Antônio Frederico de Carvalho Motta nasceu em Granja,
em 26 de março de 1856 e faleceu no Rio de Janeiro, no dia 2 de fevereiro de
1927. Filho do coronel Francisco de Carvalho Motta, iniciou-se no comércio em
sua terra natal gerenciando a firma Carvalho Motta e Irmão. Mudou-se para
Fortaleza provavelmente em 1927, e já desligado comercialmente do irmão,
transferiu a sociedade nos negócios de Granja para um antigo auxiliar.
Casado com Dona Regina Ribeiro Motta, teve 8 filhos:
Waldemar, Artur, Anésia, Cleonice, Carmen, Alaíde e mais outros dois, falecidos
na infância. Na Capital, a princípio integrado no comércio de exportação, passou
a dedicar-se ao setor bancário, tornando-se diretor e depois presidente do
Banco do Ceará.
Carvalho Motta era considerado homem de fino trato, um
capitalista, e não um coronel do interior. Em Granja, onde havia exercido o
comando do batalhão de infantaria da Guarda Nacional, já era considerado um
exemplo de requintado comportamento social. Participava com destaque na
sociedade e política cearense, figurando como deputado estadual pertencente à
poderosa facção comandada pelo comendador Antônio Pinto Nogueira Accioly.
Mantinha portanto, um relacionamento com a oligarquia, a qual, dominando o
Ceará desde a proclamação da República, foi destituída pela rebelião popular de
janeiro de 1912, ocasião em que Motta ocupou o cargo de 3° Presidente do
Estado.
A construção original sem as ampliações foto Revista do Instituto do Ceará
Em 1907, aos 50 anos de idade, se muda para o palacete
que acabara de erguer no cruzamento das ruas General Sampaio com Pedro Pereira.
A nova residência estava localizada no primeiro circuito periférico ao centro
urbano, a dois passos da Praça Marquês de Herval, logradouro que havia sido
ajardinado e urbanizado pelo intendente coronel Guilherme Rocha. Entre a praça
e a casa, ocupando metade do quarteirão, localizava-se a sede do Batalhão de
Segurança. Na outra metade da quadra, havia casas amplas, entre as quais a
morada do poeta Juvenal Galeno.
Sede do Batalhão de Segurança - foto Arquivo Nirez
É provável que antes de se mudar para o palacete,
Carvalho Motta estivesse residindo numa casa térrea, na Rua Formosa, de sua
propriedade. A então Rua Formosa, em particular nesse trecho no qual se
levantavam os sobrados de maior porte, apresentava-se como a via mais elegante
da cidade, embora alguns estabelecimentos comerciais já se misturassem as
residências, prenunciando com grande antecipação o futuro tipo de ocupação da
área. Carvalho Motta, ao procurar uma zona ainda não integrante do centro
comercial da cidade para morar, percebia e prestigiava as alterações que
estavam por vir no zoneamento urbano de Fortaleza.
Inaugurado festivamente o palacete, no entanto,
Carvalho Motta mal pôde desfrutá-lo, porque a 17 de fevereiro de 1908, faleceu
sua filha caçula, a menina Alaíde, de 13 anos, vítima de apendicite. A menina
faleceu às 10:30 horas e foi sepultada no mesmo dia às 17 horas, no Cemitério São
João Batista. Tudo transcorrera com total surpresa, já que a doença acamara a
menina por pouco tempo. Tendo em vista a elevada posição social de Carvalho
Motta, pode-se avaliar a repercussão do desenlace, noticiado no órgão da
imprensa governista, impregnado de referências sentimentais, tão ao gosto da
época.
O duro golpe da perda da filha desnorteou Carvalho
Motta que logo abandonou o palacete indo morar no Jacarecanga, na Rua Municipal
(atual Guilherme Rocha). Após a deposição e renúncia de Nogueira Accioly,
seguida renúncia de Graccho Cardoso, 1° vice-presidente do Estado e com a
ausência de José Bastos, 2° vice-presidente, Carvalho Motta, na condição de 3°
vice-presidente, assumiu a direção dos negócios do Estado, num dos momentos
mais graves da história política cearense. Ficou à frente do governo do Ceará de 24 de janeiro a 12 de julho de 1912.
Apesar de pertencer ao partido aciolino, o coronel
Carvalho Motta era um espírito moderado, contra quem não havia animosidade
pública. Pode assim, assumir o governo livremente, sem protestos ou
manifestações contrárias. Com a eleição de Franco Rabello, empossado em 14 de
julho de 1912, desmotivado e desiludido com a política, Carvalho Motta decidiu
sair do Ceará. Pouco antes de se mudar, vendeu o palacete à Inspetoria de Obras
contra as Secas que já o ocupava desde 1909.
