quinta-feira, 28 de junho de 2012

As Antigas Padarias

Não tinha muita lógica. A água não era boa, mas o pão era excelente, elogiado por todos. Tão bom quanto os melhores do Brasil, diziam. No entanto, o pão fabricado em Fortaleza perdeu a qualidade. Está longe de ser o que foi, leve, saboroso e de bom aspecto. 

Padaria Ideal
Inaugurada em 1925, a Padaria Ideal funcionou inicialmente na Rua Barão do Rio Branco. Depois foi vendida e mudou-se para a esquina da Rua Guilherme Rocha com a Avenida do Imperador. 

Não seriam muitas as padarias de Fortaleza nas duas primeiras décadas deste século. Talvez não chegassem a uma dúzia, mas o pão era de boa qualidade. Havia a Padaria Aveirense, a Palmeira,  a Industrial, a Fábrica Aliança – movida a vapor e talvez por isso, a primeira a se designar fábrica – e a tradicional Santo Antônio, de Emilio Sá, na Rua do Livramento (atual Clarindo de Queirós) , a única de propriedade de cearenses, pois as demais pertenciam a portugueses e italianos.

Padaria Palmeira
A Padaria Palmeira funcionava na esquina das ruas Senador Pompeu com Guilherme Rocha, para onde mudou-se em 1923. Pertencia a firma Ferreira da Silva & filho. Além da panificação atuava também no ramo de torrefação com o Café Palmeira.
     
Em Parangaba havia a Padaria Natalense, de José Pedra, crioulo forte simpático, que além do pão fabricava à tarde umas rosquinhas de grande procura, principalmente nas festas de Bom Jesus, em dezembro.  Diziam que o segredo das rosquinhas vinha do uso da água da lagoa vizinha. O fato é que nenhum outro estabelecimento de Fortaleza chegou a imitar a deliciosa iguaria fabricada pelo Zé Pedra. 

Padaria Imperial
A Padaria Imperial de Antônio Escudeiro de Almeida e José Antônio da Silva, foi fundada em 1923, na Avenida Visconde do Rio Branco. Em 1934 passou a pertencer ao grupo de M.Dias Branco.  

Nos velórios daqueles tempos era costume dos presentes irem buscar na padaria mais próxima, de madrugada, os pães quentes para matar a fome dos que “faziam o quarto”. Os mais afamados eram os pães sovados da Padaria de Emilio Sá. Na Rua 24 de maio instalou-se na década de 1910 a padaria do português José da Silva Bottas,  que pôs o nome de Padaria Biju. A designação dava margem a comentários. Teria o proprietário aportuguesado a palavra francesa ou usado apenas uma variante de beiju? O certo é que os pães a Biju eram gostosos e as famílias freguesas recebiam de brinde no Natal um bonito e enfeitado pão doce, especialmente fabricado para a época. 

Padaria Lisbonense
Em 1875 surgiu a fábrica de produtos alimentícios que deu origem à Padaria e Confeitaria Lisbonense.  A Lisbonense foi fundada em março de 1916, por Pelágio Rodrigues de Oliveira, José Teixeira de Abreu e Abílio Rodrigues de Oliveira. Em 20 de abril de 1927, passou a funcionar na Rua Pedro Borges, 151/57. Encerrou suas atividades em 10 de outubro de 1983, sob a acusação de estar poluindo o centro da cidade.

Também houve um tempo em que começou a aparecer a tarde o chamado pão do chá. Eram pães especiais, vendidos em latas carregadas pelos padeiros que o apregoavam – olha o pão do chá! – bem apresentados, ainda quentes e nos baús de lata pintados de verde. As famílias ficavam à espera dos pães para o café da merenda, que nunca era chá, que ninguém estava doente...
Os pães da tarde, fabricados com esmero por duas ou três padarias eram de três tipos: o pão do chá, o pão suíço e o pão de leite. Também havia o pão-baliza que dava margem a trocadilhos pitorescos.
Certa vez um desses entregadores de pão da tarde propiciou uma cena tragicômica. Passou anunciando mais tarde do que no seu horário habitual:
- pão de leite, suíço e doce.
Devido a meia língua do vendedor novato e o pregão fora de hora, uma senhora entendeu que era o grito de um gazeteiro, anunciando que o “Padre Leite suicidou-se”, e tratou de espalhar a noticia.
Quanto ao pão da manhã era entregue em domicilio pelos padeiros que o conduziam ao ombro em grandes cestos de vime que arriavam e levantavam, numa rápida e habilidosa operação. 

Padaria Americana
A Padaria Americana foi instalada na Rua General Sampaio, quando o proprietário João Otávio Vieira Filho, transferiu o estabelecimento de Aracati para Fortaleza em 1880. Foi a primeira fábrica de biscoitos e bolachas do Ceará.  

Mas nem só de pão viviam os cearenses da capital. Havia as bolachinhas de manteiga, e de coco; havia ainda os pães-doces, pequenos ou artisticamente desenhados;  e havia o já mencionado pão sovado (Provença), de formato curioso a que Pedro Nava chamou de pão de Provença, em forma de bundinhas e que se dividia separando as duas nádegas.
Curiosas eram também as bolachas fogosas, grandes, redondas e grossas, um tanto maçudas, mas apreciadíssimas no café da manhã. Essas bolachas não eram fabricadas regularmente  embora tivessem muita procura. 
Todos esses produtos há muito deixaram de ser fabricados em Fortaleza.  O que temos nos dias atuais, é o manjado pãozinho com bromato:  grande, oco, seco, só casca, que se esfarela ao ser tocado.


