segunda-feira, 11 de junho de 2012

Comunidade Aldaci Barbosa



Ate  meados da década de 1930, início dos anos 40, o aglomerado urbano de Fortaleza se resumia basicamente ao perímetro formado pelos Boulevards planejados  por Adolfo Herbster na Planta da Cidade de Fortaleza e Subúrbios em 1875 – as atuais avenidas D. Manuel, Imperador e Duque de Caxias.  
Na década de 1930, uma grande seca provocou, mais uma vez, a expulsão de sertanejos, que viam como única chance de sobrevivência, a migração para a Capital,  enquanto as  autoridades locais tentavam impedir, a todo custo a entrada desses retirantes.
No interior onde havia estrada de ferro, eles eram confinados para não viajar para Fortaleza. Os que conseguiam burlar a vigilância e chegavam à capital, eram presos e isolados nos dois campos de concentração existentes em Fortaleza: um deles era o Arraial Moura Brasil, que ficou conhecido por “Curral”. Mas, a migração para Fortaleza continuava,  mesmo depois de passadas as fases mais críticas da estiagem.  



As primeiras favelas surgiram em Fortaleza já na década de 1930, em consequência principalmente das grandes secas, que provocaram o crescimento das migrações para a capital. A população desassistida foi se instalando em barracos próximos à ferrovia, às indústrias, à zona de praia e às margens dos rios, áreas desprezadas pelos grupos sociais de maior poder aquisitivo.
Com a construção, no início da década de 1940, do ramal ferroviário ligando a Parangaba ao porto do Mucuripe, muitas famílias viram nas margens da ferrovia, uma oportunidade de construir sua moradia em terras sem dono, que ninguém reclamava. Surgia assim o embrião das atuais comunidades que se encontram ao longo da linha do trem.  Uma dessas comunidades é a Aldaci Barbosa.


Localizada no Bairro de Fátima, em frente a Avenida Borges de Melo, a comunidade seria atingida em cheio pelo projeto do VLT, uma vez que seria construída uma estação no local, o que iria provocar  retirada das casas. Mas depois de muita resistência por parte dos moradores, a estação mudou para o outro lado da avenida,  numa área em frente  à antiga localização, entre a Avenida Borges de Melo e a Rua Francisco Lorda, o que reduziu o número de casas desapropriadas: de 250 para 20. A mudança foi anunciada no último dia 12 de março, no site do METROFOR.


A comunidade Aldaci Barbosa foi uma das primeiras a resistir contra as remoções do VLT e até hoje tem se negado a colaborar com o governo. Por conta disso, no dia 02 de agosto de 2011, o governador Cid Gomes foi protagonista de uma atrapalhada operação de intimidação  à comunidade, levada a cabo à noite, e sem aviso prévio, com o intuito de pressionar os moradores a aceitarem a remoção. 
Acompanhado de secretários, assessores e um batalhão de seguranças (até o comandante-geral da Polícia Militar estava lá!), Cid tentou percorrer casa por casa, conversando com moradores a portas fechadas. Mas a tentativa de intimidação pegando a comunidade desprevenida virou uma grande confusão,  verdadeiro vexame! 
Não demorou muito e moradores de outras comunidades ameaçadas pelo VLT, militantes de organizações políticas e de movimentos sociais se uniram aos moradores da Aldaci. Diversos meios de comunicação mostraram o governador  sendo expulso da comunidade de forma humilhante, sob uma chuva de vaias e aos gritos de “terrorista” e “ditador, respeite o morador!”



A resistência deu certo: as casas continuam marcadas, com a tinta verde que identifica os imóveis que serão removidos. Mas a Comunidade Aldaci Barbosa continuará onde está.


fotos Rodrigo Paiva
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