Episódio 1
Os Bares e os Sanitários Públicos
O problema da disponibilidade de sanitário público sempre foi muito sério.
Os bares e restaurantes tinham de arcar com essa prestação forçada de um serviço que deveria ser de responsabilidade do poder público.
O Bar da Brahma gerenciado pelos irmãos Sebastião e Omar Coelho, ficava na Rua Floriano Peixoto. Muitos eram os freqüentadores da Praça do Ferreira que utilizavam o sanitário do Bar da Brahma, já que não havia banheiro público no logradouro.
Aquilo irritava a gerência que, para dificultar a romaria dos usuários, trancava o banheiro. Para utilizá-lo o pretendente teria que solicitar a chave no balcão.
Mas ainda assim, havia problemas: os usuários, por distração ou por maldade, depois de usarem o banheiro levavam a chave no bolso.
Quase todo dia os irmãos Coelho tinham que mandar arrebentar a fechadura e colocar outra. Um dia, porém, encontraram uma solução: arranjaram um chifre de boi e nele prenderam a chave do banheiro.
A partir daí nunca mais quiseram levar a chave.
No tempo em que o velho Mercado de Ferro funcionava na Praça Waldemar Falcão, havia no local um banheiro malcheiroso e destratado, que ainda assim, servia a todo mundo.
Para tentar diminuir o forte odor de urina, o administrador do mercado mandou instalar uma torneira ligada a um cano estendido ao longo do mictório, com uns furinhos para jorrar água, que lavava o sanitário após o uso.
Um gaiato torceu o cano para cima de modo que quando a torneira era aberta, a água atingia a cara de quem estivesse usando o banheiro.
O boêmio Américo Pinto foi uma das vítimas desta brincadeira de mau gosto, mas não perdeu o humor e até aproveitou o incidente para fazer uma quadra:
Valha-me Nossa senhora
Que mictório indecente
Ao invés de se mijar nele
Ele é que mija na gente.
Episódio 2
A Barreira contra o Vicio
Barcovi era um freqüentador contumaz da Praça do Ferreira.
Era um desses moralistas empedernidos, apóstolo dos bons costumes, que levava a vida a combater os vícios do mundo e a importunar tudo quando era de fumantes, de bebedores, jogadores de baralho, de roleta.
O homem era tão chato que até relegou seu nome original e passou a se identificar por uma sigla: BARreira COntra o VIcio.
Certa tarde, nos anos 1950, num dos bancos da Praça do Ferreira, Barcovi viu um homem que fumava um cigarro atrás do outro.
Na verdade o homem acendia o cigarro no toco do que estava acabando. O Barcovi não perdeu tempo, aproximando-se do fumante inveterado, o militante contra o vicio estabeleceu o seguinte diálogo:
- estou observando o senhor há algum tempo e constato que o senhor é um adepto do tabagismo.
- É. O senhor, com certeza, é um bom observador. Gosto de fumar sim, e o faço há muito tempo.
- Há quanto tempo o senhor fuma? Posso saber?
- não estou bem certo, mas, acho que há uns 25 anos.
- o senhor sabe dos malefícios da nicotina, é claro. Mas falemos do bolso que é o lugar mais sensível do homem. Já calculou que, se tivesse economizado o dinheiro do cigarro, poderia ter construído um edifício como este? (e apontou para o prédio do Cine São Luiz, que acabara de ser inaugurado)
- Puxa é mesmo? – respondeu o fumante. E o senhor naturalmente não fuma, não é? E qual é a sua idade?
- Tenho 50 anos e nunca pus esse veneno na boca!
- somos da mesma idade. E como o senhor não fuma, deve ser o proprietário deste prédio!
- Não. Não sou. Ah, quem me dera!
- Pois eu sou. Meu nome é Luiz Severiano Ribeiro, o dono deste cinema.
Extraído do livro
Sábado – Estação de viver, de Juarez Leitão.
4 comentários:
Muito bons,bastante cearenses, os dois episódios.....o 2º, a gente poderia considerar um incentivo a fumo...né???
Histórias maravilhosas, tem eesse Ceará Moleque!!!!
Bom fim de semana!!!
obrigada Lucia
bjs
ivrExcelente esse seu blog Fatima.Muito bom.Vou sugerir como pesquisa para meus alunos.
Felidades.
George Yure
Obrigada George Yure, será ótimo ter novos leitores.
abs
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