Rua d'Amélia (Senador Pompeu) a partir da Travessa da Misericórdia (Dr. João Moreira) totalmente residencial, com ficus-benjamins recortados em forma de meias esferas. A pavimentação era de concreto. (foto acervo Marciano Lopes)
Na primitiva Rua Amélia, atual senador Pompeu, havia uma
elevação muito sensível entre as Ruas
das Hortas e Assembleia (atuais Senador Alencar e São Paulo). Eram os restos de
uma lombada que formava a vertente sul de um riacho que vinha do campo da
Amélia vasto território e imenso areal onde hoje se acham situadas a Praça
Castro Carrera (ou Praça da Estação) e vizinhanças.
Pela convergência das águas pluviais para o cruzamento da
Rua Formosa (Barão do Rio Branco) com o das Flores (Castro e Silva), esse
riacho ali fazia junção com o Lagoinha. Este local ficava inundado no tempo das
grandes chuvas. Havia ainda, no meio das ruas, um poço redondo, a boca
protegida por uma grade circular de ferro. Era a entrada de uma galeria
subterrânea, que levava ao mar as águas pluviais ali acumuladas.
Rua Major Facundo entre Liberato Barroso e Guilherme Rocha (arquivo Nirez)
Nos princípios do século XIX esses riachos, já reunidos,
passavam pelo local do sobrado do Dr. José Lourenço, à Rua da Palma (Major
Facundo), onde estava o Tribunal da Relação; pelos terrenos vizinhos e no sobrado
onde funcionou a botica de Turíbio Mota, na Praça da Assembleia; e daí
continuando pelo Beco do Inglês (mais tarde Travessa Crato), ia desaguar no
Pajeú, à Praça da Matriz (Praça da Sé), próximo a Rua do Sampaio (Governador
Sampaio).
Praça da Sé em data não especificada (Arquivo Nirez)
Um dia a Câmara Municipal mandou abaixar o calçamento
daquele trecho da Rua Amélia, deixando-a num nível muito mais baixo. Em
consequência, as calçadas que acompanhavam
e conservavam a ondulação do terreno, ficaram altas, e em alguns pontos,
com cerca de dois metros acima do calçamento. Subiram sem se elevar, no dizer
de Euclides da Cunha.
Estas calçadas, especialmente as do lado da sombra, eram
estreitas, desiguais e perigosas. Não permitiam as amplas rodas de calçadas,
tão do gosto do fortalezense; e vários transeuntes levaram ali boas quedas.
O jornalista João Brígido morava em plenas calçadas altas, e
aborrecido com os inconvenientes que traziam, abaixou um pouco a sua, para
tempos depois, deixa-la ao nível atual, quando se fez o rebaixamento geral
daquelas calçadas.
Ainda na Rua Amélia, em 1876, havia no quarteirão do Teatro
São José ¹, havia umas casas, do lado do sol, que tinham batentes de alvenaria na porta
da rua. Provavelmente ali também houve calçadas altas em época remota. A mesma
coisa parece ter acontecido na Rua Municipal (atual Guilherme Rocha), onde
algumas casas tinham uma escada de acesso para a sala da frente, o que indica
ter-se rebaixado o leito primitivo da rua.
Rua Barão do Rio Branco entre Liberato Barroso e Guilherme Rocha em 1910 (arquivo Nirez)
Se a Câmara Municipal resolvesse nivelam também a Rua Formosa (Barão
do Rio Branco), desde a Rua D. Pedro (Pedro I) até a Assembleia, as calçadas do
trecho entre Trincheiras e Municipal (Liberato Barroso e Guilherme Rocha) ficariam
tão altas que o sobrado do Farias e do antigo Ateneu, seu vizinho, ficariam com ares de arranha-céu.
Antes da aparição destas calçadas altas, era o sótão daquele sobrado o ponto
mais elevado da cidade.
Extraído do
livro
Fortaleza
Velha, de João Nogueira
1. O Teatro São José atualmente localizado na Rua Rufino de Alencar, foi inaugurado em 1875, na Rua Amélia, correspondente aos números 921 e 937, entre as ruas Guilherme Rocha e Liberato Barroso, segundo Raimundo Girão, em Geografia Estética de Fortaleza, p 211.
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