terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Fortaleza de Outrora

A Igreja de Nossa Senhora da Conceição do Outeiro da Prainha, foi inaugurada no dia 08 de dezembro de 1841 (Arquivo Nirez)
Por volta de 1887 a acanhada capital do Ceará apresentava, com diferenças mínimas, as mesmas características da cidade colonial de 20 anos antes. Seus limites não iam além das Ruas da Praia e da Misericórdia, (atuais Pessoa Anta e Dr. João Moreira) da Rua de Baixo, (atual Conde D’Eu) da Rua D. Pedro I e da Rua da Amélia (atual Senador Pompeu). 
A tesouraria da fazenda adquiriu em 1860 e fez entrega ao episcopado, em 1892, do Palácio do Bispo, hoje ocupado como Paço Municipal (Arquivo Nirez)
Fora desse polígono de pequenas proporções, só havia digno de nota, o Palácio do Bispo, o Colégio das irmãs e o Seminário. 
O mais era o areal, onde se levantavam casebres de taipa e raras casas de tijolos construídas desordenadamente. A população urbana concentrava-se entre o Riacho Pajeú – o Marajaig de outrora – a cuja margem se edificaram as casas da Rua Conde D’Eu, já considerada a rua mater de Fortaleza, o Largo do Paiol, atual Passeio Público, a Rua Senador Pompeu e a Pedro I, que já fora em tempos idos, a Travessa da Alegria. 
Início da Rua Major Facundo a partir do Passeio Público: à direita o prédio onde se instalaria o Palace Hotel. (arquivo Mozart Soriano Aderaldo)  
Sítios, mais ou menos cultivados, conforme a situação econômica dos respectivos proprietários eram as futuras bem traçadas artérias de vários bairros que circundam o atual centro comercial. 
Bairros como  Outeiro, Otávio Bonfim, Jacarecanga, Tauape, Alagadiço, Calçamento da Messejana e outros mais eram tomados de cajueiros esgalhados, de coqueiros e copadas mangueiras. 
A iluminação de Fortaleza, nestes tempos remotos, já havia evoluído do azeite de peixe para o gás carbônico, que começou a clarear as ruas da cidade precisamente aos 17 de setembro de 1886. 
Também naquela época estava em plena vigência o “contrato com a lua”, herança recebida da primeira de uma série de guerras, resultado da escassez do carvão de pedra, que obrigava a concessionária a pausas certas e previstas no sistema de iluminação, por três, quatro, e até mais dias, a cada mês, durante o plenilúnio. 
O Parque da Liberdade na época de sua inauguração e a placa indicativa de sua construção. Ao fundo a antiga Igreja do Coração de jesus (Arquivo Nirez)
Na lagoa do Garrote, que abrangia todo o espaço do logradouro, matava-se a sede e a fome do gado que vinha dos lados da Messejana. Foi nesse tempo, no Alto da Pimenta, onde hoje se elevam as paredes do convento dos frades capuchinhos, foi dado como concluído o templo dedicado ao Coração de Jesus, mandado levantar pelos Barões de Aratanha. 
Antes, o que havia por lá não passava de um modesto nicho, construído pelo Boticário Ferreira.
A Praça da Sé apresentava aspecto bem diferente. Muito embora o velho Palácio Arquiepiscopal – com algumas modificações – já existisse como tal desde 1860, o que existia na face sul/leste da praça eram velhas e características casas de taipa e beira-e-bica, uma das quais hospedou o Marechal Hermes da Fonseca quando era simples oficial do exército. 
O Hospital de Caridade ou Santa Casa de Misericórdia, foi todo construído com recursos doados pela população. O prédio foi concluído em 1857 (Arquivo Nirez)  
Mas acima, para as bandas do Passeio Público, alinhavam-se ao cair da noite, os tabuleiros, com lanternas acesas, nos quais se vendiam doces, gengibirra, roletes de cana e outras guloseimas, emprestando um aspecto gracioso ao antigo Largo do paiol, já de si tão entristecido e soturno pelos queixumes dos enfermos da Santa Casa da Misericórdia, em frente.

Extraído do livro:
História abreviada de Fortaleza e crônicas sobre a Cidade amada
De Mozart Soriano Aderaldo.         

2 comentários:

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Como eu me considero de "outrora", amei essa matéria, principalmente ga vigêcia do "contrato com a lua"...
DIVINO!!!!!....tem coisa mais cearense????

bjus!

Fátima Garcia disse...

Nem tão outrora assim, seu outrora é muito mais recente. Quanto ao contrato com a lua, acho de uma criatividade impar, não o fato em sí, mas o nome que deram ao fato. Realmente, só no Ceará mesmo.