domingo, 1 de julho de 2012

Os Primeiros Cinemas

Como em outros centros, o cinema do Ceará foi precedido de várias demonstrações de projeções luminosas, exibições primitivas de bioscópios, fantascópios, animatógrafos. Gustavo Barroso fala no Estereopticon, da empresa Cabral e Cia., que também teria funcionado no prédio da Casa Palhabote. Em 1907 também houve exibições cinematográficas no teatrinho do Clube Iracema, promovidas pela empresa Oliveira e Coelho. 

 Salão principal do Clube Iracema, em cujo teatrinho foram exibidos alguns filmes no ano de 1907 

Mas cinema, cinema mesmo, quem o introduziu no Ceará foi o cidadão italiano Vittorio di Maio, que se tornou conhecido em Fortaleza, onde chegara em 1907, como Vitor di Maio.  Ele, que já no século XIX, dez ou doze anos antes, teria instalado o primeiro cinematógrafo no Rio, instala no ano de sua chegada à capital cearense seu animatógrafo na parte dos fundos da Maison Art Nouveau, isto é, na Rua Municipal (atual Guilherme Rocha). De instalações modestas, o Cinema di Maio foi a casa pioneira da arte cinematográfica no Ceará.

 Rua Ou Travessa Municipal (atual Rua  Guilherme Rocha em foto de 1925) onde se instalou o Cinema Di Maio em 1907. 

O salão era dividido ao meio por uma grade de madeira que separava a primeira classe, mais distante, e a segunda, mais próxima da tela. Bancos duros na “geral”. Havia enchentes aos domingos e às vezes ficavam espectadores de pé, provocando protestos e reclamações para que tirassem os chapéus.
Os preços eram mil réis a primeira classe e quinhentos réis a segunda. Caros para a época. Os   filmes eram franceses e italianos, de curta metragem. Havia na programação sempre um ou dois filmes naturais, muito panorâmicos e parados. Completava o programa uma ou duas fitas de maior extensão, e para o fecho, uma comédia.

    Na Rua Barão do Rio Branco, antiga Rua Formosa, Henrique Mesiano inaugurou o Cinema Rio Branco em 1909 - foto de 1910 
 
Em 1909 o comerciante Henrique Mesiano inaugura o Cinema Rio Branco, na rua do mesmo nome, quase na esquina  da Assembleia. E logo a seguir Júlio Pinto oferece ao público o cinema Casino Cearense.  No cinema Rio Branco instalado com mais capricho, havia uma boa orquestra, por muito tempo dirigida pelo maestro Luigi Maria Smido. No programa distribuído aos frequentadores constavam as músicas a serem executadas pela orquestra. As sessões noturnas eram duas vezes. A última sessão, quase sempre a de frequência mais distinta, era chamada de “Soirée Chic” ou “Soirée das Rosas”.
Por algum tempo, o Rio Branco foi o mais prestigiado dos cinemas da capital. Fez temporadas de grande êxito com seriados. Aos domingos havia matinê infantil, às 6 horas com programas especiais e muita algazarra. Também passavam filmes policiais, com crimes e bandidos em profusão. Não havia restrição a menores, o público era formado por todas as idades. 

 Rua Major Facundo em 1930, com o prédio do cine-teatro majestic Palace, inaugurado em 1917 

