quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

As Ruas por onde os Bondes Passavam

Até 1947 quando foram extintos, os bondes eram um dos símbolos de Fortaleza. Mais do que simples meios de transportes, os bondes se integravam a vida da cidade pequena e tranqüila, como monumentos vivos, muito ligados a vida da população.
Era da Praça do Ferreira que saía o maior número de linhas. 
O ponto final era também na Praça, trecho da Rua Floriano Peixoto, em frente às Farmácias do Povo, Santo Antônio e o Globo.
o bonde de Jacarecanga
O bonde do Jacarecanga, por exemplo, deixava aquele ponto final e dobrava a esquerda, na Rua Guilherme Rocha, e seguia direto até a Praça do Liceu. No trajeto para o Liceu, a imponência da “Itapuca Vila”, implantada numa ampla quadra ajardinada da Rua Guilherme Rocha. Era uma construção concebida nos moldes das mansões coloniais inglesas no Oriente, particularmente na India. 
Itapuca Vila 
Com freqüência tinha-se a oportunidade de ver de perto seu proprietário, o abolicionista Alfredo Salgado. Vestido com a elegância de um nobre inglês, calças listradas, casaca escura, com um cravo na lapela, já bastante idoso, Alfredo Salgado ficava à espera do tramway da Light, na parada em frente à sua mansão. Respeitosamente recebido pelos estudantes do Liceu, maiores usuários daquela linha, às vezes ganhava deles a deferência de um lugar sentado, quando o veiculo está superlotado. 
A Itapuca Vila era o destaque maior na paisagem arquitetônica, mas todo o corredor constituído pela Rua Guilherme Rocha até a Praça Fernandes Vieira (hoje Gustavo Barroso), avançando mais além pela Francisco Sá apresentava um conjunto de luxuosas residências, todas em amplos terrenos e com dois pavimentos. 
Fábrica de Redes São José, ponto final do bonde do Jacarecanga
Depois da Praça do Liceu o bonde dobrava à direita na Avenida Philomeno Gomes, fazendo ponto final na calçada da Fábrica de Redes São José, próximo à linha do trem, nos fundos do cemitério São João Batista. 
O retorno era feito pelo mesmo circuito, adentrando a Praça do Ferreira pela Rua Major Facundo, dobrava na Rua Pedro Borges e chegava à Floriano Peixoto no seu terminal.
As linhas do Benfica e Prado, a exemplo da de Jacarecanga, seguiam o mesmo rumo até a Rua General Sampaio, onde dobravam á esquerda na esquina do Bar Americano e seguiam em frente até o final da General Sampaio, quando esta faz uma leve curva e passava a se chamar Avenida Visconde Cauipe. 
Bonde do Benfica
Os bondes do Benfica iam até um pouco além da Igreja dos remédios e de lá retornavam. Ladeando os trilhos dos bondes, muitas e suntuosas casas residenciais. 
Os bondes do Prado dobravam à esquerda na Avenida 13 de maio, na esquina do Palacete Gentil e seguiam até as imediações do atual Instituto Federal de Educação. 
Retornavam também pela mesma linha. 
    
fonte:
Royal Briar - a Fortaleza dos anos 40, de Marciano Lopes
O Liceu e o Bonde, de Blanchard Girão
fotos: Arquivo Nirez

2 comentários:

Anônimo disse...

Mesmo sem a tecnologia que temos hoje e que é muito bom,tenho a impressão de uma cidade mais civilizada e rica se observarmos alimpeza das ruas e a arquitetura das casas antigas .

Fátima Garcia disse...

As casas antigas não tinham as instalações hidráulicas e sanitárias com a mesma qualidade que temos hoje, mas acho que elas podiam ter o seu uso adaptado e as fachadas preservadas. Infelizmente não foi o que aconteceu, e o que teve de imóvel antigo, em ótimas condições de conservação, construidas com excelentes materiais que foram simplesmente demolidas, dá bem a dimensão da preocupação que (não) temos pela memoria e história da nossa cidade. Um dia mudaremos esse script (eu espero).