sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Pirambu, Reino da Pobreza e Exclusão Social


 Pirambu - Fortaleza  
foto Fátima Garcia

De acordo com dados divulgados pelo IBGE, relativos ao Censo Demográfico de 2010, a nona maior favela do Brasil está em Fortaleza, mais precisamente, no Pirambu. Com 42.878 habitantes, e  11.630 lares,  o Pirambu consta na lista dos aglomerados subnormais mais relevantes do País, segundo a pesquisa.

O conceito de aglomerado subnormal foi utilizado pela primeira vez no Censo Demográfico de 1991. Possui certo grau de generalização de forma a contemplar a diversidade de assentamentos irregulares existentes no país, conhecidos como favelas, invasões, grotas, baixadas, comunidades, vilas, ressacas, mocambos, palafitas, entre outros.

O IBGE  classifica como aglomerado subnormal cada conjunto constituído de, no mínimo, 51 unidades habitacionais carentes, em sua maioria, de serviços públicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular) e estando dispostas, em geral, de forma desordenada e densa. A identificação atende aos seguintes critérios:

Alagamento em área de risco - Fortaleza (foto jangadeiro online)
Ocupação ilegal da terra, ou seja, construção em terrenos de propriedade alheia (pública ou particular) no momento atual ou em período recente (obtenção do título de propriedade do terreno há dez anos ou menos); e

Possuírem urbanização fora dos padrões vigentes (refletido por vias de circulação estreitas e de alinhamento irregular, lotes de tamanhos e formas desiguais e construções não regularizadas por órgãos públicos) ou precariedade na oferta de serviços públicos essenciais (abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de lixo e fornecimento de energia elétrica).

área de risco em Fortaleza (lagoa da zeza) foto Diário do Nordeste
Os aglomerados subnormais frequentemente ocupam áreas menos propícias à urbanização.  Em Fortaleza encontram-se predominantemente, em áreas de praia.

A pesquisa também aponta que Fortaleza lidera o ranking, contabilizando 194 assentamentos irregulares de um total de 14 municípios. Caucaia aparece logo em seguida, com 14 ocupações e Guaiuba com quatro. Aquiraz, Camocim, Granja, Itaitinga, Juazeiro do Norte, Maracanaú, Maranguape, Pacatuba, Pentecoste, Quixadá e Senador Pompeu também são municípios cearenses que possuem aglomerados irregulares.

De acordo ainda com os números divulgados, o Ceará é o terceiro estado do Nordeste, com 226 assentamentos irregulares, ficando atrás dos da Bahia, com 280 e de Pernambuco, com 347 ocupações. Ao todo são 441.937 pessoas residindo em domicílios particulares nestes aglomerados no Ceará.

Em relação aos outros estados brasileiros, o Ceará ocupa a sexta posição no ranking. Além de possuir números inferiores a Pernambuco e Bahia, o Estado perde também para Minas Gerais, com 372; Rio de Janeiro, com 1.332 e São Paulo, com 2.087 aglomerados.

Sobre o Pirambu

Orla marítima do Pirambu  
 foto Fátima Garcia

A origem do bairro Sua origem remonta ao final do Séc. XIX,  quando a capital recebeu levas de flagelados que fugiam das secas que assolavam o interior do estado.  A população indigente foi se alojando em barracos,  em terrenos próximos à ferrovia, às indústrias, à zona de praia, e às margens dos rios, áreas desprezadas pelos grupos sociais de maior poder aquisitivo.

Desde então a ocupação da área hoje correspondente ao bairro do Pirambu, só aumentou: desordenada, descontrolada e sem uma urbanização adequada. 

rua do Pirambu
 foto Fátima Garcia

O ordenamento das ruas da que é considerada a maior favela do Ceará, não segue um padrão. À medida que se embrenha pelas vias em direção ao mar ou ao sertão, as ruas vão se estreitando continuamente. Quanto mais se afasta da avenida Presidente Castelo Branco,     (Avenida Leste Oeste), mais as condições de moradia no bairro se tornam precárias.

Devido a atuação de diversas entidades como associações, ONG’s, e até da Igreja católica, representada pelo Padre Hélio Campos, que permaneceu durante muitas anos à frente da paróquia do Pirambu, as condições de vida e de moradia melhoraram bastante,  mas estão longe de atingir as condições mínimas de dignidade. O resultado da pesquisa do IBGE atesta o fato.
  
