Na cidade de Fortaleza em meados dos anos 1950, enquanto a cidade vivia uma onda de moralidade, onde o comportamento social era vigiado de perto pela polícia e pelos demais setores da sociedade, um novo componente veio agravar as inquietações com relação à segurança da cidade: o surgimento de um grupo de marginais conhecidos por rabos de burro.
Não eram marginais comuns, mas rapazes de boas condições financeiras, que dirigiam seus automóveis e cometiam abusos sexuais contra moças, geralmente estudantes desacompanhadas. Agiam livremente pelas ruas de Fortaleza, o que elevou o rapidamente o número de vítimas, e fez o assunto passar a ser discutido pelos jornais, tornando-se alvo de intensos debates na Câmara Municipal.
Alunas de estabelecimentos de ensino tradicionais como Escola Normal, Colégio da Imaculada e outros viviam em polvorosa diante da possibilidade de serem vítimas do próximo ataque. A preocupação dos pais com a segurança das filhas era constante.
Em 1954 uma vereadora pedia uma resposta concreta da policia ao terror implantado na cidade pelos chamados rabos de burro, especialmente com relação aos estabelecimentos de ensino mais atingidos por esses indivíduos.
Em 1954 uma vereadora pedia uma resposta concreta da policia ao terror implantado na cidade pelos chamados rabos de burro, especialmente com relação aos estabelecimentos de ensino mais atingidos por esses indivíduos.
Um outro vereador, propôs que as investigações acerca do caso fossem sigilosas, já que envolviam princípios médicos higiênicos e psiquiátricos (pelo menos em matéria de vereador, continuamos os mesmos);
Outro vereador chegou a sugerir que a Secretaria de Segurança aprovasse todos os requerimentos que solicitassem porte de armas, como garantia de defesa pessoal. (talvez ele quisesse instaurar de vez a república da guerrilha urbana)
A medida não foi aprovada por ferir a legislação penal. O apelo dos vereadores foi dirigido a todas as autoridades locais, inclusive aos comandantes militares.
A ação dos rabos de burros foi amenizada diante dos protestos que partiam de diferentes setores. Muito mais fortes do que a força policial que tentava inibi-los, foram os próprios autores das violências sexuais que recuaram dada a repercussão dos protestos, restando os registros de queixas no rol dos casos insolúveis.
A ação dos rabos de burros foi amenizada diante dos protestos que partiam de diferentes setores. Muito mais fortes do que a força policial que tentava inibi-los, foram os próprios autores das violências sexuais que recuaram dada a repercussão dos protestos, restando os registros de queixas no rol dos casos insolúveis.
Os pervertidos sexuais nunca foram identificados. Do mesmo jeito que chegaram, sumiram nas brumas do anonimato e da impunidade que animam os detentores do binômio poder/dinheiro.
Pesquisa:
JUCÁ, Gisafran Nazareno Mota. Verso e reverso do perfil urbano de Fortaleza (1945-1960) São Paulo: Annablume; Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto do Estado do Ceará, 2000
15 comentários:
No inicio da década de 60 eu estudava num colégio da avenida bezerra de Menezes, quando eu e algumas colegas vimos pela grade do colégio, um belo rapaz estacionar o carro numa rua lateral, próximo ao portão. Logo alguém identificou o tal rapaz como sendo um rabo de burro conhecido como Luis da Vanda ou da Vânia, (não lembro direito). A noticia de que havia um rabo de burro nas proximidades do colégio, causou um alvoroço sem tamanho, trancaram logo os portões e nenhuma menina podia sair sozinha. Enquanto a confusão rolava, o rapaz voltou sozinho, entrou tranquilamente no seu carro e foi embora. Se era, se não era um rabo de burro, nunca se soube. Só sei que essa história tocava o terror nas escolas. Parabéns pelo blog.
Nunca soube o que era na verdade um RABO DE BURRO,só sei que por conta das histórias as meninas só saíam acompanhadas dos pais ou com um irmão de lado que era a coisa mais sem graça.
Que DELÍCIA de matéria, Fátima!
Digo isso agora, porque na época era mesmo um TERROR!!!
Havia um "rabo de burro" famoso que tinha o meu sobrenome,Paiva, e eu ficava preocupada de pensarem que...(é só pesquisar os jornais da época, tá lá o nome dele e de outros..).
