quinta-feira, 12 de abril de 2012

Fortaleza 286 anos - A cidade que não existe mais

Em razão do descaso, da falta de sensibilidade e cultura, Fortaleza mudou sua fisionomia. Preciosidades da arquitetura do passado foram demolidas, descaracterizadas ou estão em lento processo de destruição. Das perdas irreversíveis, algumas chamam mais a atenção e clamam contra o descaso: 

Abrigo 3 de setembro (Abrigo Central)


O Abrigo Central não era um primor de arquitetura. Mas "caiu no gosto" da população. Ali  bem na Praça do Ferreira, era permitido conversar, debater livremente, sem qualquer distinção de classe.  O abrigo que o Prefeito Acrísio Moreira da Rocha mandara construir em 1949 para os passageiros de ônibus,  logo se transformaria em local de encontros e debates preferidos de todos.
Era frequente encontrar deputados esquecidos de que estavam no Abrigo, não no Palácio Senador Alencar, a se tratarem em seus apartes por “vossa excelência”, enquanto ao lado, na roda em que se discutia futebol, os torcedores usavam expressões chulas.
Estas liberalidades únicas no Abrigo Central chocavam os elitistas e reacionários, que não cansavam de fazer campanha contra o espaço. Reclamavam das linhas arquitetônicas, da suposta sujeira, da frequência. Por fim, clamavam pela destruição do local.  Conseguiram. 
No dia 2 de maio de 1966 foi iniciada a sua demolição, sob a alegação de que ameaçava ruir. A empresa que ganhou a concorrência para executar a obra, usou até dinamite na demolição. 

Intendência Municipal

O sobrado foi erguido em 1825 por Francisco José Pacheco de Medeiros sendo o primeiro imóvel de tijolo e telha a levantar-se em Fortaleza.
Foi também um dos primeiros a contar com um relógio público. tendo sido adquirido pelo governo para sediar a Intendência Municipal. Em 1941, todo o quarteirão que ficava entre as Ruas Major Facundo, Pará, Floriano Peixoto e Guilherme Rocha, foi demolido,  na gestão do prefeito Raimundo de Alencar Araripe (1936-1945), para a construção de um edifício que abrigaria a Prefeitura Municipal. 
Foi apenas mais uma região de Fortaleza varrida do mapa por reformas urbanas questionáveis e sem planejamento adequado. Tanto isso é verdade, que o tal  prédio nunca foi sequer iniciado e no local foi construído de inicio uma pequena praça, depois o Abrigo Central e por fim, o alongamento da Praça do Ferreira.

Cine Majestic

O dia 14 de julho de 1917, marca a a inauguração do Cine Teatro Majestic Palace, sendo o dia 14, a inauguração do palco, com a apresentação da transformista italiana Fátima Miris e dia 20 do cinema, com a película "L`Amica". A inauguração do Cine Teatro Majestic causou furor na cidade, um equipamento moderno,e muito sofisticado,  construído pelo comerciante Plácido de Carvalho. O Majestic foi instalado num imponente edifício de quatro andares, na Rua Major Facundo, Praça do Ferreira.
A sala de projeção que também era teatro, era toda em ferro como no Teatro José de Alencar. Tinha 650 cadeiras no térreo e nos dois andares onde ficavam os camarotes e a geral. No dia 04 de abril de 1955,  irrompeu um incêndio no edifício Majestic fechando provisoriamente o cinema, que passou a ter sua entrada pela Rua Barão do Rio Branco e atingiu as Lojas Brasileiras de preços limitados a 4 e 400, que funcionava no prédio.Em 01 de janeiro de 968 outro incêndio fecha o Cine Majestic, desta vez para sempre, pois destruiu a sala de projeção.


Cine Moderno


Localizado na Praça do Ferreira, tinha fachada monumental, lembrando um palácio egípcio, com duas volumosas torres e marquise em forma de cauda de pavão, com vidros multicores. Seu interior, totalmente art-nouveau, as bilheterias de madeira entalhada e gradis de bronze dourado. A sala de espera formava meias paredes com canais de escoamento, em rico trabalho de talha em madeira entremeada de espelhos bisotados. Tinha sofás estofados em couro negro, integrados às paredes. A sala de projeção era longa e estreita, com pequeno balcão. 

Dezenas de portas laterais davam para as áreas externas, que só eram abertas nas sessões noturnas. Foi inaugurado em 7 de setembro de 1921, na rua Major Facundo, 594, na Praça do Ferreira, e era propriedade do grupo Severiano Ribeiro. A sala de projeção ficava de frente para a rua, e tinha 709 poltronas também de couro preto.  Foi o primeiro cinema a adotar a sonorização, com o filme Broadway Melody, em 1930. O Cine Moderno foi fechado em 21 de maio de 1968 e o prédio foi vendido para o grupo Edson Queiroz.



Fênix Caixeiral 




Em 1904, a Fênix Caixeiral, começou a construir o prédio para sua sede própria, localizado na esquina noroeste das Ruas General Sampaio e Guilherme Rocha.
O palacete tinha um andar superior e um porão,  com frente e escadaria para a Praça Marquês de Herval (Atual José de Alencar). 
No alto dominava a escultura, o mitológico pássaro de Osíris. Foi inaugurado em 1905. Como fosse pequeno para abrigar as diversas dependências da associação e a sua Escola de Comércio, resolveu construir outra casa maior, no terreno da Rua 24 de Maio esquina noroeste com a Rua Guilherme Rocha, onde estivera a residência do Comendador Antonio Pinto Nogueira Accioly, Presidente do Estado, e que fora totalmente incendiada e saqueada por populares, no dia 9 de novembro de 1912. 
A segunda sede foi inaugurada em 1915, numa das esquinas da Praça José de Alencar, um edifício de dois pavimentos e 1.163 metros quadrados. Mas a Fênix Caixeiral aos poucos foi perdendo o esplendor de sua atuação nos meios comercial, social e cultural da cidade, e por fim, viu-se obrigada a vender sua sede, da esquina da Rua 24 de maio com Rua Guilherme Rocha, ao Grupo Ximenes Tecidos. Em 8 de junho de 1984 começou a demolição do prédio da Fênix. Junto com o prédio vieram abaixo a imponente escadaria de madeira, os grandes salões nobres e sociais, e até um pequeno museu. Mosaicos alemães, forro de cedro, assoalhos de cetim, tudo virou escombros. Parte do acervo interno e da mobília, foram transferidos para a nova sede da instituição na Avenida Imperador. O prédio foi demolido quando estava prestes a completar 89 anos.   

fotos: Arquivo Nirez e Marciano Lopes
Fontes:
Alberto S. Galeno
Nirez
Raimundo Girão
João Nogueira
Marciano Lopes

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