quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Abastecimento de Água em Fortaleza – Chafarizes, Cacimbas, Carroças

Até o ano de 1827, a população de Fortaleza não fazia idéia do que fosse abastecimento de água. Muito antes, em 1812, durante o governo de Manuel Inácio de Sampaio - o Governador Sampaio (1812-1820), - havia sido celebrado um contrato entre o Conselho da Vila de Fortaleza e o tenente-coronel João da Silva Feijó, a fim de que fosse aproveitada uma das nascentes de água do seu sítio, localizado na Rua do Quartel (atual general Bezerril) para a construção do primeiro chafariz público.

Só com a assinatura das leis provinciais de 19 e 20 de setembro é que foi autorizado o inicio desse serviço em Fortaleza, por meio de chafarizes. Os primeiros estudos do projeto de abastecimento e distribuição de água foram iniciados pelo engenheiro Bertholt em 1861, com a autorização da Câmara Municipal.

No ano seguinte concedeu-se a José Paulino Hoonholtz privilégio por 50 anos, a fim de fazer o encanamento de água do seu sítio no Benfica, para chafarizes espalhados pela cidade, tendo sido celebrado o contrato em 27 de maio de 1863. 

Quatro chafarizes foram então construídos nas seguintes praças: da Municipalidade (atual Praça do Ferreira), Garrote (atual Cidade da Criança), Carolina (atual Waldemar Falcão) e Patrocínio (Marques de Herval e posteriormente, José de Alencar).

Os cataventos faziam parte da paisagem de Fortaleza - Praça Marquês de Herval

Avenida 7 de setembro construída e inaugurada pelo Intendente Guilherme Rocha. Antiga Feira Nova, antiga Praça Pedro II, atual Praça do Ferreira. foto de 1902.

Em 1834, Fortaleza possuía uma única cacimba. Assim é que foi autorizada a construção de uma cacimba de pedra e cal por detrás da Rua do Açougue. No ano seguinte foi autorizada a construção de nova cacimba dentro da existente no quintal da cadeia. 

Mais tarde a Câmara Municipal em sessão de 12 de novembro de 1837, autorizou a construção de uma cacimba na Travessa do Jacinto, para utilidade pública.
Depois outras cacimbas públicas surgiram no Garrote e Paiol da Pólvora, as quais eram guardadas pela policia para evitar depredações.

Em 1853 ficou decidida a construção de outra cacimba na Lagoinha, visto que a que existia no local não era suficiente.
No ano de 1867, uma companhia inglesa tentou organizar o serviço de abastecimento por meio de uma pequena rede distribuidora de água apanhada em cacimbas, de onde era captada por meio de bombas para dois reservatórios instalados no Benfica.

caixas d'água na Praça Visconde de Pelotas, no Benfica

Dali a água era canalizada para o centro da cidade, aproveitando-se o declive do terreno que facilitava o escoamento. Com a seca de 1877, as cacimbas secaram e o abastecimento teve que ser suspenso.

Após essa primeira tentativa que fracassou somente no governo Accioly, o Dr. João Felipe, em 1911, elaborou um projeto que não foi concretizado de imediato em razão da deposição do governador.

Mesmo assim haviam sido construídas duas caixas de água na Praça da Bandeira, com capacidade para 760.000 litros cada uma, além do estabelecimento de 42 km de canos pelas ruas. O prosseguimento dos trabalhos ocorreu em 1923, quando Ildefonso Albano contratou uma firma americana e o serviço de água e esgoto foi inaugurado em 1926, sem que se registrasse uma ampliação da área atendida pelo reservatório de Acarape.

Por isso a costumeira preocupação dos proprietários de imóveis com a instalação de cacimbas para atender as necessidades domésticas. Até 1926 a distribuição da água ainda era feito em lombos de jumentos, com depósitos de madeira.

imagem Diário do Nordeste
Algumas fontes se dedicaram a esse comércio, tornando-se depois conhecidas no mercado por terem ampliado a oferta por um grande número de vendedores avulsos que se lançaram no comércio ambulante. Nas residências das pessoas de grandes posses, e nas praças utilizavam-se os cataventos, em geral de fabricação norte-americana. Eram colocados juntos dos cacimbões, e regavam gramados e pomares, sem ter dificuldades de água para o consumo humano.

Com o passar do tempo e chegada evolução no ramo, não mais se vendia a água nas ancoretas carregadas por jumentos, mas, substituídas por carroças conduzindo grande pipa (pintada com tinta verde) puxada por burros. A origem da água distribuída pelas carroças era proveniente de poços localizados nos bairros da Floresta, Itaoca, Pirocaia e Benfica.
Com a implantação do sistema de distribuição da água do Acarape – (Rio Acarape, Gavião ou Acarape do Meio), a cidade passou a receber água tratada, ainda que o beneficio só alcançasse, no inicio, uma pequena parcela da população.


Fotos: Arquivo NIREZ
Fonte:
JUCÁ, Gisafran Nazareno Mota. Verso e Reverso do Perfil Urbano de Fortaleza (1945-1960). São Paulo: Annablume; Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto do Estado do Ceará, 2000.
MENEZES, Raimundo de. Coisas que o Tempo Levou: crônicas
históricas da Fortaleza antiga. Introdução, Sebastião Rogério Ponte. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2000.

2 comentários:

Lúcia disse...

Adorei a matéria. Agora, fiquei curiosa pra saber onde é essa praça Visc. de Pelotas,no Benfica que está na foto onde aparecem as duas caixas d'agua...que são idênticas as que ainda existem na pç. Clóvis Beviláqua, antiga Pç. da Bandeira, citada tmb. aí na postagem.
Acho lindo o burrico carregando os tonéis, mas "morro" de pena...já sentia essa "pena" qnd os via na minha infância....(saudosismo puro!!).. e a Fátima é a culpada!

Valeu, Fátima, até porque o assunto é "água"...nosso mais precioso líquido!

Beijos!

Fatima Garcia disse...

sabe que eu também fiquei com essa dúvida com relação aos reservatórios, principalmente porque eu também não sabia onde era essa praça Visconde de Pelotas. Mas trata-se do velho troca-troca de nomes dos logradouros da nossa estimada Fortaleza bela. A visconde de pelotas virou Praça da bandeira que virou Clovis beviláqua. Mas o dilema persiste: a praça clovis beviláqua é no benfica? não seria no centro? oh dúvida cruel