quinta-feira, 2 de junho de 2011

O Lazer e o Prazer nas Ruas de Fortaleza

praia formosa em 1892 (acervo MIS)
Na Fortaleza da década de trinta, o banho de mar ainda não fazia parte do programa de finais de semana. A Praia de Iracema que fora durante anos o cartão postal da cidade, onde a beleza natural atraía os visitantes, foi destruída com o avanço do mar, por causa das obras do Porto do Mucuripe. 
Entretanto, outros pontos do litoral começaram a aparecer na lista dos admiradores dos ambientes naturais. 
Na Barra do Ceará, na zona oeste da cidade e considerada distante do centro, o rio Ceará, que ali deságua, fora escolhido como local de pouso de hidroaviões que atendiam aos viajantes privilegiados, capazes de arcar com os gastos de uma passagem área. 
Um prédio foi instalado nas imediações, dispondo de luz elétrica, banheiros e serviços de copa e cozinha, a fim de abrigar os passageiros ou curiosos dos voos programados. Embora se alimentasse a expectativa de que a Barra do Ceará seria um logradouro que viraria um dos points  preferidos da população, a opção de passeio e frequência do lugar ficava restrito aos que acompanhavam os passageiros dos hidroaviões. 
Após a Segunda Guerra, a Barra do Ceará voltou a ser área excluída do lazer das elites e da administração municipal. A pobreza foi o agente de ocupação dos terrenos à beira-mar, estendendo-se até a miséria chocante que já se concentrava no Pirambu.
Praia do Mucuripe ao fundo o antigo farol (Ah, Fortaleza!) 
O interesse dos fortalezenses pela orla limitava-se à Praia Formosa, Iracema e Meireles, que ficavam próximas. A de Iracema passara a ser valorizada com a construção de residências de alto padrão, sendo algumas de veraneio, mas as obras do porto e o consequente avanço do mar diminuíram a extensão da faixa de praia, afastando os adeptos do banho de mar. 
A esperada modernização da cidade com as obras do porto, prejudicara fortemente a opção de lazer que começara a ser valorizada no pós-guerra. Como medida de prevenção ao contínuo avanço do mar, foram colocados diques de pedra restando apenas um exíguo espaço para os banhistas. 
Praia do Meireles, ao fundo, o Mucuripe (Ah, Fortaleza!)
A área de praia começava nas proximidades do Clube dos Diários prolongando-se até a Volta da Jurema. A Praia do Futuro, situada além do porto, constituía um desejo longínquo. Na década de cinquenta a afluência de banhistas aumentou e foram instalados dois postos de salvamentos, instalados no Meireles. 
Por conta desse aumento de demanda, em 1956 as praias já eram consideradas sujas, com lixo acumulado. Havia reclamação quanto ao comportamento dos frequentadores, da molecagem e da presença de mulheres de má reputação que ocupavam trechos para onde se deslocavam as famílias. 
Praia de Iracema em 1928 (acervo MIS)
O trecho preferido chegava ao Iate Clube, onde a praia tornara-se muito concorrida. A Praia de Iracema perdera o atrativo, com as casas ameaçadas pelas marés; a Praia Formosa ia sendo tomada por casebres de zinco e palha, pelos prostíbulos e pelo lixo acumulado.  
Desde 1945, a Secretaria de Segurança Pública, incentivada pelo jornal católico O Nordeste, passou a reprimir a falta de moralidade nas praias. 
A igreja, no combate à moralidade associava-se ao rigor policial, que impunha a repressão como um recurso sadio, influenciada pelo autoritarismo, incrustado na política da década anterior. A caça à falta de pudor e a libertinagem passava à deriva dos problemas sociais que pareciam ser ignorados. Por trás da indecência, pelo menos em considerável percentual, encontrava-se a miséria dos que se envolviam com a prostituição como saída de sobrevivência. 
O exagero da caçada policial também visava atingir os namorados indecentes  e  vagabundos, que se exibiam pelas ruas. A imoralidade a ser combatida era principalmente, oriunda das classes inferiores. O uso de calções e maiôs nas praias jamais deveriam ser adotados por pessoas católicas, e recomendava-se aos confessores que não absolvessem os fiéis que
admitissem que os usavam.

Fonte: 
Verso e reverso do perfil urbano de Fortaleza, de Gisafran Nazareno Mota Jucá  

2 comentários:

Anônimo disse...

Drª Fátima, causa-me estranheza por que esse seu "Fortaleza em Fotos e Fatos" não ascendeu á notoriedade merecida do governo do Ceará. Trata-se de obra importantíssima nas escolas cearenses, pois é a memória indelével de um povo. A senhora tem o dom dos grandes mestre das artes, pois desnuda nossa "Terra de Luz" com leveza e sem constrangimentos. Agora, quero agradecer seu registro sobre os conterrâneos esquecidos: Marcus Miranda e Toinho Menezes e que serviram de degraus para a fama de "ingratos" midiático.Como é bom rememorar cenas infantis - Vídeo Alegre etc. Por fim, a senhora já foi agraciada com a "Sereia de Ouro" e convidada do Aderbal Freire-Filho (Arte do Artista).
Parabéns em conhecê-la!

Fátima Garcia disse...

Grata pela sua gentileza Francisco Magalhães, de fato tenho grande admiração pelos precursores da TV Ceará, aprecio a criatividade e a coragem deles. abs