sexta-feira, 27 de abril de 2012

As Calçadas Altas


Rua d'Amélia (Senador Pompeu) a partir da Travessa da Misericórdia (Dr. João Moreira) totalmente residencial, com ficus-benjamins recortados em forma de meias esferas. A pavimentação era de concreto. (foto acervo Marciano Lopes)

Na primitiva Rua Amélia, atual senador Pompeu, havia uma elevação muito sensível  entre as Ruas das Hortas e Assembleia (atuais Senador Alencar e São Paulo). Eram os restos de uma lombada que formava a vertente sul de um riacho que vinha do campo da Amélia vasto território e imenso areal onde hoje se acham situadas a Praça Castro Carrera (ou Praça da Estação) e vizinhanças.
Pela convergência das águas pluviais para o cruzamento da Rua Formosa (Barão do Rio Branco) com o das Flores (Castro e Silva), esse riacho ali fazia junção com o Lagoinha. Este local ficava inundado no tempo das grandes chuvas. Havia ainda, no meio das ruas, um poço redondo, a boca protegida por uma grade circular de ferro. Era a entrada de uma galeria subterrânea, que levava ao mar as águas pluviais ali acumuladas.

Rua Major Facundo entre Liberato Barroso e Guilherme Rocha (arquivo Nirez)

Nos princípios do século XIX esses riachos, já reunidos, passavam pelo local do sobrado do Dr. José Lourenço, à Rua da Palma (Major Facundo), onde estava o Tribunal da Relação; pelos terrenos vizinhos e no sobrado onde funcionou a botica de Turíbio Mota, na Praça da Assembleia; e daí continuando pelo Beco do Inglês (mais tarde Travessa Crato), ia desaguar no Pajeú, à Praça da Matriz (Praça da Sé), próximo a Rua do Sampaio (Governador Sampaio).

Praça da Sé em data não especificada (Arquivo Nirez)

Um dia a Câmara Municipal mandou abaixar o calçamento daquele trecho da Rua Amélia, deixando-a num nível muito mais baixo. Em consequência, as calçadas que acompanhavam  e conservavam a ondulação do terreno, ficaram altas, e em alguns pontos, com cerca de dois metros acima do calçamento. Subiram sem se elevar, no dizer de Euclides da Cunha.
Estas calçadas, especialmente as do lado da sombra, eram estreitas, desiguais e perigosas. Não permitiam as amplas rodas de calçadas, tão do gosto do fortalezense; e vários transeuntes levaram ali boas quedas.
O jornalista João Brígido morava em plenas calçadas altas, e aborrecido com os inconvenientes que traziam, abaixou um pouco a sua, para tempos depois, deixa-la ao nível atual, quando se fez o rebaixamento geral daquelas calçadas.
Ainda na Rua Amélia, em 1876, havia no quarteirão do Teatro São José ¹, havia umas casas, do lado do sol, que tinham batentes de alvenaria na porta da rua. Provavelmente ali também houve calçadas altas em época remota. A mesma coisa parece ter acontecido na Rua Municipal (atual Guilherme Rocha), onde algumas casas tinham uma escada de acesso para a sala da frente, o que indica ter-se rebaixado o leito primitivo da rua.

Rua Barão do Rio Branco entre Liberato Barroso e Guilherme Rocha em 1910 (arquivo Nirez)

Se a Câmara Municipal resolvesse nivelam também a Rua Formosa (Barão do Rio Branco), desde a Rua D. Pedro (Pedro I) até a Assembleia, as calçadas do trecho entre Trincheiras e Municipal (Liberato Barroso e Guilherme Rocha) ficariam tão altas que o sobrado do Farias e do antigo Ateneu, seu  vizinho, ficariam com ares de arranha-céu. Antes da aparição destas calçadas altas, era o sótão daquele sobrado o ponto mais elevado da cidade.

Extraído do livro
Fortaleza Velha, de João Nogueira 

1. O Teatro São José atualmente localizado na Rua Rufino de Alencar, foi inaugurado em 1875, na Rua Amélia, correspondente aos números 921 e 937, entre as ruas Guilherme Rocha e Liberato Barroso, segundo Raimundo Girão, em Geografia Estética de Fortaleza, p 211.

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