O imóvel situado na Rua General Sampaio n° 94-B, foi
vendido em 23 de maio de 1913 por 150 contos de réis, pagos a Carvalho Motta e sua
mulher, pela Fazenda Nacional. De acordo com a respectiva escritura o terreno media
58 palmos por 250 palmos, isto é, 12,76 metros por 55 metros, medidas que não
coincidiam exatamente com aquelas obtidas no levantamento gráfico executado
pelo DNOCS.
No Rio de Janeiro onde passou a residir, Carvalho
Motta construiu sua nova casa em Botafogo, na Rua Marquês de Olinda. Anos
depois essa casa seria demolida e em seu lugar seriam erguidas as instalações da
Editora José Olympio. Na Capital Federal, já idoso, Carvalho Motta foi atropelado
por um automóvel, vindo a falecer em 3 de fevereiro de 1927.
O Palacete Carvalho Motta
O Palacete foi concluído em 1907 para abrigar a família
do coronel Antônio Frederico de Carvalho Motta, situado na antiga Rua da Cadeia,
atual General Sampaio, em terreno medindo cerca de 700 m². Possui estilo
eclético, numa mistura de elementos neoclássicos e art nouveau. Tem dois
andares com janelas e portas em arco batido.
foto dos anos 20, já ampliado pelo IFOCS - foto Revista do Instituto do Ceará
Erguido em gleba contígua ao centro urbano, voltava-se
para uma rua valorizada pela passagem de uma linha de bondes à tração animal
que demandava o arrabalde do Benfica. Distava apenas um quarteirão da Praça
Marques do Herval. Em 1909 o solar foi alugado à Inspetoria de Obras Contra as
Secas – IFOCS, à qual seria vendido em 1913. Reformado e ampliado por volta dos anos 1920, foram mantidos os seus traços gerais de forma a não transparecer as
alterações a que foi submetido.
Ao longo dos anos o palacete abrigou as instalações da
IFOCS, posteriormente DNOCS, vindo a ser desocupado, apenas, ao final da década
de 70 com a construção da nova sede da Diretoria Regional do Ceará.
Em 1983, o imóvel foi restaurado com base em projeto
elaborado pelo IPHAN, tendo por objetivo a instalação do Museu das Secas, o
qual abrigaria o acervo da instituição. Sem a devida manutenção as instalações
do denominado Museu das Secas que viria a ocupar uma área relativamente pequena
do prédio, terminaria por não ter condições de atender ao público que buscava
visitá-lo. O Museu das Secas sobreviveu entre 1985 e 2004.
Do tempo de funcionamento do Museu das Secas herdou todo
o acervo do Dnocs. Lá, debaixo da poeira, servindo de pasto às traças e cupins,
estão, por exemplo, os documentos do projeto e construção do Açude do Cedro, a
primeira grande obra hídrica do Brasil, presente do imperador Pedro II ao
Ceará.
Com uma área construída total de 1.344,20 m², o
Palacete Carvalho Motta está localizado
no centro de Fortaleza no cruzamento das ruas General Sampaio e Pedro Pereira.
Tombado pelo IPHAN em 19 de maio de 1983, o imóvel de 113 anos está fechado há
quase 16 anos, sem utilidade, sem manutenção, sem nenhuma importância que
justifique o investimento que a requalificação vai exigir.
Matéria publicada pelo jornal O Povo, em 2017, dá uma
ideia da extensão da deterioração do imóvel nas dependências internas: o prédio tem áreas sem eletricidade, alguns cômodos
estão tomados por mal cheiro e as obras de arte que sobraram estão colocadas no
chão. Revela ainda que as paredes têm manchas pretas e amarelas, marcas da
deterioração. Em alguns pontos, a infiltração derrubou as camadas mais externas
de tinta e reboco.
A falta de manutenção também enfraqueceu o teto de algumas
salas. Há rombos pelos quais é possível ver a laje do primeiro andar. Devido à
extensão dos cômodos, as lâmpadas são insuficientes para iluminar todo o
Palacete. Do teto ao chão há teias de aranha que grudam naqueles que tentam
caminhar pelo espaço. No centro do edifício, uma antiga cacimba foi tapada com
restos de madeiras e pedaços de tábuas. Barras de ferro, tijolos e uma mesa
quebrada impedem que as pessoas caiam no buraco.
O que se pode deduzir é que, como quase todos os tombamentos patrimoniais
de Fortaleza, o Palacete Carvalho Motta é só mais um que está na fila do
tombamento de fato, cujo processo, esse sim, já se encontra bem adiantado.
Fontes consultadas:
O Palacete Carvalho Motta, de José
Liberal de Castro. Disponível em https://www.institutodoceara.org.br/revista/Rev-apresentacao/RevPorAno/2013/03_art03.pdf
Degradado e fechado há 15 anos, Museu das Secas é
candidato às chamas – disponível em https://www.focus.jor.br/
Fechado há 14 anos, Museu Das Secas padece com falta
de manutenção. Disponível em https://www.opovo.com.br/jornal/vidaearte/2017/08
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