quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O Governo Franco Rabelo e a Sedição de Juazeiro - Parte 1/2

Em janeiro de 1912, setores da burguesia comercial e da sociedade civil, aliados a grupos oligárquicos dissidentes, derrubaram a oligarquia de Nogueira Accioly que há 16 anos dominava o Ceará. 
retrato de Franco Rabelo, acervo do Museu do Ceará 
Em conseqüência, foi eleito para governador o tenente-coronel Marcos Franco Rabelo. Um verdadeiro delírio tomou conta da cidade, o novo governador foi aclamado como o libertador. Grandes multidões compareceram às ruas para receber Franco Rabelo. 

Na Rua Formosa (atual Barão do Rio Branco) foi construído um arco, cujas colunas foram assentadas nas calçadas a fim de dar passagem a um cortejo. Em cada lado, um grande retrato à óleo pintado por José de Paula Barros, representando Franco Rabelo.    
A vitória nas urnas, no entanto, não foi suficiente para que o novo governador tomasse posse de imediato. 
Conforme a legislação da época, o novo governador precisava de um referendo de 16 dos 30 deputados estaduais, isso com a Assembléia Legislativa totalmente controlada pelos acciolinos. 
Assim, para tomar posse, Rabelo viu-se obrigado a negociar com seu adversário, Nogueira Accioly, que lhe daria apoio para ter o seu nome aprovado pelos deputados, em troca de duas das três vice-governanças do Estado (uma seria de Padre Cícero), vários cargos públicos na sua gestão e metade das 30 cadeiras da futura bancada da Assembléia estadual, a ser eleita em novembro de 1912. 
Passeata de apoio a candidatura Franco Rabelo à presidência do Estado (Arquivo Nirez)
Acontece que muitos deputados Acciolistas já tinham “mudado de lado” e se recusaram a assinar o acordo. Em conseqüência, apenas 12 deputados referendaram o novo governador, de modo que Franco Rabelo assumiu o poder contrariando a legislação vigente que previa 16 deputados.
O acordo com Accioly arranhou o brilho do novo presidente do Estado e propiciou o surgimento  de divergências entre os que o apoiavam. 
Os setores urbanos condenaram o pacto, visto como um conchavo político, mas mesmo assim mantiveram o apoio a Rabelo, afinal era preferível um governo salvacionista com medidas dúbias, à volta de Accioly com sede  de vingança.
Chegada de Franco Rabelo para assumir a presidência do Estado. O povo se concentra em frente à sede do Tiro de Guerra. (Arquivo Nirez) 
O apoio da população ao governador ficou evidente no episódio de novembro de 1912, quando a Assembléia Legislativa – cuja gestão terminaria em outubro do próximo ano e era formada majoritariamente pelos simpatizantes de Accioly – convocou uma sessão extraordinária com o propósito de cassar o mandato do governador, em virtude da ilegalidade da posse.
 A convocação gerou grande tumulto e revolta na capital. Correu o boato de que Nogueira Accioly poderia recuperar o cargo de presidente do Estado. No dia marcado para a reunião – 9 de novembro de 1912 – a população foi mobilizada. A redação do jornal Folha do Povo (porta voz dos governistas) transformou-se em verdadeiro paiol, repleta de armas de toda espécie e munição.
 O governador pedia calma às massas, clamando para que fosse mantida a paz e a ordem pública. Mas os setores urbanos não o atendiam e reagiam com ironia a tais apelos, afirmando estarem lutando pela vida, pois se Accioly retornasse ao poder, muitos deles seriam certamente assassinados, enquanto Rabelo retornaria ao Rio de Janeiro no gozo de alta patente militar. 
As ruas de Fortaleza encheram-se de pessoas armadas e o comércio fechou suas portas. Compareceram ao prédio da Assembléia – protegida por soldados do exército – apenas três deputados, ao quais acabaram vaiados, insultados e apedrejados. 
Grande concentração se formou na Praça do Ferreira. Em meio a exaltação dos discursos, ouviram-se gritos vindos da multidão – Às casas desses farsantes!”. Foi como atear fogo em palha. 
Após depor o oligarca em janeiro, populares rabelistas voltam a se rebelar em novembro de 1912: cavam trincheiras em frente à Assembléia Legislativa, impedindo a reunião de deputados aciolinos (Arquivo Nirez)
A massa enfurecida dirigiu-se ao Jacarecanga, onde saqueou, destruiu e incendiou as residências e fábricas de tecidos dos Accioly. O prédio do jornal O Unitário de João Brígido e a residência do Coronel Guilherme Rocha, intendente de Fortaleza, foram invadidos e depredados. 
O “Babaquara foi obrigado a mais uma vez, exilar-se no Rio de Janeiro. A polícia nada fez para reprimir a ira da população. A burguesia comercial de Fortaleza, embora pasma com os ataques à propriedade e com o clima de hostilidade, não retirou o apoio a Rabelo. 
Os oposicionistas, por sua vez, usaram o episódio para tentar desgastar a imagem do chefe do executivo cearense perante a opinião pública nacional, criando mais justificativas para a sua deposição.
Se na capital Franco Rabelo obtinha apoio incondicional da população, o mesmo não se podia dizer do interior. Ali era forte a oposição, especialmente em Juazeiro, onde Padre Cícero e Floro Bartolomeu eram aliados dos oposicionistas. 

fontes:
Fortaleza Descalça, de Otacilio de Azevedo
História do Ceará, de Airton de Farias

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