litoral cearense tentando localizar e identificar submarinos alemães (postal da época)
Em pouco tempo os soldados americanos passaram a manter contato com a população, influenciando, logicamente, os costumes locais. Curiosamente, uma das formas de aproximação foi através do cigarro – num inglês arranhado, populares pediam cigarros aos gringos e iniciavam uma amizade. Ficaram famosas as marcas de cigarros como Camel, Chesterfield, Lucky-Strike e Pall-Mall em Fortaleza.
A cidade ganhou uma agitada vida social no entorno da Praça do Ferreira, para onde convergiam os ônibus, os bondes e os carros de aluguel, em cujo quadrilátero encontravam-se os principais cafés, cinemas, restaurantes, farmácias, bares, lojas, garagens, sorveterias, etc. Ali as pessoas iam realizar compras, assistir filmes, falar de futebol, política ou amenidades nos bancos da praça.
E foi para lá, naturalmente, que se dirigiram os norte-americanos, com suas fardas cáqui e branco, se constituíam numa novidade impossível de não ser notada. Altos, de porte atlético, pele, cabelos e olhos claros, os gringos gastavam dólares, paqueravam as mulheres e provocavam ciúmes entre os nativos.
a Praça do Ferreira que os americanos conheceram nos anos 40 (foto do Arquivo Nirez)
Apesar do discurso das autoridades e da imprensa da época propagar uma relação amistosa entre fortalezenses e americanos, a convivência não foi assim tão harmoniosa. Há vários relatos de americanos atingindo a boa moralidade local, a exemplo de assédio a mulheres, bebedeiras, atentados ao pudor (soldados chegaram a ser detidos após tomarem banho nus na praia de Iracema), brigas generalizadas em prostibulos, etc. Muitas vezes os nativos reclamavam que, por força do dólar, os americanos eram mais bem atendidos nos estabelecimentos comerciais. Segundo estatísticas da época, 50 mil soldados e técnicos norte-americanos teriam transitado por Fortaleza. A base seria desativada em 1946.
Os Acidentes
Há relatos
de alguns acidentes aéreos, todos envolvendo aviões B-24, que tinham Fortaleza
como ponto de partida ou de chegada. Esses fatos não foram divulgados pela imprensa.
O primeiro
deles ocorreu no dia 22 de janeiro de 1944, quando o B-24 comandado pelo
segundo tenente Henry A. Daum, se chocou com uma montanha a 25 milhas a
sudoeste de Fortaleza, por volta de 13 horas, em meio a muita chuva. Todos os seis ocupantes da aeronave faleceram.
O Consolidated B-24 Liberator era o bombardeiro americano de maior produção que qualquer outro avião americano durante a Segunda Guerra Mundial e foi usado pela maioria dos Aliados durante a guerra. Esse modelo de avião este envolvido nos três acidentes relatados. (foto wikipédia)
Limitado nas
informações e pouco detalhista, o relatório da destruição da B-24 mostra que, provavelmente
o sinistro ocorreu nas serras existentes entre as cidades de Caucaia e São
Gonçalo do Amarante, facilmente visíveis para quem se desloca de carro pela
BR-222.
O segundo acidente
ocorreu na madrugada de 8 de fevereiro de 1944, quando o B-24H, pertencente a Esquadrilha 758, sob o comandado
do segundo tenente Daniel B. MacMillin, partiu em direção a Dacar, capital do
atual Senegal.
Naquela
época, segundo a documentação, cada avião que decolava de Fortaleza era
obrigado a enviar uma mensagem em código, em períodos de tempo pré-determinado,
para que soubessem que estavam em voo e qual era a sua posição. Nas três
primeiras horas a mensagem chegou, depois nada mais. O B-24 e seus dez
tripulantes desapareceram. Os documentos apontam que durante dez dias foram
realizadas missões de busca visual, mas nunca se soube o que ocorreu com esta
aeronave, ou com a sua tripulação.
Funeral dos militares americanos na Base Aérea do Pici. Os corpos foram enterrados em Fortaleza e transladados para os Estados Unidos ao final do conflito.
(fotos do livro História da Energia no Ceará)
O terceiro e
mais documentado, ocorreu por volta da meia
noite e cinquenta do dia 28 de fevereiro de 1944, quando o B-24H, comandado
pelo segundo tenente Willian M. Brock Jr., decolou em direção a Dacar, mas
devido a problemas em um dos motores, fez uma volta para aterrissar e caiu.
Verificado o
número do avião com o registro de partida, foi descoberto que aquele B-24 foi o
último a sair da base naquela noite e o acidente ocorreu três minutos após a
decolagem. No local já se encontravam
viaturas e membros do Corpo de bombeiros de Fortaleza, para manter o fogo sob controle. Dez
tripulantes perderam a vida.
