sábado, 21 de maio de 2011

Fortaleza e o Trânsito de Veículos nos anos 1920

Ao longo da década de 1920 a população de Fortaleza cresceu de 77 mil em 1919, para 123 mil habitantes em 1929. Apesar de persistir a preocupação com o embelezamento, as autoridades começaram a se preocupar com outros problemas, decorrentes do crescimento da cidade.
 Um dos problemas emergentes foi a questão do trânsito devido ao aumento da frota de carros e o aparecimento dos primeiros caminhões e ônibus.
 o trânsito era bastante confuso nas imediações da Praça do Ferreira
Antecipando-se ao problema que se anunciava, a administração municipal realizou várias  reformas urbanas visando desobstruir e alargar ruas e avenidas, abrir novas ruas e fazer pavimentação adequada, o que, no entanto, sempre deixava a desejar, pois eram constantes as reclamações nos jornais sobre como se tornara obsoleto o antigo calçamento.  
Outro problema que assustava Fortaleza naqueles tempos idos era a ocorrência de acidentes de trânsito, especialmente os atropelamentos: o perigo de ser colhido por um automóvel ao atravessar uma rua ou ao descer de um bonde, era considerável. 
abalroamento do bonde do Benfica com veículo que vinha do Otávio Bonfim, na esquina da Rua General Sampaio com Rua Meton de Alencar.
Quem folheava os jornais naqueles tempos, ficava alarmado com a frequência com que estes ocorriam – automóveis, ônibus e bondes elétricos cotidianamente produziam ocorrências que resultavam em escoriações, fraturas, mortes e muitos danos materiais.
Para gerenciar aquela nova realidade, foi criada a Inspetoria Geral de Veículos. O órgão buscou coibir os excessos cometidos ao volante, determinando normas e punições (multa, suspensão da licença para guiar veículos e em alguns casos, prisão). 
Em 1930 foram estabelecidos limites de velocidade: 
para os automóveis, no perímetro central, máxima de 10km/h;
 20 e 30 km para as áreas urbana e suburbana respectivamente; e 
40 km/h na área rural,
 isso apesar da tecnologia dos carros em 1929, já os permitir alcançar 120 ou 130 quilômetros por hora.
O maior fluxo de carros acontecia no entorno da Praça do Ferreira, logradouro com intensa concentração de pessoas devido às inúmeras atividades comerciais da área, e que virou ponto de estacionamento de carros particulares e de aluguel. 
Não por acaso, a Praça foi o ponto de partida para várias intervenções, visando melhorar a circulação de carros e pessoas.
com a retirada dos quiosques a Praça ganhou longas fileiras de bancos e algumas árvores 
 Em 1920, na primeira gestão do prefeito Godofredo Maciel, a Praça do Ferreira sofreu uma radical transformação com o objetivo de racionalizar o espaço. Para facilitar o deslocamento dos pedestres, foram demolidos os famosos cafés existentes desde o final do século XIX, ponto de encontro de boêmios e intelectuais. 
Foram colocadas fileiras de bancos e árvores nas laterais e apenas um coreto no centro – assim a praça ficou mais espaçosa com vãos livres. 
Posto Mazine - o estacionamento dos automóveis de aluguel era na Praça do Ferreira. Na   ocasião da foto um bonde e um ônibus também circulavam no local. 
A reforma estabeleceu recortes nas laterais da praça, permitindo o estacionamento de bondes e automóveis, abrindo espaço para os carros e desafogando o trânsito das ruas laterais.
Também foram abertas novas vias, como as que ligavam o Centro à Praia do Peixe – chamada de Praia de Iracema a partir de 1928 – onde se localizavam os armazéns, o prédio da alfândega e a Ponte Metálica.
Estação de Soure em 1922 (imagem: http://www.estacoesferroviarias.com.br)
Prolongou-se ainda a antiga estrada de Soure/Caucaia, (atual Avenida Bezerra de Menezes), em razão da sua importância como via de saída da cidade para o norte cearense. Também foram feitas as primeiras vias interligando bairros, a exemplo da conexão entre os bairros Fernandes Vieira (atual Otávio Bonfim) e Urubu (atual Álvaro Weine) o que levou à desapropriação de vários imóveis. 
As ruas calçadas com paralelepípedos e as vias mais movimentadas com concreto foram algumas das melhorias empreendidas na gestão do prefeito Raimundo Girão, em 1933.
O desenvolvimento dos meios de transportes possibilitou a moradia fora do núcleo central e propiciou o surgimento de vários bairros em Fortaleza. 
modelo de ônibus antigo
As diferentes tecnologias de transporte permitiram a moradia em locais mais distantes, porém interligados a seus locais de trabalho no centro. Os bondes e posteriormente, os ônibus e trens tornavam alguns bairros mais acessíveis, o que levou várias famílias e pequenos comerciantes a se instalarem ao longo e no final das linhas. 
Ao implantar infraestrutura e serviços urbanos, o poder público direcionava o crescimento da cidade e incorporava novos espaços à malha urbana de Fortaleza.

Fonte:

Fortaleza: uma breve história/Artur Bruno, Airton de Farias. Fortaleza, INESP, 2011

Um comentário:

Unknown disse...

Tenho algumas fotos do posto mazine que era meu bisavô