Cupom de bonde da Ceará Light - a passagem custava 100 réis. E o detalhe: a Light resgataria o cupom em favor das obras de caridade. Na desparecida Padaria Palmeira, (esquina da senador Pompeu com Guilherme Rocha) havia uma urna em que o povo depositava os cupons para os pobres (arquivo Blanchard Girão)
A partir de 1913, quando os bondes elétricos passaram a substituir
gradativamente, os bondes movidos a tração animal, andar de bonde passou a ser
um dos mais hilariantes passeios que se podia experimentar. As distâncias pareciam menores, ou os
caminhos cumpridos pelo veículo, encurtaram entre os diversos pontos da capital.
Os bondes se recolhiam na estação que se localizava na
confluência da Rua D. Leopoldina com a Avenida Visconde do Rio Branco, antigo
Calçamento de Messejana, e de lá partiam para os diversos pontos da cidade.
A movimentação começava cedo, logo às 5 horas,
com cada um dos operadores do veículo,
equipado com os instrumentos de trabalho – cupons, dinheiro trocado para
passar troco, uniforme adequado – o cobrador geralmente vestido com uniforme de brim e com
boné da mesma cor ou cáqui e quepe do mesmo tecido.
Quem precisava sair cedo de casa para pegar o bonde,
experimentava momentos agradáveis ao sentir que a cidade ainda dormia,
desfrutando da calma que reinava nas ruas, onde podiam ser vistos os padeiros,
verdureiros, leiteiro, todos nas suas lides em busca de fregueses para seus
produtos. Muitos deles utilizavam burros e cavalos.
Para que os bondes não utilizassem a mesma linha ao mesmo tempo, interrompendo a ultrapassagem, havia um desvio na própria linha, passando um pelo outro sem nenhum impasse. Em alguns desvios havia uma espécie de agulha, que virava a posição do trilho. (Avenida Visconde de Cauípe, atual Avenida da Universidade, em foto do arquivo Nirez)
O bonde seguia desenvolvendo sua marcha normal, quebrando
com o barulho sobre os trilhos, som a que os passageiros já estavam
habituados, despertando para o amanhecer
do dia com o toque da sineta anunciando a descida, bem como o toque para
prosseguir. Quando se aproximava o horário de finalizar o expediente, 11 horas,
era colocado no local do nome da linha a
palavra Recolher. Assim todos tinham conhecimento do horário, e partir dai o
bonde não pegava mais nenhum passageiro, nem parava nos pontos. Se apresentasse
algum defeito durante o trajeto, era colocada a placa indicativa – Estação –
sendo substituído por outro veículo. Sua retirada para a Estação do Bonde,
ponto de recolhimento era obedecida com rigor, dentro do horário estabelecido.
final de linha do bonde do Benfica, e o início da Avenida João Pessoa (arquivo Nirez)
O bonde que fazia a linha do Benfica cobria a parte sul da cidade. O bairro, àquela época era considerado um dos mais elegantes de Fortaleza, porque era onde residiam algumas das famílias mais mais abastadas. Como os demais, o bonde do Benfica saía da Praça
do Ferreira, em frente ao Palacete Ceará, seguia pela Floriano Peixoto e tinha
o ponto final em frente a Igreja de
Nossa senhora dos Remédios, na Avenida Visconde de Cauípe, atual Avenida da Universidade, quando inicia a
avenida João Pessoa.
o bonde que circulava em Fortaleza era o chamado Tramway, movido a eletricidade, amplo e arejado, porquanto todo aberto, valendo-se de sanefas de listras verdes e brancas como proteção da chuva e do sol mais intenso. Possuía dois estribos laterais, além de para-choques na parte posterior - igual de ambos os lados, trocando-se no final da linha, a posição da lança condutora de energia e o lugar do motorneiro. (foto: arquivo Nirez)
O trajeto se
iniciava na Praça do Ferreira, lado leste da Rua Floriano Peixoto e passava em frente ao Bar Jangadeiro, casa de
lanches e sorvetes de propriedade do comerciante Luis frota Passos. Nesse local
funcionou também a Farmácia Faladroga, hoje o local está ocupado com diversas
lojas de tecidos. O bonde então dobrava
na Rua Guilherme Rocha, seguia numa linha reta até alcançar a Rua General Sampaio,
em cuja esquina permaneceu por longos anos o famoso Bar Americano, ponto de parada de frequentadores, moradores do Benfica, que ali apanhavam o
bonde para se dirigir às suas residências.
A Rua General Sampaio, estava no trajeto do bonde do Benfica (arquivo Nirez)
Quando o bonde dobrava à esquerda na Rua General Sampaio,
seguia em linha reta até ultrapassar a Praça Clóvis Beviláqua, seguindo pela
Avenida Visconde de Cauípe. Ao chegar ao final da linha – Igreja Nossa senhora
dos Remédios, o bonde virava a lança e os bancos para fazer o itinerário de
volta ao centro. Fazia o mesmo trajeto,
pela Avenida da Universidade e na Rua General Sampaio dobrava à direita da Rua
Clarindo de Queiros, seguindo por trás da Igreja do Carmo, para entrar à esquerda na Rua Floriano Peixoto até chegar à Praça do
Ferreira.
fontes:
O Bonde e outras recordações, de Zenilo Almada
O Liceu e o Bonde na paisagem sentimental da Fortaleza-Província, de Blanchard Girão
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