A influência yanque
Se a
influência cultural do american way of life já se fazia sentir no Ceará desde
os anos 1920 em oposição ao estilo Belle Epoque, foi com e após a 2ª. Guerra Mundial
que o processo intensificou-se. Nisso desempenhou um papel preponderante o
cinema hollywoodiano no país: astros e estrelas verdadeiros deuses de uma nova
mitologia, transmitiam ao povo brasileiro novos valores, novos hábitos, e
comportamentos, fosse no modo de vestir, cortar os cabelos, comer, beber e no
relacionamento entre pessoas.
Praça do Ferreira, anos 60: slacks, meias de nylon, copos de plástico e Coca-Cola (foto do arquivo Nirez)
Foi
inspirado no modo de vestir dos americanos, que os cearenses passaram a usar silaque, uma camisa de tecido
leve, própria para o clima quente – ate então predominavam os paletós de linho
branco irlandês ou de casemira inglesa – aumentaram o interesse pela língua inglesa,
quando surgiram vários cursos de inglês na cidade, e substituíram o vidro por objetos de plástico.
Outro exemplo
das mudanças de costumes foi a diminuição do preconceito das elites para a
popular cachaça, vista como bebida de desclassificados. A polícia criava
restrições à venda de aguardente nas bodegas, não permitindo a comercialização
depois das 18 horas e nem periodo de carnaval.
casamata construída no Pici pelos mericanos, espécie de abrigo subterrâneo para instalação de bombas e outros equipamentos bélicos. A construção resistiu ao tempo, mas não é mais subterrânea e hoje abriga uma familia. (foto do Diário do Nordeste)
Os rapazes americanos, porém,
quando iam ao centro de Fortaleza, especialmente aos cafés da Praça do
Ferreira, em busca de “bebida forte”, ao não encontrarem uísque, bebiam cachaça
misturada com Coca-Cola. As elites locais logo aderiram a moda, bebendo aberta
e socialmente, eliminando o preconceito contra a cachaça, e consumindo a
Coca-Cola, não por acaso, um dos símbolos do capitalismo, vindo da terra dos
valorosos combatentes.
pesquisa:
História do Ceará, de Airton de Farias
História da Energia no Ceará, de Ary Bezerra Leite
Tok de História, de Rostand Medeiros - disponível em < http://tokdehistoria.wordpress.com>
15 comentários:
Nossa, muito bom! Parabéns Fátima Garcia pelo excelente trabalho!!
obrigada Thiago!
QUE LEGAL, MORRIA E NÃO SABIA DISSO, NÃO EXITE HISTORIA DO CEARA NAS ESCOLAS, TUDO O QUE REALMENTE APRENDI E APRENDO É PESQUISANDO NA INTERNET E EM ALGUNS LIVROS, PARABÉNS.!
não existe mesmo, Romulo Holanda, passamos anos na escola aprendendo sobre a história do mundo mas nada sabemos a respeito da nossa própria história. Grande contradição.
abs
SIM LEMBRO QUE NO PRIMARIO ELES METIAM ALGUMAS POUCAS COISAS DA HISTORIA LOCAL NA GRADE MAS HOJE EM DIA TEM ATE CIVILIZAÇÃO DO GANGES CATAI ETC PRA ESTUDAR E ANTES JA TINHA A ISLAMICO ARABE ETC UM CAPITULO PRA CADA UMA EUROPA ENTÃO SABEMOS DO CARLOS MAGNO DO EGIPTO AS PIRAMIDES TEMOS DE ESTUDAR O EUFRATES ANTIGO E QUANDO ESTUDA-SE HISTORIA DO MERDIL MUITAS VEZES É ESCRITO POR AUTORES DA ZONA ALOGENA QUE DÃO POUCO FOCO A ZONAS ESPECIFICAS NO MAXIMO FALAM DE PERNAMBUCO COMO MAIOR CAPITANIA MAS NÃO MOSTRAM COMO ESSE COLOSSO SAIU DO TOPO E COMO OS GOLPISTAS DA ZONA ALOGENA ROUBARAM TUDO
Quanto às "moças coca-cola" alguem pode me informar algo?
Sobre as moças coca-cola : http://www.fortalezaemfotos.com.br/2014/11/quebrando-normas-e-padroes-vigentes-as.html
Como é bom saber mais da história do Ceará.
Muito bom
tive aulas sobre o assunto na fac,resolvi pesquisar e achei o teu artigo , muito bom mesmo , momentos de prazer e beleza por estes caminhosw da cultura , . gostaria decomprar livros , revistas , sobre o tema .
Morei no bairro Itaoca nos anos 60 , eu tinha 6 anos e ainda tinha muitos comentários da base velha , falavam dos horrores da gu e hoje vivo em belo horizonte mg , sinto muitas saudades da minha terr
Barreiras - Bahia também foi uma base Americana. Registros é o que não faltam. Kkkkkk
morei no bairro pici quando cheguei para mora la ainda tinha os campos da base velha onde hoje fica a ufc
Moro no Meireles onde hoje se localiza o campo do América, algumas pessoas dizem q tem esse nome era um campo de refugiados dos americanos, mas não sei se procede gostaria de saber mais sobre o lugar q eu moro
Texto mais puxa saco que eu ja li.
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