Tristão Gonçalves Pereira de Alencar, mais tarde Alencar
Araripe, nasceu no Sitio Salamanca, atual cidade de Barbalha, então distrito do
Crato, filho do português José Gonçalves dos Santos e da pernambucana de Exu,
Bárbara Pereira de Alencar. Começou sua atuação política na região do Cariri,
ainda em 1817, quando seu irmão, José Martiniano de Alencar, destacava-se como
líder republicano.
Alencar chegou ao Crato, vindo de Pernambuco a 30 de abril de
1817, e a 3 de maio proclamava o triunfo republicano, movimento real, mas
efêmero, devido a vigilância exercida na Província pelo então governador
Sampaio e o poder repressivo de José Pereira Filgueiras, figura saliente do
monarquismo do Cariri, que venceram os ideais revolucionários dos republicanos.
Presos na cadeia pública do Crato, José Martiniano de
Alencar, Dona Bárbara de Alencar, Tristão Gonçalves e outros integrantes do
movimento, foram transferidos para presídios em Fortaleza, viajando por mais de
500 quilômetros de distância entre as duas cidades, no lombo de cavalos, com os
braços acorrentados e comida racionada. Foram confinados em cubículos
individuais, no Quartel de 1ª. Linha (atual 10ª. Região Militar).
Depois de dois meses de cárcere na 10ª. Região, foram
transferidos para uma prisão na Bahia, onde seriam fuzilados, já que haviam
sido condenados por atos revolucionários contra o Imperador. No entanto, foram
beneficiados pelo indulto concedido após os anos 20, devido à mudança
estrutural do Brasil, com a sua independência e o regime constitucionalista.
Nessa nova fase do Brasil, os antigos revolucionários de 1817
voltaram a formar alianças, na tentativa de implantar na província, novas
regras políticas, e Tristão Gonçalves formando aliança com José Pereira
Filgueiras, tornou-se figura de proa nos destinos políticos da província.
Chamado a combater forças rebeldes na vizinha província do Piauí,
Tristão Gonçalves só retornou ao Ceará em 1824. Encontrou a província mergulhada
no caos, sob a gestão de um governo provisório, com lutas políticas internas,
assassinatos entre rivais, indisciplina militar e risco de uma guerra civil. Houve
então o governo meteórico do presidente Pedro José da Costa Barros, sua
deposição logo em seguida e a ascensão de Tristão Gonçalves ao governo, em data
de 29 de abril de 1824.
O governo de Tristão Gonçalves teve duas fases distintas, uma
vinculada ao regime imperial, com subordinação política ao imperador e outra
por adesão ao sistema governativo de Pernambuco instalando-se no Ceará a chamada
“República do Equador”.
Durante a primeira fase, tudo caminhou dentro da
normalidade. Tristão governava a província de forma equilibrada, cumprindo as
normas constitucionais em vigor, porém, de forma clandestina participava de
conspirações, mantendo estreito relacionamento com antigos conspiradores
pernambucanos.
Com a eclosão do movimento revolucionário, envolvendo as
províncias do Rio Grande do Norte e Paraíba, tendo Pernambuco na liderança,
Tristão declarou apoio ao movimento republicano. Quando, no entanto, começaram
a surgir informações sobre o fracasso da revolta, as forças de adesão que
estavam compromissadas e fiéis ao novo sistema, trataram de desertar, deixando
as lideranças sozinhas.
A participação de Tristão Gonçalves ficou declarada quando
concebeu a ideia de enviar ao Recife a comitiva de apoio ao recém-instalado
sistema republicano. A comitiva era composta pelos deputados republicanos José
Martiniano de Alencar, padre Manuel Pacheco Pimentel, José Ferreira Lima
Sucupira, Francisco Manuel Pereira Ibiapina e João da Costa Alecrim. Em outra projeção, por determinação de Tristão
Gonçalves, seguiu com destino ao Recife um comando militar sob o comando do
sargento-mor Luiz Rodrigues Chaves, este comando, no entanto, não ultrapassou
os limites do Rio Grande do Norte, ao saber dos frustrados destinos
republicanos, o sargento mor tratou de salvar a própria pele, deixando-se
aprisionar, delatando os companheiros.
Ao tomar conhecimento da traição, e da informação de que
Rodrigo Chaves montara seu quartel-general na Vila de Aracati, Tristão resolveu
ir pessoalmente dar combate ao desertor e impedir que, por essa rota tivesse
acesso o inimigo. Deixou, então, o governo com o 1° vogal José Felix de Azevedo
e Sá e partiu acompanhado das tropas que lhe restaram.
Andou por várias cidades da região, e quando o cerco apertou,
com vários comandos no seu encalço, resolveu liberar suas tropas, partindo
quase sozinho e sem chances de vencer. Acampou na fazenda Santa Rosa, às margens do Jaguaribe, no local
denominado Olho d’água e aguardou o desenrolar dos acontecimentos.
Na manhã do dia 31 de outubro de 1824, enquanto descansava ao
pé de uma árvore, Tristão Gonçalves foi morto a tiros de carabina, desferidos
por Venceslau Alves de Almeida, integrante das forças legalistas e segundo dizem,
defensor de seus próprios interesses. Matara por duzentos mil reis, prometido
pelo sargento-mor Manuel Pereira da Cunha, que fora encarregado de
exterminá-lo.
Monumento em memória de Tristão Gonçalves - desaparecido com a inundação da antiga Jaguaribara (imagem IBGE) |
Seu corpo foi deixado no local totalmente mutilado. Mais
tarde, foi sepultado na Capela de Santa Rosa. No local da morte foi inaugurada
uma lápide comemorativa, mandada construir pelo Instituto Histórico e Geográfico
do Ceará.
Fontes: Pena de Morte/R. Batista Aragão/Barraca do Escritor Cearense/Fortaleza, 1991/Caminhando por Fortaleza/Francisco Benedito/Destak-Gráfica e Editora/Fortaleza, 1999/Publicação Fortaleza em Fotos
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