sexta-feira, 2 de março de 2012

José Barros Maia (Mainha) - O Arquiteto de Fortaleza


Mainha em 1919, aos 18 anos

José Barros Maia, o Mainha, nasceu em Fortaleza em 19 de abril de 1901, numa casa da Rua General  Sampaio, depois da Praça de Pelotas (atual Clóvis Beviláqua), filho de  Manuel Evaristo Maia, de profissão ourives e joalheiro e Júlia Barros Maia. Ainda menino, seu pai mandou botar uma banca na sua oficina, para que Mainha tomasse conta e aprendesse o ofício de ourives. Mas o menino não ficou muito interessado, preferiu fazer o preparatório no Liceu e depois arranjou um emprego para fazer um estudo do Açude do Orós, no cargo de desenhista.  

Mainha trabalhando na firma Conrado Cabral S/A, por volta de 1926

Mainha conta que virou arquiteto por acaso, quando foi convidado a fazer os projetos de fachadas de Fortaleza.  Na época só existiam revistas técnicas, e foi por elas que o arquiteto adquiriu seus conhecimentos no assunto. 

Mainha em um calhambeque em companhia de Meton Pinto (anos 10 ou 20) 

E foi na condição de arquiteto por vocação, que José Barros Maia participou de grandes projetos em Fortaleza. Projetou a reforma do Palácio do Governo, que nem chegou a ser realizada. Seu primeiro grande trabalho foi a construção do primeiro pavimento do Colégio da Imaculada Conceição. O mestre Domingos dos Reis foi convidado para fazer o projeto do novo andar e Mainha fez o projeto desse trabalho e mais uma escada interna, para as alunas do colégio tirarem fotografias. 

Capela do Colégio Juvenal de Carvalho em foto de 1931 (arquivo Nirez) 

Participou da reforma de diversas igrejas de Fortaleza: a do Cristo Rei, a Capela do Colégio Juvenal de Carvalho, a Igreja de Nossa Senhora das Dores. Mainha também participou da construção de ginásios, como o do Grupo Escolar Juvenal de Carvalho, em 1925/26. O prédio sofreu muitos acréscimos depois. 

A Igreja do cristo Rei foi projetada para ser uma pequena capela gótica, mas os jesuítas foram aumentando o prédio sem pensar no acabamento. Quando chegou a hora do acabamento criou-se um impasse, porque a torre era muito grande e a seta monumental. Mainha foi procurado pela empresa Odebrechet para fazer um estudo. O arquiteto solucionou a questão com um "gótico truncado", que se prestava justamente para a Igreja do Cristo Rei. O projeto foi aprovado. (foto do arquivo Nirez)

 Trabalhou igualmente na Ponte dos Ingleses, como desenhista. A ponte foi projetada pelo engenheiro inglês Ivan Coop. O Superintendente do serviço era J. H. Kirwood. Mainha entrou no projeto que era empresariado pela Norton Griffiths and Co. Ltd, e saiu como revisor técnico, isto é, como responsável técnico da construção da ponte.  Entre 1923 e 1924, o presidente Artur Bernardes suspendeu  os trabalhos. Bernardes supervisionou todas as obras do nordeste, deixando os funcionários com três meses de atraso salarial.

Projeto de José Barros Maia, a casa que abriga o Museu da Imagem e do Som conta com a proteção de dois leões de porcelana vindos da cidade do Porto. Datadas do início do século XX, estas peças são a marca registrada deste prédio histórico.  (foto do blog da diversão) 

A casa que hoje abriga o Museu da Imagem e do Som também foi projetada por Mainha para servir de residência ao Senador Fausto Augusto Borges Cabral, sendo inaugurada em novembro de 1951.

Praça do Ferreira - década de 1940 (arquivo Nirez)

Mainha cresceu vendo a cidade crescer desde 1901. Acompanhou por dentro e por fora o frenético processo de transformação da capital por todo o século XX. Contribuiu de forma indelével para a feição que Fortaleza foi incorporando nestes admiráveis tempos modernos, pois foi ele o autor de várias obras arquitetônicas que desenharam o rosto que Fortaleza tem e que não para de ser retocado.


Antiga Sé, demolida juntamente com o Cruzeiro em 1938 (acervo Marciano Lopes)

Viu também, com olhos de pesar, tantas e tantas construções expressivas de nosso passado, lugares da memória afetiva da Cidade, desaparecerem pelo descaso dos poderes públicos e privados para com o patrimônio histórico de Fortaleza. Mainha, pelo profundo conhecimento que detinha do espaço social urbano, sabia das graves consequências que pairam sobre uma sociedade que olha para si e não se reconhece mais.

Mainha recebe a placa de Honra ao Mérito pelos relevantes serviços prestados à cultura e à ciência, numa homenagem prestada pela Fundação Cultural de Fortaleza em 1993.

O velho arquiteto José Barros Maia, mentor de boa parte da cara e da alma de Fortaleza, faleceu no dia 9 de agosto de 1996, aos 95 anos de idade.

extraído do livro
Roteiro Sentimental de Fortaleza
  lembrar é viver de novo - depoimento de José Barros Maia. 
Apresentação de Sebastião Rogério Ponte.
UFC-NUDOC/SECULT-CE, 1996  

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