Extraído do livro
Fortaleza de ontem e anteontem, de Edigar de Alencar
      

20 comentários:

Paulo Castelo Branco disse...

Muitas padarias do passado de Fortaleza foram compreensivelmente omitidas neste importante trabalho de evocação da cidade. Eu próprio me lembro de algumas e de seus nomes, mas, não consigo recordar os de outras. Lembro-me da Padaria Confiança, que ficava na Avenida João Pessoa fazendo esquina com a atual Rua Ceará; lembro-me ainda de uma pequena padaria (cujo nome não lembro) que ficava à Rua Senador Pompeu "do lado do sol", entre a Rua Clarindo de Queiroz e a Rua Meton de Alencar; lembro-me da Padaria Duas Nações (afamada também pela comercialização de sua exclusiva "Bolacha Ceci") que ficava na esquina sudoeste da Rua Barão do Rio Branco com a Rua Castro e Silva (exatamente na casa onde no final do século XIX/começo do século XX viveu Dona Maria Tomásia, hoje, nome de rua); lembro-me ainda da Padaria Modelo que existiu, creio, até os anos 1980 (à Rua General Sampaio, lado do "sol", entre a Rua Castro e Silva e Rua Senador Alencar ou entre esta e a Rua São Paulo); ainda uma outra cujo nome não me recordo que ficava na Avenida do Imperador, no centro da cidade e que perdurou até há alguns anos atrás; também lembro a Panificadora Central, que ficava à esquina sudoeste da Avenida 13 de Maio e a Rua Floriano Peixoto (hoje ocupado o terreno pelo Habib's); sem esquecer que a Padaria Ideal da Praça da Lagoinha abriu, por um pequeno período, uma pequena filial (na realidade, só comercializava, não fabricava no local) na esquina sudoeste da Rua Senador Pompeu com a Galeria Professor Brandão; sem esquecer que, tanto a Fábrica Fortaleza de Manoel Dias Branco (Rua João Cordeiro, Meireles) e a Nebran (Rua Senador Pompeu, onde hoje se situa o FB Júnior) tinham "lojinhas" ao lado das fábricas para comercialização de seus produtos. Um detalhe: a Padaria Americana citada na matéria ficava mesmo era na então Avenida Visconde de Cauípe (hoje, Avenida da Universidade), no prédio que hoje tem o número 2257. Havia ainda, claro, outras pequenas padarias de bairro desconhecidas para mim... Citei as bairristas Padaria Confiança e Panificadora Central porque as frequentei, como cliente, por longos anos.

Anônimo disse...

Meu bisavô português da família Brilhante, veio morar em Fortaleza - CE, Brasil em torno de 1870 e colocou uma padaria na esquina da atual Av. Santos Dumont com a rua 25 de março. Próxima à Escola Normal, Colégio Imaculada, etc. Ainda não encontrei referência a essa padaria em nenhum estudo histórico sobre o assunto.
Alguma dica?
L.Vidal (datafonte@yahoo.com)
14 de fevereiro de 2018

Unknown disse...

Gostaria da foto da padaria confiança, João Pessoa, com rua Ceará

Unknown disse...

Tem como mostrar a padaria confiança que ficava na rua Ceará com João pessoa na esquina

Alex disse...

Faltando tambem a padaria Nogueira que fica na R. Pe. Pedro de Alencar em Messejana que funciona desde 1938

Alex disse...

www.panificadoranogueira.com.br/

Unknown disse...

Gostaria de ver a Antiga padaria confiança

Unknown disse...

Tem como mandar uma foto com história dela pelo meu email?

Unknown disse...

também gostaria,trabalhei lá

Eudes Baima disse...

Alguém teria uma foto da antiga Padaria Confiança, situado na Av. João Pesoa?

Eudes Baima disse...

Alguém teria uma foto da antiga Padaria Confiança, situado na Av. João Pesoa?

Eudes Baima disse...

Alguém teria uma foto da antiga Padaria Confiança, situado na Av. João Pesoa?

José D. Cavalcante disse...

Do seu Manoel Cardoso

Unknown disse...

Costaria de ve foto da padaria fabripam na av mosenhor tabosa

Anônimo disse...

E a padaria continental que ficava na pedro pereira com padre ibiapina, na jacarecanga. Alguem tem foto, hj la é uma sede de ensino.

Anônimo disse...

A padaria confiança abria de madrugada e matava a fome dos frequentados do clube romeu martins qdo acabava a festa.

Ana disse...

Sou aluna da universidade de Coimbra e estudo a panificação de Fortaleza. Gostaria de conversar com pessoas que tenham fotos ou saibam informações sobre o surgimento das mesmas. Podem ser familiares, ex-funcionários, clientes etc... meu contato é karol.olicost@gmail.com

Anônimo disse...

Faltou a padaria globo

Eudes Baima disse...

Exato. Os farristas do Romeu iam comer lá após as festas. O povo contava que, nos anos 70, Seu Manuel Português mandou arrancar as portas do estabelecimento.

Cristóvão Jackson disse...

A padaria confiança foi o primeiro estabecimento comercial na cidade de Fortaleza a funcionar 24 horas, minha mãezinha trabalhou no local nas décadas de 70 e 80.