quarta-feira, 25 de julho de 2012

Os Frequentadores do Café Riche


Sobrado do Comendador Machado, demolido para a construção do Excelsior Hotel. No andar térreo funcionava o Café Riche. Nos andares superiores, o Hotel Central.

Fossem  nas grandes capitais ou em pequenas cidades, os cafés e bares eram pontos de encontro e muita conversa fiada em torno dos mais variados assuntos, alguns de grande outros de nenhuma importância. Por outro lado as constantes modificações nos hábitos urbanos contribuíram para o desaparecimento dos cafés, espaços de alta expressão na vida das cidades, como foco de debates de ideias, de comentários políticos e às vezes de mexericos sociais.


Café Iracema, na Praça do Ferreira, um dos muitos cafés existentes no centro de Fortaleza naquela época. 

E a exemplo do que ocorria em outros capitais, Fortaleza também teve os seus cafés. Um dos mais famosos foi o Café Riche, situado na esquina mais famosa da cidade, em plena Praça do Ferreira, na Rua Guilherme Rocha, no sobradão  quase centenário  que fora do Comendador José Antônio Machado e servira por muito tempo de sede á firma G. Gradvohl & Fils, exportadores.


Cruzamento das Ruas Guilherme Rocha com a Major Facundo, onde no térreo do sobrado, funcionava o Café Riche.

Inaugurado em 1913, pertencia a uma sociedade constituída por Luis Severiano Ribeiro e Alfredo Salgado. Arrendado a terceiros, o Café Riche tinha restaurante contíguo que pertencia à firma Ramon e Jucá. Ramon era um garçom espanhol que  fixara residência em Fortaleza. Conhecedor do ramo e homem de iniciativa, depois se tornaria bastante conhecido por outros empreendimentos, como os restaurantes à beira-mar de que foi o precursor. Seu sócio era José de Castro Jucá, que por muitos anos foi o gestor da parte comercial da companhia de bondes, depois Light and Power.


Rua Floriano Peixoto. O centro de Fortaleza mudou bastante ao longo do tempo

O restaurante do Riche era bem frequentado, principalmente na hora do almoço. Tinha apreciável cozinha, e no centro comercial era o preferido dos moços mais abastados do comércio e de comerciantes. Claro que a grande maioria da gente do comércio residia nas ruas centrais e quem morasse mesmo nos bairros como Benfica e Fernandes Vieira, tinha tempo de sobra para almoçar em casa e pegar a parte de bar ou café do Riche e do Art-Nouveau.  


Quarteirão da Rua Major Facundo na Praça do Ferreira, na esquina ficava o "Maison Art-Nouveau", inaugurada em 1907. 

O caso é que a parte de bar ou café do Riche devia dar grande prejuízo.  Os papos ruidosos e animados eram mantidos  diariamente na meia hora que sobrava do almoço. Então o Riche se enchia de fregueses, que nada consumiam, e iam até ali para discutir assunto de clubes, diversões, cinema, politica, e novidades. Era o fino  da mocidade do comércio ou estudantes que ali se sentavam diante das mesas oitavadas, de mármore cinza. Os estudantes, literatos e doutores eram mais do horário da tarde.
Gloriosas eram as tardes do Café pela frequência de literatos. A fidalguia, a hospitalidade do Café Riche chegava ao ponto de existir numa espécie de puxada do salão que se estendia por toda a calçada larga invadindo a coxia coberta de madeira. Cheia de mesas,   quando o sol caía e a brisa vinda das bandas do passeio  público soprava, a calçada se transformava num verdadeiro conclave de literatos.


No cruzamento da Guilherme Rocha com Floriano Peixoto, nos baixos do Sobrado do Pastor, funcionou o Café Globo

Comerciantes e empresários de destaque, de vem em quando se agrupavam no salão do Café Riche, também pelo cair da tarde. Um grupo de estrangeiros e descendentes radicados na terra, no inicio da Primeira Guerra, fundou o Clube dos Aliados. Numa tarde vários integrantes do clube bebericavam seus uísques e gins, quando entra Quintino Cunha, que sem os avistar dirige-se à Tabacaria que ficava no centro do salão. Quintino com seu vozeirão pede:  – me dá uma carteira de Aliados.
O grupo estrangeiro, conhecendo as convicções germanistas do poeta, aproveita a deixa:
Quintino, você aderiu! Fumando Aliados!
E o poeta sem titubear:  – são os mais fracos!
O café Riche encerou as atividades no dia 31 de dezembro de 1923. O Diário do Ceará, de 3 de janeiro de 1924, deu uma nota bem circunstanciada a respeito da ocorrência, uma nota escrita com tons literários sob o título: : “cerrou as portas o Café Riche”. O café famoso durara menos de dez anos.


fotos do Arquivo Nirez
Extraído do livro
Fortaleza de Ontem e de Anteontem, de Edigar de Alencar     


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