Nessa década eu era aluna do Justiniano...morríamos de medo em atravessar todo o beco dos pocinhos até a Cidade da Criança, pra pegar o ônibus. Hoje, o medo é de assaltantes...."elas por elas"!
VALEU!!!
Adoro, suas matérias!
Lúcia
amiga!
os rabos de burro eram o terror mesmo! nossa... eu morria de medo.As pessoas só falavam nisso, eu estudava no liceu na epoca e tinha que esperar minha irmã sair da outra turma para ir com ela para casa, pq minha mae, ñ queria que eu voltasse sozinha.Acho que naquela época que estudamos juntas no municipal ja se falavam nisso.parabéns pela materia.
eu ainda ia preferir ser perseguida por um rabo de burro do que pelos ladrões de hoje.
Carissimos,
Esse episódio mostra que nós que moramos nas grandes cidades sempre estivemos e estamos expostos a diversas situações de risco. Na verdade deveriamos exigir o nosso direito constitucional que assegura a liberdade de ir e vir, e não de termos que optar entre rabos de burros, ladrões e outras escórias.
Alguns dizem que isso foi uma "lenda urbana", um boato que ganhou corpo e se espalhou pela cidade para tentar frear os anseios das meninas-moças. Mas os marginais existiram, tanto é verdade que existe registro policial dos ataques.
obrigada pela visita e comentários no blog
Os rabos de burro eram assim chamados porque usavam cabelos grande, e por muito tempo ficou assim estabelecido;homem de cabelo grande era rabo de burro; ou seja, não prestava! adorei a materia
os "RABOS DE BURROS" de ontem são bisavôs dos drogados, dos ladrões e dos demônios de hoje...eles plantaram as sementes que hoje são semeadas a todo vapor e em larga escala,... se nós disermos a~´em para essas porcarias, achando que é normal ou defendendo só porque são filhos, sobrinhos etc...virão outros "RABOS DE BURROS" piores que os de hoje e assim sucessivamente...
os "RABOS DE BURROS" de ontem são bisavôs dos drogados, dos ladrões e dos demônios de hoje...eles plantaram as sementes que hoje são semeadas a todo vapor e em larga escala,... se nós disermos AMÉM para essas porcarias, achando que é normal ou defendendo só porque são filhos, sobrinhos etc...virão outros "RABOS DE BURROS" piores que os de hoje e assim sucessivamente...
só sei que foram pessoas que em nada contribuíram para tornar o mundo melhor. Desordeiros, marginais, filhinhos de papais irresponsáveis e dispensáveis. Não fizeram falta.
Eu conhecia essa expressão mas não sabia do que se tratava!
Os rabos de burros foram o equivalente às gangues dos dias atuais. Uns inúteis.
RABO-de-BURRO.
O povo chamava uma confusão pequena de CU-de-PINTO, e uma confusão grande de CU-de-BURRO. Os jornais da época optaram por publicar RABO-de-BURRO ao invés de CU-de-BURRO para designar as grandes confusões provocadas pelos jovens delinquentes.
Fco. Augusto de Araújo Lima, apud Vocabulários Populares cearenses, Raimundo Girão, Tomé Cabral.
Quando ainda criança em Quixadá - vim pra Fortaleza aos 12 anos - escutava muito falar em rabo-de-burro, mas a conotação que davam era realmente relacionada a sujeitos de má índole que atacavam as moças, sobretudo as estudantes dos colégios estaduais e municipais. Na minha imaginação eu pensava num bicho de patas com uma basta cabeleira, kkkkkk. Parabéns pelo blog!
Contudo, antes de irmos morar no centro de Quixadá, morávamos numa localidade de nome Olivença (talvez nem exista mais ou quem sabe mudou de nome),e lá, por ser ermo e sem iluminação e sem urbanização, a gente jantava por volta das 5:30 da tarde e íamos dormir no máximo às 8 da noite. Quando aparecia alguém pra prosar, ficávamos no alpendre ouvindo as histórias e tremendo de medo do lobisomem, do guaxinim e até do afamado gato maracajá, kkkk meu Deus que tempo bom que se foi! Em verdade, o lugar era empestado de cobras peçonhentas, escorpiões, lacraias e aranhas. Mas, protegidos por Deus, nunca fomos atacados por essas feras...
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