terça-feira, 31 de maio de 2011

A Construção da Estrada de Ferro de Baturite

Estação João Felipe, antiga Estação central da  Estrada de Ferro Baturité (foto do site AV dragão do mar)

No dia 25 de junho de 1870, o senador Tomás Pompeu de Sousa Brasil, o coronel Joaquim da Cunha Freire (Barão de Ibiapaba), o bacharel Gonçalo Batista Vieira (Barão de Aquiraz), o engenheiro José Pompeu de Albuquerque Cavalcante, e o comerciante inglês Henry Blockhurst, da firma inglesa R. Singlereust e Co.  ajustaram a construção de uma ferrovia para trazer a produção serrana para o porto de Fortaleza .  
Estava criada a Companhia Cearense da  Via Férrea de Baturité. Inicialmente o projeto previa a construção de uma ferrovia ligando a Capital do Estado até a Vila de Pacatuba, tendo um ramal até Maranguape. 
Após o contrato firmado entre a companhia e o Governo Provincial do Ceará, passou a denominar-se  Estrada de Ferro de Baturité, pois, agora, tinha como ponto final à cidade de Baturité, na região produtora de café.


Estação de Baturité à direita na foto em 1910
 No dia 1° de julho de 1873, foram iniciados os trabalhos de assentamentos dos trilhos. A EFB iniciou suas atividades quando a locomotiva Fortaleza fez o percurso da Estação até a parada do “Chico Manoel”, na então Rua do Trilho (atual Tristão Gonçalves) esquina com a Rua Liberato Barroso. 
Em seguida foi inaugurado o trecho até a estação da Parangaba, antiga Arronches,  em 30 de setembro de 1873. Em seguida, foram inauguradas as estações de Mondubim, Maracanaú, em 1875, e  em 1876, foi inaugurada a estação de Pacatuba.


Estação da Parangaba
www.estaçõesferroviárias.com.br

A Estação Central da Estrada de Ferro Baturité foi localizada no antigo Campo da Amélia, atual Praça Castro Carreira, no local antes ocupado pelo Cemitério de São Casimiro, tendo sua construção iniciada em 1879, com projeto do engenheiro Henrique Foglare.
 O terreno pertencia à sesmaria de Jacarecanga, de propriedade da família Torres, que  doou o espaço a uma sociedade de oficiais do exército e era utilizado para exercícios militares.  
Mais tarde a área foi aforada à Via Férrea de Baturité. 

Estação Central da Estrada de Ferro Baturité, atual João Felipe (Nirez)

O lançamento da pedra fundamental  ocorreu em 30 de novembro de 1873, mas as obras só foram iniciadas em 1879, sendo  concluídas em 1880. O motivo da interrupção dos trabalhos foi a terrível seca que assolou o Estado no período de 1877 a 1879, que abalou a situação financeira da companhia.
Tanto a estrada de ferro quanto a estação central foram construídas utilizando a mão-de-obra de retirantes dessa estiagem catastrófica.  
Encampada pelo governo imperial em meados de 1878, a estrada de ferro empregou, em dois anos de trabalho, cerca de 50 mil retirantes cearenses na sua construção. 
Engenheiros e políticos defendiam o prolongamento da ferrovia para minorar os efeitos da seca.

Retirantes-trabalhadores da Estrada de Ferro Baturité 
(acervo MIS)

A vantagem, diziam,  seria afastar um grande contingente de flagelados da mendicância.  Dirigidos por feitores e engenheiros, submetidos a um trabalho extenuante sob o forte calor do sertão, recebendo baixos salários e rações insuficientes, atingidos por fome e doenças, os retirantes não atenderam às expectativas de controle social e protagonizaram diversos  conflitos na rotina de trabalho.
Com a encampação o Governo Imperial, assumiu  a parte construída da ferrovia e os direitos da Companhia de prolongar a ferrovia até o município de Baturité, e de lá até a região do Araripe.
 Em 1898, quando os trilhos alcançavam o município de Quixadá a EFB foi arrendada, tendo esse contrato  durado até 1910, quando foi rescindido, e feito novo acordo de arrendamento, desta feita com a firma South American Railway Constrution Co. Ltd.
O novo arrendamento foi decidido frente a suposição de que uma companhia estrangeira, com conhecimento técnico na área ferroviária,  estaria mais capacitada a construir o trecho até Araripe. Como a companhia não correspondeu às expectativas, o contrato foi rescindido em 1915, levando o governo a assumir de vez o controle da Ferrovia.


Os trens trouxeram riquezas e mobilidade para Fortaleza
(imagem do livro Ceará Terra da Luz)

Apesar dos  altos e baixos, a  estrada de ferro fortaleceu definitivamente o papel de entreposto exportador de Fortaleza.  Ela possibilitou a ligação mais rápida com o interior através dos trens e reforçou a função comercial e a hegemonia de Fortaleza.


