segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Em busca de Autonomia no Comércio Exterior

O Siará estava a meio caminho entre o próspero Pernambuco e o desejado Maranhão. Suas  terras não despertava interesse nem mesmo dos invasores. Os homens brancos encontrados entre os nativos, pelos primeiros exploradores, chegaram aqui como piratas aventureiros, sem nenhuma pretensão colonizadora. O próprio donatário da Capitania – Antônio Cardoso de Barros –  sequer  veio tomar posse de sua doação, somente vindo ao Brasil como Provedor da Fazenda, no governo de Tomé de Sousa.




Fortaleza em 1914, vistas do mar,  as instalações das empresas Ceará Gás (gasômetro) e Ceará Light (chaminé). Na 2a. foto, Usina da Ceará Light. (fotos do livro História da Energia no Ceará, de Ary Bezerra Leite). 

A subordinação aos interesses de Recife prejudicava o desenvolvimento da Capitania, que em 1786, através do Ouvidor Avelar de Barbedo, já reivindicava um comércio direto com Lisboa, sem a intermediação de Pernambuco.  A separação, no entanto, só se processaria em 1799.
Já em 1804, Bento Bandeira de Mello & Cia obtinha privilégio exclusivo para extração de diversos minérios na Capitania.

Mas foi a abertura dos portos  em 1809, que possibilitou o envio para Londres,  de produtos da terra e amostras de algodão, enviados pelos comerciantes da vila. Evento comparável à edição de um catálogo bilíngue para conquista de mercados externos. A Inglaterra substituía Portugal.

Em 1810 o irlandês William Wara funda a primeira casa de comércio direto com o exterior. Nessa época, faziam parte da rotina da cidade a Ceará Water, a Ceará Gás, a Ceará Harbour, a  Ceará Light & Power. Nossas lojas embarcavam no modismo e ostentavam nomes como Casa Manchester, Túnel de Londres, Casa Reeckell.

anúncio da Ceará Gás (foto do livro História da Energia no Ceará)

A influência inglesa se faz sentir nos hábitos e costumes da população. O que  se come e se veste vem agora das ilhas britânicas, registra Girão, constatando que os indicadores comerciais da capital cearense se expressam em língua Inglesa. 

É marcante a presença de cidadãos ingleses atuando nesse período no comércio da cidade. Os livros registram a chegada, por volta de 1830, de Robert Singlehurst, que instalou a firma Casa Inglesa, que resistiu mais de meio século através de herdeiros e sucessores.


Edifício de pedra executado por Tobias Lauriano Figueira de Melo e Ricardo Lange para a empresa inglesa Ceará Harbour Co. Ltd. Depois o prédio seria ocupado pela Alfandega, Receita Federal e hoje pertence à Caixa Econômica. (arquivo Nirez)
   
Henry Ellery, natural de Londres, chegou à Fortaleza em 1843, estabeleceu-se no ramo de exportação e importação, na Rua da Alfândega, e manteve também, na rua da Palma, uma indústria de carne seca. A primeira Associação Comercial do Ceará foi fundada em 1866, e teve como presidente Richard P. Hugges, também presidente da União Cearense-Clube Recreativo. A organização dos empresários comerciais do Ceará é uma das pioneiras do Brasil.



Prédio da  Associação Comercial do Ceará , criada em 13 de abril 1866 com sede em Fortaleza. Congregava inicialmente comerciantes ingleses e franceses. A construção é do final do Século XIX. Foi o Hotel de France, o Palace Hotel e é hoje sede da Associação Comercial do Ceará. Localização: Rua Major Facundo, N° 2, esquina com a Rua Dr. João Moreira. (foto de Mauricio Cals) 

Dados históricos registram um, crescimento satisfatório das transações comerciais de Fortaleza com os portos estrangeiros. De 1858 a 1863 as entradas e saídas cresceram 65%.  Houve crescimento também na navegação de cabotagem: 243 embarcações aportaram em Fortaleza em 1858, enquanto que no período de 1867-68 foram mais de 300 navios. No total de toneladas embarcadas, houve um acréscimo de 150%.

Em 1869, com a inauguração da Casa Boris, mudamos de sotaque. O mar passou a ser  o açude do Boris. Os estabelecimentos comerciais também adotaram nomes franceses:  Bom Marché, Torre Eiffel, Hotel de France, Art Nouveau e Café Riche, deram um toque parisiense ao arenoso centro da cidade.

Casa Boris, da empresa Boris Frères & Cia Ltda. Fica na Rua Boris, n° 90 (foto Mauricio Cals

Um Almanaque Administrativo,  Mercantil e Industrial do Ceará teve sua primeira edição em 1870, sob responsabilidade do bacharel Joaquim Mendes da Cruz Guimarães. Só saíram dois números.  Mas é o Catálogo dos Produtos Cearenses, apresentado à Exposição Internacional de Chicago (1892/1893) o grande fato da virada do século. A população de Fortaleza era inferior a 50 mil pessoas, assumidamente provincianas. 


pesquisa: 

Gilmar de Carvalho

Raimundo Girão

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