terça-feira, 21 de setembro de 2010

Café Riche

Sobrado do Comendador Machado, demolido para a construção do Excelsior Hotel. No andar térreo funcionava o Café Riche. Nos andares superiores, o Hotel Central.
 
O Café Riche – de propriedade de Alfredo Salgado e Luis Severiano Ribeiro – foi inaugurado em 21 de setembro de 1913, na esquina da Rua Major Facundo com Guilherme Rocha. Ocupava o andar térreo do sobrado onde nos pavimentos superiores se instalara, dias atrás, o Hotel Central.
O edifício onde funcionavam o café e o hotel era o sobrado mandado construir em 1825, pelo Comendador José Antonio Machado. A construção foi confiada ao engenheiro e coronel Conrado José de Niemeyer.
A construção do sobrado derrubou um mito: na época existia a crença de que aquelas areias frouxas, no solo arenoso de Fortaleza não suportaria uma construção com mais de um pavimento, razão pela qual a decisão de construir foi considerada temerária; até os pedreiros se mostravam receosos, mas foram obrigados a levantar a obra com o auxilio dos presos da Cadeia do Crime.
O café Riche tinha boas instalações, bom atendimento e relativo luxo, razão por que ia vendo sua clientela aumentar a cada dia. Uma roda de intelectuais promovia reuniões e discutia sobre literatura francesa, inglesa, espanhola, clássicos universais, recitava versos e discorria sobre os problemas da cidade.
Além dos literatos, o lugar atraía estudantes, jornalistas e homens de negócios. Um dos frequentadores mais assíduos era o poeta Quintino Cunha. Orador fluente, tinha sua clientela embora não a procurasse; suas participações no tribunal do júri eram lendárias, seus apartes eram tidos como inimitáveis. Quintino Cunha saltitava de mesa em mesa e fazia do Café Riche seu escritório de advocacia.
Para maior bem estar da freguesia eram colocadas, à tarde, mesinhas desarmáveis num tablado que avançava contra a Rua Major Facundo, cobrindo o meio-fio, ampliando a calçada. As mesas internas eram de mármore, oitavadas e de tripés de ferro prateado.
De repente o Café Riche começou a decair, ao ter suas mesas invadidas por malandros e pessoas de menor aceitação. Os clientes tradicionais debandaram em busca de novos espaços, e o café fechou suas portas em 1926.
Um ano depois, em 1927, foi demolido o sobrado do Comendador Machado, que já se encontrava na posse e domínio do capitalista Plácido de Carvalho, que ergueu no local o Excelsior Hotel, inaugurado no ultimo dia do ano de 1931

Fonte e foto do sobrado:
GIRÃO, Raimundo. Geografia Estética de Fortaleza. Fortaleza: Imprensa Universitária, 1959.

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