Visita do presidente Getúlio Vargas à estação de psicultura do DNOCS, em 1940, local onde hoje funciona a Residência Universitária. (arquivo Nirez)
Com a implantação do Estado Novo (1937-45) e a consolidação do modelo administrativo centralizador implantado pelo governo Vargas desde a Revolução de 30, Fortaleza continuou sofrendo mudanças pelos quais se percebia os ideais de ordem e progresso, defendidos nacionalmente pela ditadura getulista.
As intervenções urbanas objetivavam a modernidade e a civilidade, e buscavam, a todo custo, ocultar as contradições sociais que se evidenciavam no próprio espaço urbano e na atuação dos governantes: áreas nobres priorizadas e áreas pobres esquecidas e controladas. Mascaravam-se as desigualdades sociais e atribuíam-se os problemas urbanos aos vícios e a preguiça dos pobres e ao constante êxodo rural, sobretudo nos períodos de seca. Cada vez mais se exaltava a racionalidade técnica, mas numa perspectiva autoritária, sem levar em conta as necessidades da população mais pobre.
Os discursos sobre a cidade enfatizam a necessidade de um planejamento eficiente e de uma organização social em que todos colaborassem na solução das carências de moradia, saúde, educação, água, luz, saneamento e no disciplinamento da massa de ignorantes.
À época a prefeitura municipal não tinha diretrizes para elaboração de políticas públicas para as áreas sociais. A busca de solução para os problemas ficava a cargo de entidades beneficentes que, com subvenções do governo ou doação de particulares, tentavam resolver a questão da pobreza de forma assistencialista e caritativa.
Prédio da Sociedade de São Vicente de Paulo, na Rua Jaime Benévolo, na Praça do Coração de Jesus, em 1912 (arquivo Nirez)
Assim surgiram o Dispensário dos Pobres, Associação das Senhoras de Caridade, Asilo de Mendicidade, e alguns que já existiam como a Sociedade São Vicente de Paula, dentre outros. Além do aspecto assistencialista, havia a intenção de tentar controlar aquele exército de mendigos, crianças abandonadas e loucos, era necessário retirá-los das ruas, para que não travassem o progresso, nem manchasse a imagem de modernidade que as autoridades buscavam difundir.
foto: http://www.pm.ce.gov.br
Dentre os problemas mais urgentes estavam o combate às doenças e a falta de hospitais – o prédio da chamada Assistência Municipal seria inaugurado em 1940, visando o atendimento médico popular de emergências – antes havia o Serviço de Pronto Socorro, inaugurado em 1932 na Santa Casa de Misericórdia e transferido em 1936, para o Hospital da Polícia Militar. A deficiência na educação era notória.
Prédio do Assistência Municipal no dia da sua inauguração em 26 de maio de 1940, na esquina das Ruas Senador Pompeu com Antonio Pompeu, na antiga Praça de Pelotas. (arquivo Nirez)
Em 1943 Fortaleza contava com apenas 43 escolas subvencionadas pela prefeitura e distribuídas pelos bairros pobres. A propaganda oficial, no entanto, dava grande destaque à Cidade da Criança, localizada no Parque da Liberdade e voltada para a educação infantil, com a mais moderna orientação pedagógica e avançados equipamentos em sala de aula e recreação. O público contemplado, porém, era ínfimo.
Estádio Presidente Vargas em 1940
foto http://www.skyscrapercity.com
No ano de 1941 foi inaugurado o Estádio Presidente Vargas.
A ditadura getulista valorizava o esporte, especialmente o futebol, não só como uma maneira de aprimorar o físico, mas como ideário cívico e congraçamento de classes. Getúlio viu no futebol uma estratégia para se aproximar das massas, ofertando distrações e lazer à crescente população urbana, aliviando as tensões sociais e buscando legitimar-se no poder, afinal chegara ao governo através de um golpe de estado.
O Estádio que ganhou o nome do presidente contava com instalações ultramodernas para a época. Era murado, tinha arquibancadas de madeira, iluminação para jogos noturnos, uma cerca de madeira separando o campo das torcidas, e a grande maravilha – um gramado!
O PV era também um espaço para os desfiles comemorativos das festas cívicas da cidade.
Em 1945, após a queda de Getúlio Vargas passou a ser chamado de Estádio Municipal e novamente PV com o retorno do pai dos pobres ao poder já nos anos 1950.
O trânsito continuava a ser um problema, pela limitada malha viária da cidade, pela precária pavimentação das ruas, pela desorganização do fluxo e pelos acidentes que se tornaram corriqueiros.
Se no ano de 1929 Fortaleza contava com pouco mais de seiscentos veículos, entre automóveis, ônibus, motos, caminhões, e bondes, em 1944 o número saltara para 1287 veículos, que representava um aumento substancial, levando-se em conta que durante a 2ª. Guerra mundial (1939-1945), a entrada de automóveis no Brasil sofreu uma redução, devido, principalmente, ao racionamento de combustíveis.
Fonte:
Fortaleza, uma breve história. Artur Bruno e Airton de Farias. Fortaleza. INESP, 2011
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