Fontes:
Ofipro
Trilhos do Nordeste
Artigo: As Metamorfoses dos Retirantes nas Cabeças dos Engenheiros: Trabalho e Resistência no Prolongamento da Ferrovia de Baturité na Seca de 1877, de Tyrone Apollo Pontes Cândido.
Revista Fortaleza, fascículo 3.

18 comentários:

Anônimo disse...

Gostaria muito saber quem foi Luis Carlos Teixeira Leite. A unica coisa que sei é que ele trabalhou na Construção da Estrada de Ferro de Baturite. Gostaria de saber mais sobre ele se alguem souber por favor postem aqui. Obrigada.

Fátima Garcia disse...

Vou pesquisar e tentar achar alguma coisa a respeito.

Fabíola disse...

Boa tarde!
Fatima,

Estou fazendo minha monografia sobre a estação de Parangaba e gostaria de saber se você poderia me indicar algumas outras fontes para poder pesquisar, algum outro fato relevante que trate do assunto

Fátima Garcia disse...

Olá Fabíola,
talvez vc encontre alguma coisa no livros "os descaminhos de ferro do Brasil", não sei se especificamente da estação da parangaba, mas da estrada de ferro.

Anônimo disse...

Tenho bastante material para suas pesquisas.
radialistaassislima@hotmail.com

Fátima Garcia disse...

Tenho bastante interesse nesses materiais, radialista Assis Lima, que podem ser enviados para o email do site.
abs
Fátima

Unknown disse...

Quando se escreve algo e tornamos publico. ja nao e mais nosso.Que bom que tddos gora tem conhecimento. Francisco de Assis Silva de Lima aaaautor do livro ESTRADAS DE FERRO NO CEaRA.

Unknown disse...

estou pesquisando sobre a estrada de ferro de baturite. trabalho de monografia. alguem ai poderia me ajudar com fontes ou informaçoes?

Fátima Garcia disse...

Olá Mario Rodrigues,
nos comentários estão citados dois livros sobre o assunto:
Estradas de Ferro no Ceará, de Francisco de Assis Silva de Lima; e Os descaminhos de Ferro no Brasil
abs

toinho ribeiro disse...

ola fatima garcia a onde eu poderia encontrar um exemplar deste livro estradas de ferro no ceara

Fátima Garcia disse...

Toinho Ribeiro, eu comprei pela internet, no site Estante Virtual
www.estantevirtual.com.br
abs

fabiodza disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
fabiodza disse...

boa noite fatima garcia me chamo aline keite moro em fortaleza ceara.gostaria de saber se a senhora saberia enformar nomes de pessoas que trabalharam na construção da estrada de ferro,pois estou a procura de meu avô que se chama "josè" não sei informar seu nome completo mais acho que deveria ter oliveira no seu resistro porque o nome de seu filho é francisco jose de oliveira. tenhp muita vontade de conhecer-los as unicas informações que tenho é que eles moravam em iguatu na rua 7 de setembro e que meu pai jose de oliveira trabalhou numa empresa de algodão chamada de CIDAL. Ficarei muito grata se puder me ajudar a realizar meu sonho.
meu em emial é aline.keite@yahoo.com.br
fica cm deus boa noite

Alisson Frota disse...

Olá, agradeço pelo artigo.
Estou estudando sobre ferrovias do ceará e me serviu muito o seu conhecimento.
Gratidão

Anonimo disse...

Tbm gostaria muito de saber sobre ele. Pelo que sei ele foi pai bastardo da minha bisavô.

Unknown disse...

Gostaria de saber oque aconteceu com os idiginas da cidade...

ariza disse...

Bom dia Fátima Garcia, meu bisavô, Manuel Ferreira Melo, foi maquinista no tempo em que a Estação de Iguatu era o fim da linha, na década de 1910. Ele tinha duas irmãs: Maria de Jesus Melo (professora da antiga Escola Normal) e Maria Júlia Melo que foi morar em Cascavel.
Segundo, minha falecida avó, ele saia de Fortaleza, às 5:00 Horas da manhã e à tardinha chegava lá. Inicialmente, eles passaram a morar em um pensionato e depois, ele formou uma segunda família e aí, não tenho mais contato. Já procurei uma lista dos antigos maquinistas da antiga Rede de Viação Cearense, mas em vão.
É triste não saber nada a respeito dos antepassados. Será que você pode dar pistas para saber mais a respeito do assunto?
Agradeço antecipadamente,
Ariza Maria Rocha

ariza disse...
Este comentário foi removido pelo autor.