segunda-feira, 13 de junho de 2011

A Cidade e o Futebol nos anos 1940

Praça do Ferreira, onde podem ser vistos alguns cartazes sobre a calçada.  No cruzamento com a Rua Floriano Peixoto, o Palacete Ceará (atual agência da Caixa), o Sobrado do Pastor e o Prédio da Intendência Municipal, que foi demolido em agosto de 1941 (Arquivo Nirez)
Na Fortaleza dos tempos de guerra – década de 40 – havia pontos e costumes bem esclarecedores do nosso estágio de acentuado provincianismo.
 A Praça do Ferreira concentrava a divulgação dos eventos que aconteciam pela cidade. Nos seus quatro cantos eram colocados cartazes pintados à mão com anúncios de jogos de futebol.  Os termos eram mais ou menos assim:  Domingo, sensacional match de futebol entre o Ferroviário e o Penarol. Às 15.30, no Campo do Prado. Ingressos Populares
Lojas Rianil na Rua Floriano Peixoto. O prédio era pintado de azul (Arquivo Nirez)
E nos pontos estratégicos do logradouro, os serviços de alto-falantes  nos horários de maior presença de público berravam propagandas – chamados de reclames – das lojas Rianil, da Cearense, da Relojoaria Cancão ou transmitiam músicas de sucesso de Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Sílvio Caldas e Carlos Galhardo, os Roberto Carlos do seu tempo.
As notícias do conflito que abalava o mundo vinham do rádio, e dos jornais, especialmente da
Gazeta de Notícias, onde em um pequeno e empoeirado sótão na Rua Senador Pompeu, jovens jornalistas iam acompanhando os fatos que se desenrolavam em terras da Europa, e se refletiam na pacata capital do Ceará.  
 Campo do Passeio Público, que ficava num plano abaixo da praça, foi o palco da primeira partida oficial de futebol, em 1904 (O Povo)
O futebol já era profissionalizado, mas ainda com fortes resquícios de amadorismo. Tinha sua maior expressão no Ceará, Maguari, Ferroviário e Fortaleza, surgindo logo em segundo plano o Tramways , que foi campeão em 1940 e foi dissolvido no ano seguinte, com título e tudo;  o Penarol que de calções vermelhos e jaquetas brancas foi apelidado pelos cronistas esportivos de “time das normalistas” numa alusão as cores da farda das alunas das Escola Normal; o Estrela do mar; o Luso e o Flamengo, que passaram da segunda para a primeira divisão e tiveram uma fase de relativo sucesso .
A equipe do Tramways, que ganhou o campeonato e foi extinta no ano seguinte.
 foto: http://memoriafutebolcearense.blogspot.com
Time do Ferroviário em 1938 (foto: site ferrao.com.br)
O Campo do Prado (Estádium Sport Cearense) inaugurado em 1912, estava situado onde hoje se encontra o Instituto Federal de Educação. No Prado também se faziam corridas de cavalo – havia uma pista de equitação ao redor do campo. Não havia gramado, o campo era de barro batido. Antes das partidas era comum aguar o campo para diminuir a poeira e diminuir o desconforto de atletas e torcedores. 
estádio do Prado (arquivo Nirez)
O estádio  era cercado por estacas de madeira e arame farpado, bastante vulnerável às investidas de penetras que não desejavam pagar pelo ingresso (embora nos primórdios ele nem fosse cobrado), de modo que ninguém fora dessa cerca protetora poderia assistir aos jogos, a não ser que subissem em árvores. Após essa cerca protetora maior, havia outra, pequena, de madeira, rodeando o campo propriamente dito. Em 1939 foram inaugurados os refletores para jogos noturnos.  
 Time do Ceará (foto: site cearasc.com)
Os craques da época foram: França o “estilista” que acabou contratado pelo Fluminense do Rio de janeiro; Zuza, pernambucano contratado pelo Ferroviário e depois foi para o Ceará; os goleiros Zé Augusto, Zé Onofre, Puxa-Faca, Zé Dias (campeão pelo Ferroviário em 45); Stenio, o craque os sete instrumentos, atuando em diversas posições e que do Maguari foi para o Botafogo do Rio; Hermenegildo e Mitotônio, o ala esquerda do Ceará, que o Náutico do Recife contratou; Zesérgio do Penarol e do Fortaleza; Sá Filho e Gambetá, zagueiros.  Todos esses jogadores,  formavam um grupo de craques, de reconhecida habilidade no futebol, que gozavam de largo prestigio entre os torcedores. Eles se tornaram figurinhas de um álbum, com vários prêmios para quem o preenchesse, promoção do empresário Amadeu Barros Leal, fundador dos cinemas Jangada, Araçanga, Atapu, Toaçu e outros.

Fonte:
Girão, Blanchard. O Liceu e o Bonde na paisagem sentimental da Fortaleza-Província. Fortaleza: Editora ABC, 1997.
Bruno Artur. Fortaleza: uma breve história/Artur Bruno, Airton de Farias. Fortaleza: INESP, 2011

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