Sobrado do
Comendador Machado, demolido para a construção do Excelsior Hotel. No
andar térreo funcionava o Café Riche. Nos andares superiores, o Hotel
Central.
Café Iracema, na Praça do Ferreira, um dos muitos cafés existentes no centro de Fortaleza naquela época.
E a exemplo do que ocorria em outros capitais, Fortaleza
também teve os seus cafés. Um dos mais famosos foi o Café Riche, situado na
esquina mais famosa da cidade, em plena Praça do Ferreira, na Rua Guilherme
Rocha, no sobradão quase centenário que fora do Comendador José Antônio Machado e
servira por muito tempo de sede á firma G. Gradvohl & Fils, exportadores.
Cruzamento das Ruas Guilherme Rocha com a Major Facundo, onde no térreo do sobrado, funcionava o Café Riche.
Inaugurado em 1913, pertencia a uma sociedade constituída por
Luis Severiano Ribeiro e Alfredo Salgado. Arrendado a terceiros, o Café Riche
tinha restaurante contíguo que pertencia à firma Ramon e Jucá. Ramon era um
garçom espanhol que fixara residência em
Fortaleza. Conhecedor do ramo e homem de iniciativa, depois se tornaria
bastante conhecido por outros empreendimentos, como os restaurantes à beira-mar
de que foi o precursor. Seu sócio era José de Castro Jucá, que por muitos anos
foi o gestor da parte comercial da companhia de bondes, depois Light and Power.
Rua Floriano Peixoto. O centro de Fortaleza mudou bastante ao longo do tempo
O restaurante do Riche era bem frequentado, principalmente
na hora do almoço. Tinha apreciável cozinha, e no centro comercial era o preferido
dos moços mais abastados do comércio e de comerciantes. Claro que a grande
maioria da gente do comércio residia nas ruas centrais e quem morasse mesmo nos bairros como Benfica e Fernandes Vieira, tinha tempo de sobra para almoçar em
casa e pegar a parte de bar ou café do Riche e do Art-Nouveau.
Quarteirão da Rua Major Facundo na Praça do Ferreira, na esquina ficava o "Maison Art-Nouveau", inaugurada em 1907.
O caso é que a parte de bar ou café do Riche devia dar
grande prejuízo. Os papos ruidosos e
animados eram mantidos diariamente na
meia hora que sobrava do almoço. Então o Riche se enchia de fregueses, que nada consumiam, e iam até ali para discutir assunto de clubes, diversões, cinema, politica, e novidades. Era o
fino da mocidade do comércio ou
estudantes que ali se sentavam diante das mesas oitavadas, de mármore cinza. Os
estudantes, literatos e doutores eram mais do horário da tarde.
Gloriosas eram as tardes do Café pela frequência de
literatos. A fidalguia, a hospitalidade do Café Riche chegava ao ponto de
existir numa espécie de puxada do salão que se estendia por toda a calçada
larga invadindo a coxia coberta de madeira. Cheia de mesas, quando o sol caía e a brisa vinda das bandas
do passeio público soprava, a calçada se
transformava num verdadeiro conclave de literatos.
No cruzamento da Guilherme Rocha com Floriano Peixoto, nos baixos do Sobrado do Pastor, funcionou o Café Globo
Comerciantes e empresários de destaque, de vem em quando se
agrupavam no salão do Café Riche, também pelo cair da tarde. Um grupo de
estrangeiros e descendentes radicados na terra, no inicio da Primeira Guerra,
fundou o Clube dos Aliados. Numa tarde vários integrantes do clube bebericavam
seus uísques e gins, quando entra Quintino Cunha, que sem os avistar dirige-se
à Tabacaria que ficava no centro do salão. Quintino com seu vozeirão pede: – me dá uma carteira
de Aliados.
O grupo estrangeiro, conhecendo as convicções germanistas do
poeta, aproveita a deixa:
– Quintino, você aderiu! Fumando Aliados!
E o poeta sem titubear: – são os mais fracos!
O café Riche encerou as atividades no dia 31 de dezembro de
1923. O Diário do Ceará, de 3 de janeiro de 1924, deu uma nota bem
circunstanciada a respeito da ocorrência, uma nota escrita com tons literários
sob o título: : “cerrou as portas o Café Riche”. O café famoso durara menos de
dez anos.
fotos do Arquivo Nirez
Extraído do livro
Fortaleza de Ontem e de Anteontem, de Edigar de Alencar
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