A modalidade esportiva que melhor se encaixou no gosto do povo cearense, o futebol, desembarcou em Fortaleza há mais de cem anos. Há relatos que abordam a história do futebol no Estado, que registram jogos entre marinheiros estrangeiros de passagem pela capital, a partir do início do século passado.
Campo do Passeio Público, local da primeira partida de futebol oficial em 1904. (O Povo)
A primeira partida realizada em Fortaleza, dentro das regras oficiais, foi realizada no dia 24 de dezembro de 1904. O palco do jogo histórico foi o Passeio Público, no centro. Nove anos após o estudante paulista Charles Miller trazer o futebol para o Brasil, o também estudante cearense José Silveira, recém-chegado de temporada na Europa, tornava-se o pioneiro do esporte em Fortaleza.
Foi Silveira, futuro professor de inglês e tradutor de alemão, quem organizou a primeira partida na cidade, num confronto entre jovens da elite e um combinado de funcionários britânicos da Companhia de Gás e tripulantes de um navio inglês, ancorado na Capital.Então com 22 anos, o filho de portugueses havia morado na Suíça e passado por outros países Europeus, como França, Inglaterra e Alemanha.
Vista da Avenida Caio Prado em 1908: poste de combustor no 1° plano; todo o 2° plano e a mureta de separação do terceiro plano; mais além, o Poço da Draga, quebra-mar Hawkshaw e navios ao largo. (foto da Revista do Instituto do Ceará)
O local da primeira partida foi o segundo plano do Passeio Público, que era dividido em três, no início do século passado. Os jogos ocorriam no plano médio, logo abaixo de onde se encontra a praça atual. O primeiro plano, mais alto, era destinado ao lazer das pessoas da alta sociedade, enquanto o mais baixo, servia a população mais humilde.
Com o passar do tempo a divisão em planos desapareceu, e hoje só existe o plano mais alto, onde está a praça atual. O resto foi todo ocupado pelo quartel da 10ª Região Militar.
Consta que a partida atraiu uma multidão que acorreu ao Passeio Público, mesmo sendo à tarde da véspera de Natal de 1904. No rosto dos primeiros torcedores da cidade, uma expressão de espanto e curiosidade diante da novidade vinda da Europa.
A partida foi bastante disputada pelos dois times, e as equipes foram denominadas de Football Club (a local), e Ingleses, os visitantes.
Silveira, dono da bola, e do livro de regras trazido da Inglaterra, reforçou a equipe da casa. Mesmo assim, pouco afeitos a nova modalidade do esporte, os cearenses foram derrotados por 2 a 0. Mas ninguém se incomodou com a derrota, porque para o povo de Fortaleza, nascia ali uma paixão.
Vista do mesmo local da foto acima em 2008. Todo o espaço foi ocupado pelo quartel da 10ª Região Militar. (foto da Revista do Instituto do Ceará)
Do local onde foi disputado o primeiro jogo oficial de futebol, não se guarda nenhuma referência de sua importância histórica. Nenhuma placa, marco ou nome que lembre algum ídolo do passado. O segundo plano onde eram realizadas as partidas, hoje é ocupado pelo pátio do Aquartelamento da Companhia de Comando, com garagem, prédio com alojamento de soldados, pracinha e espaço para exercícios físicos. O antigo campo de terra batida foi coberto por um piso de cimento.
Nos 107 anos de futebol em Fortaleza existiram torcedores que, de tão apaixonados pelos seus times, tiveram suas vidas confundidas com as dos seus próprios clubes do coração. Teve torcedor que, de tão famoso, virou até nome de rua.
Entre as décadas de 1940/50 o Ferroviário realizava suas concentrações antes dos jogos na pensão de Dona Filó, no Centro. Após sua morte, a dona da pensão foi homenageada com o nome da rua da sede social do clube, na Barra do Ceará.
Sede do Ferroviário na Barra do Ceará: Rua Dona Filó, 650
imagem: http://www.panoramio.com/photo/13209136
Outros torcedores receberam homenagens que ficaram na história. A parteira dona Chaguinha, de tão identificada com o time do Ceará, atraiu centenas de pessoas ao seu sepultamento em 1964. A Rua General Sampaio, onde ficava a casa dela ficou intransitável.
Charanga do Gumercindo animando os jogos do Fortaleza. O torcedor-simbolo aparece no centro da foto, de bigode e usando chapéu (Diário do Nordeste)
Um dos mais conhecidos torcedores-símbolo do Fortaleza foi Antônio Gumercindo, dono de uma famosa charanga, que animava as arquibancadas do Presidente Vargas nas décadas de 1960/70, quando o clube iniciou eu processo de popularização na cidade.
Outros torcedores que ganharam notoriedade no futebol cearense foram o Bodinho, tricolor dono da banca de jornal na Praça do Ferreira, a mais conhecida da cidade; Zé Limeira, engraxate, torcedor do Ferroviário que convocava a torcida aos jogo nos programas de rádio e Eutímio Moreira, antigo líder de torcida.
Eles foram importantes porque refletiam a situação dos clubes, na critica as dirigentes quando o time estava mal e na divulgação dos jogos quando o time estava bem.
Extraído da
Revista Fortaleza, fascículo 8.
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