domingo, 5 de setembro de 2010

Diário do Governo do Ceará, o Primeiro Jornal do Estado

O Diário do Governo do Ceará, apontado como o primeiro jornal do Estado
Oficialmente a imprensa escrita no Ceará, tem como marco histórico o lançamento do Jornal Diário do Governo do Ceará, no dia 1° de abril de 1824. O embate político, com forte caráter opinativo, dava o tom do impresso logo na primeira edição. O protesto era contra o autoritarismo do Imperador D. Pedro I, que havia dissolvido a Assembléia Constituinte cinco meses antes. Além do protesto, o primeiro número anuncia ainda a sua criação, a contratação de funcionários e a instalação de uma tipografia.
Em pouco tempo o jornal deixou a condição natural de porta voz do governo para transformar-se em peça de artilharia da campanha por um Nordeste independente. Estava em andamento a Confederação do Equador, movimento que defendia a emancipação de algumas das províncias do Nordeste do poder imperial.
O Diário do Governo do Ceará tinha como redator-chefe o padre Gonçalo Inácio de Albuquerque Mororó, um dos líderes do movimento. Logo o jornal se tornou um difusor das idéias revolucionárias.
Além do caráter político, estruturado no principio do liberalismo radical, o jornal trazia pequenas crônicas, algumas notícias econômicas, notas sobre o comércio e sobre pessoas importantes da cidade.
Não tinha o formato nem a estrutura dos jornais que conhecemos hoje, e tinha caráter educativo. Naquele tempo boa parte da formação política era feita pelo jornal, mas o impresso chegava a uma minoria da população, dado o grande número de pessoas sem alfabetização.
A maior parte dos números do Diário do Governo do Ceará se perdeu, devido, provavelmente, à queima dos documentos que envolviam a Confederação do Equador, por determinação das autoridades monárquicas.
Com o fim o movimento revolucionário, o jornal entra em uma segunda fase, com outra orientação política, subordinada ao Governo de Dom Pedro I. O governo acreditava que aquela linha de conspiração, de rebeldia seguida pelo jornal poderia ser corrigida.
E foi de fato.
Sobre a Confederação do Equador
Foi um movimento revolucionário contra o Imperador Dom Pedro I.
Passado pouco mais de um ano da proclamação da independência, Dom Pedro I passou de defensor a traidor da Brasil, com um conjunto de medidas autoritárias.
Em novembro de 1823 dissolve a Assembléia Constituinte por discordar das limitações que seriam impostas aos poderes do imperador.
Em março de 1824 instaura o Poder Moderador na primeira Constituição do País.
A Confederação do Equador foi a principal reação contra essa política centralizadora. Teve origem na Província de Pernambuco com adesão do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba.
Os revolucionários pretendiam organizar uma nação independente do Brasil. Dom Pedro I enviou para o Nordeste tropas contratadas no exterior.
O movimento resistiu até dezembro de 1824.
Sobre o Padre Mororó
Filho de uma família ilustre, Gonçalo Inácio de Loiola de Albuquerque Melo, nasceu em 24 de julho de 1778, na então Vila de Sobral, distante 230 quilômetros de Fortaleza.
Estudou Gramática Latina e fez parte da primeira turma do Seminário de Olinda, que segue orientação iluminista e influencia na formação de idéias anti-absolutistas numa geração de jovens.
No seminário teve como colegas Frei Caneca, Padre Miguelino e Padre João Ribeiro, participantes da Revolução Pernambucana de 1817 e da Confederação do Equador, em 1824.
Durante a Confederação, Gonçalo substituiu o sobrenome Melo Por Mororó, nome de uma planta cearense.
Foi autor de artigos e manifestos que ganharam fama em uma cidade em que muitos não conheciam as letras. Por sua participação na Confederação do Equador, foi preso, condenado e fuzilado no dia 25 de abril de 1825, no Campo da Pólvora, atual Passeio Público.

Fonte:
Revista Fortaleza, Fascículo 11

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