terça-feira, 17 de maio de 2011

A Efervescência Intelectual



Por volta da segunda metade do século XIX, Fortaleza vivia um momento  de grande efervescência  cultural, onde a produção textual, em particular a literatura, gozava de grande prestígio. Políticos, médicos, militares, advogados, acadêmicos,  buscavam no debate filosófico e na criação poética ou ficcional o prestígio social. Além disso, via-se a produção intelectual como uma missão, ou seja, como um instrumento capaz de mudar a realidade social e regenerar comportamentos e valores.
Se havia poucas pessoas aptas a participar dos embates intelectuais nas primeiras décadas do século XIX, isso mudou na segunda metade, sobretudo nos últimos 25 anos. Em 1845 começou a funcionar a primeira escola de ensino secundário do Ceará, o Liceu. 

O Liceu foi criado pela Lei 304 de 15 de julho de 1844 e instalado no dia 19 de outubro de 1845 na sala do sobrado de Odorico Segismundo de Arnaut, à Praça dos Mártires n° 13, esquina com a Rua Major Facundo. Em 1894, passou a funcionar neste prédio, na Praça dos Voluntários. 

Quatro anos depois apareceu em Fortaleza uma espécie de primeira livraria da cidade, do comerciante português Manuel Antônio da Rocha Junior. Em 1863 surgiu o Ateneu Cearense, o mais importante estabelecimento de ensino particular da capital, onde se instruiu boa parte dos segmentos médios e dominantes cearenses (inclusive do interior), os quais depois ocuparam cargos importantes no Estado.  

Seminário Episcopal na Prainha
Colégio da Imaculada Conceição, no Outeiro


No ano de 1864 apareceriam o Seminário Episcopal de Fortaleza e o Colégio Imaculada Conceição, para meninas.  
Na década de 1870 foram fundados o Colégio Cearense, o Colégio São José e o Instituto de Humanidades, todos dirigidos por padres.
No ano de 1884 foi  inaugurada a Escola Normal, para formação de professores para as escolas do Estado.  A escola recebia alunos de ambos os sexos , e o curso era composto de um preparatório de 1 ano e um curso normal com duração de 3 anos.  

 Situada no ângulo esquerdo da face meridional da Praça Marquês do Herval. Tinha dois pavimentos, boas instalações e a entrada continha um pequeno pavilhão em estilo suíço. O prédio era cercado de muros, tendo a frente de grade de ferro. Primeiramente foi chamada Escola Normal Pedro II. 

Junto com a Escola Normal surgiram também as resistências e o preconceito  em relação às normalistas, afinal a Escola Normal visava formar educadoras numa época em que as mulheres tinham como objetivo de vida o casamento, o lar e os filhos.  Na época já funcionava  o Colégio da Imaculada Conceição, mas o objetivo era a educação formal para realização pessoal e familiar das alunas, enquanto a Escola Normal era direcionada à formação profissional.  

Oferecer às mulheres uma possibilidade de preparar-se para uma profissão,  implicava em admitir que elas teriam que dividir-se entre  o lar e um trabalho.  Era uma das contradições de uma sociedade que desejava o progresso e a civilidade, no entanto, resistia às mudanças comportamentais, principalmente em relação às mulheres.  Apesar desse mau começo, as mulheres continuavam se articulando no mundo do saber, de modo que não podiam mais ser ignoradas.

Antes, em 1867, surgira uma das mais significativas instituições intelectuais, a Biblioteca Provincial do Ceará.  Apareceram várias tipografias e houve uma expansão na atividade jornalística com a circulação de jornais diários – Pedro II, Constituição, Cearense e Jornal de Fortaleza.  São publicadas obras sobre a terra, colaborando com a administração e controle sobre a província, como o Ensaio Estatístico do Ceará, em 1863, de autoria do Senador Pompeu. 

Afora essas instituições, que possibilitavam uma formação e atuação intelectual até então inexistentes na província, havia ainda a contribuição de muitos cearenses que estudavam em outros locais e mesmo no exterior, e ao retornarem, traziam para a terra natal novos saberes e novos modos de pensar. 

fotos: acervos Nirez e Marciano Lopes
fontes: 
Descrição da Cidade de Fortaleza, de Antonio Bezerra de Menezes
História do Ceará, de Airton de Farias 

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