quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O Voluntariado Cearense da Guerra do Paraguai

Batalha do Avaí, óleo de Pedro Américo sobre um dos últimos episódios da Guerra do Paraguai, ocorrido em 1868. A história preferiu esquecer o sacrificio de milhares de voluntários,recrutados à força, e exaltar o feito dos generais.

Se no inicio do conflito ocorreram fortes manifestações populares a favor do voluntariado, o ânimo diminuiu consideravelmente nos anos seguintes, especialmente entre 1866-1868.
Esperava-se uma guerra breve, e a medida que o tempo  foi se estendendo, e a população sendo informada do número de mortos, feridos e mutilados, da dureza das batalhas, das dificuldades extremas a que eram submetidos,a euforia patriótica foi arrefecendo.
O soldados lutavam descalços, com armamento precário, sofriam com as baixas temperaturas, fome, surtos de gripe e de variola, e morriam aos montes, nem sempre em confrontos armados. A alimentação era escassa e de péssima qualidade.
Dessa maneira muita gente começou a questionar se valia a pena lutar e continuar com aquele conflito sanguinário. O número de patriotas voluntários despencou. 
O Governo iniciou então uma verdadeira caça aos homens para forçá-los a ir lutar na guerra. Forças públicas deslocavam-se de Fortaleza para o interior, para auxiliar as comissões de recrutamento na captura de vaqueiros, colonos, escravos negros, agricultores, mesmo os de pouca idade, desde que reunissem condições de lutar.
 Os recrutadores eram remunerados por cada recruta obtido, além de ganharem prestigio junto às autoridades constituidas.
Esse recrutamento arbitrário atingiu em cheio a população pobre - a lei permitia que os recrutados pudessem ser substituidos por escravos negros ou indios - ou dispensados mediante o pagamento de 400 mil Réis, condições acessiveis apenas às elites, que dispunham de escravos e dinheiro. Assim em geral, apenas os elementos brancos de classes abastadas safavam-se do serviço militar.
Esse modo de recrutamento permitia vários abusos, dando margem a perseguições políticas. Os individuos que gozavam das boas graças do partido no poder e dos coronéis, eram dispensados, enquanto os que não tinham apadrinhamento político, iam "honrar" o nome do Brasil no distante Paraguai.
Estabeleceu-se um clima de horror na provincia. A qualquer momento, qualquer um podia ser sequestrado, algemado, preso, conduzido para Fortaleza e embarcado para o Sul do país sob severa disciplina e castigos corporais.
Para fugir das convocações, os recrutáveis se escondiam nas serras e matas; grandes proprietários escondiam seus negros cativos e agregados. Desorganizou-se a produção, irritando as elites, pois faltavam trabalhadores para a cultura do café, que dava algum lucro à província, e a rentável lavoura do algodão. A agricultura de subsistência foi igualmente atingida, e em 1867, Fortaleza viveu uma séria crise de abastecimento.
A reação interiorana não tardou: sertanejos ao tomarem conhecimento de que parentes ou amigos haviam sido recrutados, tratavam de libertá-los pela força igualmente. Em 1866 em Icó uma multidão cercou a delegacia local exigindo a leibertação de um morador, capturado para recruta. Após muita tensão, os populares atacaram o prédio, mataram dois policiais, feriram o chefe de polícia, libertaram o recruta e desfilaram em triunfo pelas ruas da cidade.
No ano de 1868, em Jaguaribe, um grupo de 50 pessoas armadas, provenientes de Icó, atacou os recrutadores do governo e libertou os voluntários aprisionados. Em Pedra Branca, no sertão central, um outro bando invadiu a cadeia da vila e colocou em liberdade os recrutas ali detidos.Em várias localidades no interior, sucederam-se fatos semelhantes.
Nunca se soube ao certo quantos cearenses foram mandados para o campo de batalha, mas estima-se em torno de seis mil pessoas, cerca de 1,16% da população do estado. A maioria, aproximadamente 4.700 acabou morrendo por lá.
Os historiografia local preferiu esquecê-los e exaltar os grandes generais, falar da coragem, da valentia e dos grandes feitos dos heróis da Guerra do Paraguai, ficando desprezadas as violências praticadas contra as camadas mais pobres da população cearense.

pesquisa:
História do Ceará, de Airton de Faria

5 comentários:

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

É mesmo, o voluntariado obrigatório,vai à frnte, para morrer, ficando a gloria, as honras, aos generais: aos ricos tudo, aos pobres nada!

Para consolo, ficam os nomes de vias públicas, toda cidade tem uma RUA VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA!

Coisas nossas!

Fatima Garcia disse...

Oi Lúcia,
trabalhando com o equipamento reserva, sentindo falta do scanner, do banco de imagens e dos textos. Só o nootbok quebrando o galho, acho que até a próxima semana ficamos assim. Pois já sabia que muitos dos voluntários nordestinos tinham sido capturados a laço, como animais, sem direitos, sem escolha. Essas histórias são convenientemente esquecidas p/não comprometer quem praticou tais atos. Toda cidade tem sua rua voluntários da pátria, isso é verdade, agora veja qtos logradouros tem o nome de Caxias.
bjs

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Até CIDADE, tem o Caxias....lá na Baixada Fluminense e em outras bandas.....COISAS NOSSAS!!!!

Votos de pronto restabelecimento dos equipamentos de trabalho!

Bom final de semana!

Unknown disse...

Não vamos nos esquecer, do que nossa elite, fez com o Paraguai, acabando com aquela que era a unica nação da América Latna, com nivel de vida comparada com a EUROPA.
Fomos apenas instrumento da Inglaterra, que como cachorrinhos de madame obedecemos.Não somos herois, herois são os Paraguaios

Unknown disse...

Odair, essa sua visão já está desacreditada... o mito do "Paraguai Industrializado e Utópico" foi repetido de forma cansativa por marxistas dos anos 80 para manchar a imagem dos heróis admirados pela ditadura... o Paraguai era o país mais atrasado da America do Sul, pra começar que nem saída pro mar tinha, e passou anos isolados... não tem como um país ser evoluído nessas condições... O Brasil é que foi agredido mesmo.