Rua do Pirambu
foto Fátima Garcia

Segundo o Censo Demográfico de 2010:
6%  dos  brasileiros  vivem em aglomerados subnormais;
O Ceará é o 3° colocado no Nordeste, em número de aglomerados subnormais com um total de 226 aglomerados;
Em Fortaleza, dos 108.903 domicílios em aglomerados subnormais, 2.906 não dispõem de tratamento adequado para o lixo. 
O local com maior índice é o Marrocos (no bairro Bom Jardim). Dos 519 domicílios, 63% não coletam.
7.958 não dispõem da forma correta de abastecimento de água. 
A maior deficiência, com 13% do total, é o Pirambu.
29.924 não dispõem do serviço de rede geral de esgoto. 
O local com maior deficiência é Borba Gato. Dos 3.567 domicílios, 2.488 não possuem rede de tratamento de esgoto.

Ranking Nacional em Aglomerados Subnormais:

1-Rocinha – Rio de Janeiro  –  23 352 domicílios
2-Rio das Pedras – Rio de Janeiro –  18 700 domicílios
3-Sol Nascente – Brasília –  15 737 domicílios
4-Casa Amarela – Recife – 15 215 domicílios
5-Coroadinho – São Luís –  14 278 domicílios
6-Paraisópolis – São Paulo – 13 071 domicílios
7-Baixadas da Estrada Nova Jurunas – Manaus – 12 666 domicílios
8-Heliópolis – São Paulo – 12 105 domicílios
9-Pirambu – Fortaleza – 11 630 domicílios

Ranking Municipal

1-  Pirambu – 42.878 pessoas
2 - Lagoa do Coração – 19.256 pessoas
3 -  Alto do Bode – 16.495 pessoas
4 -  Giona’s Motel – 14.293 pessoas
5 -  Borba Gato – 12.950 pessoas
6 -  Língua de Cobra 12.379
7 -  Farol – 10.112 pessoas
8 -  Pantanal III – 9.419 pessoas


Fontes:
IBGE
Jornal O Povo
Jornal Diário do Nordeste

8 comentários:

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Que calamidade!
Conheci o Pirambu quando apenas um bairro pobre. Dava até pra se ir tomar banho de mar, sem medo...já lá foram 50 amos...!

Excelente postagem: pelo texto, fotos, estatística e, principalmente, pela divulgação de Fortaleza NÃO bela...

Ana Luz disse...

Trabalhei em uma grande escola do Pirambu.Era um bairro pobre mas não tão grande nem tão miserável.A comunidade era acolhedora,tínhamos alunos maravilhosos,sei que muitos prosperaram na vida.Tenho notícias de alguns projetos de voluntários que atuam no Pirambu,porém insuficientes para tanta gente e tantos problemas.Observa-se a ausência do poder público.

Fátima Garcia disse...

a situação atual do Pirambu deixa claro a inutilidade e a ineficiência das ações governamentais e dos projetos que já foram realizados na área: noves fora, nada!

@luar_ disse...

O pirambu pode ser um bairro pobre e miserável, mas tem muita gente lá que é melhor e mais humilde que muita gente que mora nas altas sociedades #FicaAdicA

Fátima Garcia disse...

nunca dissemos o contrário, @luar

instituto polvo disse...

BOA NOITE!!
É IMPRESSIONANTE NOS DEPARARMOS COM A REALIDADE QUE FINGIMOS NÃO EXISTIR,E TRISTE PERCEBER QUE NENHUMA GESTÃO É CAPAZ DE PROPICIAR MUDANÇAS SATISFATÓRIAS PARA A POPULAÇÃO QUE REALMENTE PRECISA. PARABÉNS PELO TRABALHO,GOSTARIA DE PODER COMPARTILHAR SUAS FOTOS.
JEANE CALIXTO.

Anônimo disse...

Não é só os governantes que tem que mudar,se os moradores transformassem esse lugar cuidando,não seria assim....a melhoria começa nas ações das pessoas...estive nesse bairro a passeio e gostei.pretendo voltar em breve....vamos buscar o lado bom que deve ter.

Unknown disse...

Fiz uma pesquisa semana passada no site do Jornal OPovo e a informação que tive é a de que o Pirambu está em sétimo lugar como maior do Brasil. Gostaria que tirasse a dúvida que ficou, ao ler seu relato, o qual diz que é o nono. Nota: A publicação que li é de 22/12/2011, logo sendo um dia de diferença de sua publicação, Fátima Garcia.