O Apresentador José Limaverde (Arquivo Marciano Lopes)
Nos anos 1940/1950 havia um programa de rádio intitulado Hora da Saudade ou Coisas que o Tempo Levou, transmitido pela PRE-9, criado e apresentado inicialmente por Raimundo Menezes e depois por José Limaverde.
Apresentado nas noites de segunda feira, a cidade parava para ouvir o programa que era feito de forte emoção que o apresentador José Limaverde transmitia através das ondas curtas da Ceará Rádio Clube.
Fortaleza antiga: Na Rua Major Facundo, trecho da Praça do Ferreira a Pharmácia Galeno, sucessora da antiga Botica de Antonio Ferreira, que emprestou o nome à praça.
(Arquivo Marciano Lopes)
O programa era feito de músicas, poesias em versos e prosas. A cantora da Hora da Saudade era Terezinha Holanda, que com voz apropriada, interpretava velhas canções. Tinha ainda pequenas apresentações de radioatores e radioatrizes que reproduziam cenas antigas, de velhos espetáculos.
Mas eram as encenações da vida no interior que deliciavam os ouvintes, notadamente quando contavam com as interpretações de José Julio Barbosa e Clóvis Matias, que reproduziam os costumes, o modo de falar, a maneira de ser e viver dos interioranos.
Fortaleza Antiga: A Igreja Nossa Senhora das Dores, em Otávio Bonfim, quando a área de entorno não era urbanizada e a Rua Justiniano de Serpa era chamada de Estrada do Gado.
E eram revividas as festas de igreja com suas novenas, quermesses e procissões com bandas de música, os festejos juninos com bolo de milho, aluá e arrasta-pé.
Da capital, José Limaverde contava no rádio como eram os natais.
E citava pessoas que faziam o folclore da cidade, os tipos mais exóticos, os bodegueiros mais populares, os bêbados, os malucos, os mentirosos, os tipos engraçados caricaturistas e caricatos.
Ao pé do rádio, a família escutava num silêncio solene.
Coisas que o tempo levou: o homem caminha calmamente pela rua deserta na Praia de Iracema
E José Limaverde carregava na emoção ao descrever os fatos de outrora: os bondes lentos passando nas ruas calmas, um ou outro automóvel, muitas carroças, charretes e cabriolés conduzindo moças bonitas em passeio ou a caminho do colégio.
Fortaleza antiga: casas na Avenida Duque de Caxias
E contava como eram as ruas de calçamento tosco ou mesmo de areia fina e solta, as casas fora do alinhamento, as calçadas em planos variados; descrevia os vendedores de tapioca do Mucuripe, dos vendedores de filhós, de sonhos, de garapa de murici, de cajá.
Coisas que o tempo levou: alunos e professores do Colégio Marista Cearense em frente ao colégio em foto de 1930
Coisas que o Tempo Levou ia ao ar sob o patrocínio da loja O Gabriel, de Gabriel Leônidas Jardim, que vendia artigos de armarinho, principalmente linhas; das Casas Novas de Gutemberg Telles & Cia. Ltda, lojas bem populares que funcionavam em três endereços.
Os reclames principalmente de O Gabriel eram feitos com muita jocosidade, detalhe que fazia a delicia dos ouvintes interioranos.
E as levas de matutos enchiam essas lojas que garantiam a sustentação do programa, pois aquela gente simples atendia mesmo aos apelos da ingênua mídia daquele tempo.
A loja O Gabriel era um dos patrocinadores do programa
José Limaverde apesar de ser um comunicador, era muito simples, aparentemente tímido, calado, quando fora dos microfones. Profundamente religioso, sempre que podia, estava na Igreja de São Benedito. Limaverde além de manter semanalmente no ar, o programa Hora da Saudade, foi um dos fundadores da Escola Dramática de Fortaleza, que tinha como finalidade única, encenar, anualmente, durante a semana santa, o drama religioso O Martir do Gólgota, no Teatro José de Alencar.
O respeitado homem de rádio José Limaverde, deixou um importante legado na história e nos programas do rádio cearense.
fonte: Coisas que o Tempo Levou, de Marciano Lopes
Um comentário:
Tá BOM D +, esse post!!!!!!!
No radinho do papai, o que mais se ouvia era "Coisas que o tempo levou". Além das radio-novelas, e um que dava medo: ASSOMBRAÇÂO, tmb. na PRE 9.
O José Limaverde tinha voz linda.
Meu pai e minha mãe trabalharam na loja O Gabriel, minha mãe no caixa e papai era o contador. Foi lá que o namoro teve início. Depois se tornaram compadres do patrão e amigo.
Ficou muito bom intercalar fotos antigas com a narração sobre a Hora da Saudade!
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