O Casino Cearense (Cinema Júlio Pinto) era de instalações mais modestas, mas num amplo salão. A projeção era feita na parede. Nos primórdios o Casino teve orquestra, na sala de espera inclusive. Depois passou a ter apenas uma pianista na sala de projeção.
Tanto o Di Maio como o Rio Branco e o Júlio Pinto possuíam na fachada campainhas estridentes que anunciavam o início e o término das sessões. O Di Maio manteve algum tempo um realejo martelante.
Com a morte do proprietário, o Cinema Di Maio passaria mais tarde por uma reforma e receberia nova denominação: Cinema Riche, de Luiz Severiano Ribeiro e Alfredo Salgado. Marcava o modesto cinema de Fortaleza a entrada no mercado cinematográfico  de Luiz Severiano Ribeiro, que viria a ser um dos maiores exibidores do Brasil, chegando a possuir mais quarenta cinemas só no Rio de Janeiro.
Em 1911 apareceu outra casa de espetáculos que marcaria época. Foi o Cine-teatro Politheama, da empresa Rola  e Irmão. Casa montada com certo bom gosto, no coração da cidade, isto é, no meio do quarteirão mais importante de Fortaleza, na Praça do Ferreira. Quando surgiu oferecendo maior conforto o Politheama logo se tornou  o principal cinema da cidade. Exibiu grandes filmes e lançou no Ceará das fitas norte-americanas da William Fox Corporation. 

 O Politheama e o Majestic foram instalados na Praça do Ferreira em 1911 e 1917, respectivamente

Os cinemas se mantiveram heroica e milagrosamente com duas sessões de segundo a sábado e três aos domingos, incluindo a vesperal infantil. Nesse período apareceu ainda outro cinema, localizado na Rua Floriano Peixoto, esquina da Praça do Ferreira. Denominava-se American-Kinema e teve vida efêmera.
O cinema em Fortaleza não foi pelo menos até 1930, um hábito arraigada da população. Contava-se aos milhares as pessoas que, mesmo residindo no centro, jamais entraram num cinema!  Nunca foi possível até então os cinemas funcionarem à tarde. E mesmo as sessões noturnas só eram concorridas aos sábados, domingos e feriados, ou nas exibições de seriados ou de filmes sacros.

 Praça do Ferreira, década de 1920, com o prédio do Cine Moderno

Nos primeiros anos da década de 1920 houve uma espécie de guerra dos cinemas, que resultou que alguns deles como o Rio Branco e o Júlio Pinto baixassem os preços que chegaram até 100 réis, isto é, um tostão.  Mesmo assim o cinema não se popularizou como deveria acontecer numa cidade de 70 a 80 mil habitantes, sem teatros funcionamento regularmente e sem outra diversão a não um ou outro circo, que aparecia esporadicamente, que geralmente armava sua lona na Praça da Lagoinha ou da Estação.
Depois do Politheama, que teve seus dias de gloria como teatro inclusive, surgiu em 1917 o Majestic, de Plácido de Carvalho. Localizado na Praça do Ferreira, no prédio mais alto da cidade e em posição privilegiada, o cinema-teatro era moderno, grande e confortável, tirando o Politheama da competição e se tornando o cinema preferido da cidade.

Praça do Ferreira em 1919, com o Café Elegante e ao fundo o prédio do Cine-teatro Majestic palace

O Majestic abrigou várias companhias teatrais e foi inaugurado pela transformista Fátima Miris a 14 de julho de 1917. Na sua  vasta sala de espera havia um grande quadro de Francesca Bertini, pintado pelo artista cearense Raimundo Siebra.
Houve uma fase que o cinema de Fortaleza foi submetido a um truste, passando a funcionar em circuito, o mesmo filme era exibido pelos três cinemas. Depois do Majestic foi inaugurado pela mesma empresa o Cine-Moderno, que logo se tornou o principal do estado. À sua última sessão de domingo acorrida toda a sociedade de Fortaleza, que antes comparecia à retreta no Passeio Público. Antes das nove horas, o mundo elegante abandonava o velho logradouro e desembocava pela Rua Major Facundo, desfilando pelas inúmeras rodas da calçada das residências dos sírios, rumo ao Moderno.
Por preguiça, comodidade ou até por motivos de ordem econômica, o cinema até 1926 pelo menos, não chegou a ser diversão nem popular, nem efetiva da cidade. 

fotos do Arquivo Nirez
pesquisa:
Fortaleza de ontem e de anteontem, de Edigar de Alencar

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