sexta-feira, 17 de junho de 2011

Os Pioneiros da Propaganda no Ceará

centro de Fortaleza década de 1950
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=578293

Quando a década era a de 1950, e a televisão nem sonhava em desembarcar em terras alencarinas, quatro grandes corretores dominavam o mercado publicitário de Fortaleza: Eduardo Brígido Monteiro,  Irapuan Lima, Virgílio Machado e Paulo Matos Pinto. 
Numa sala do edifício Sul América, na Praça do Ferreira, Heitor Costa Lima, Antônio Girão Barroso, Goebel Weine e Otacílio Colares, fundaram a Propeg, a pioneira.  
 Ainda nos anos cinquenta,  Edmundo Vitoriano e Irapuan Lima se estabeleceram com a PIL. Em 1961 chegou a primeira agência de fora, a multinacional Mac Cann. Depois vieram a Denison e a Norton.  Augusto Borges e Virgílio Machado fundaram a Abelha. Tarcísio Tavares era executivo da Mac Cann, atendia a contas locais que não interessavam à multinacional. Fortaleza tinha então cerca de 500 mil  habitantes,  e aguardava com expectativa a energia que viria de Paulo Afonso, para impulsionar o progresso da cidade.   

Programa do Renato Aragão na TV Ceará (foto: uol)

O primeiro canal de televisão – a TV Ceará canal 2 – inaugurado em novembro de 1960, atraía a atenção da cidade para o bairro da Estância, (atual Dionísio Torres).  O slide dava seu recado sem grandes sofisticações técnicas e as garotas propagandas completavam o serviço, davam seu recado ao vivo, sem direito a erros. 
Eram pagas primeiro pela emissora, depois pelas agências. 
 Foi neste contexto que Tarcísio Tavares, seu Dudu e Maninho Brígido, deram novo rumo a propaganda cearense com a Publicinorte,  em fins de 1964. Os clientes: Romcy, Carvalho Borges, Ocapana e Saronord. Estavam lançadas as bases de um novo modelo de publicidade cearense. 
O show estava apenas começando.

Tarcísio Tavares, na década de 60, em visita a TV Tupi no RJ (Arquivo Marciano Lopes)

 Em pouco tempo tornou-se a primeira grande agência de publicidade do Ceará.  À época o comércio era pouco sofisticado, com predomínio dos grupos locais, embora contasse com alguns grupos  nacionais, como a Lobrás (antiga 4.400) e as Pernambucanas.
Com o advento da Publicinorte, a propaganda cearense entrou numa fase de sistematização e distribuição de papéis, ainda que os melhores anúncios tivessem clichês feitos em Recife. Com ela toda uma geração de profissionais aprendeu a lidar com a linguagem do varejo, adaptando ou copiando slogans, a manejar o varejo dos vt’s de ofertas, e a trabalhar com conceitos e idéias que até hoje influenciam patrões e anunciantes. A chegada do vídeo tape, decretou o fim da programação local, mas forneceu recursos mais sofisticados para a produção dos comerciais.

O Anjinho da Ocapana
Um recurso criado pela Publicinorte virou moda e fez escola na propaganda em Fortaleza. Foi a criação do anjinho que cobrava os clientes inadimplentes. Em lugar das cartinhas ameaçadoras, que eram enviadas, às vezes, por engano, até aos bons pagadores, a Loja Ocapana passou a enviar cartas bastante amáveis que em nenhum momento ameaçava ou constrangia o cliente. 
 No   primeiro aviso o “anjinho Ocapana” muito feliz, lembrava o dia do vencimento;   
 No segundo, já com o pagamento atrasado, o anjinho  demonstrava preocupação, mas prometia segurar o pessoal da cobrança para que o nome do cliente não fosse inscrito no SPC. Solicitava porém, que o devedor providenciasse  o pagamento, pois estava com dificuldades de cumprir a promessa.  
Na terceira carta, o "Anjinho" aparecia triste dizendo que tinha feito tudo para segurar o pessoal da cobrança, mas como o cliente não havia efetuado o pagamento o SPC iria ser informado do débito. Mas, se ele pagasse imediatamente, o "Anjinho" prometia segurar o pessoal mais um pouquinho.
Essa ideia fez um grande sucesso, muita gente elogiava a maneira de cobrar da Ocapana e o departamento de cobrança passou a ter menos trabalho. 
O modelo foi adotado para outros clientes da Publicinorte, em outros estados (atendidos pelas filiais da agência). Em Belém do Pará, passou a chamar-se "Anjinho Capri" por causa das Lojas Capri. Porém, tudo era feito aqui mesmo em Fortaleza, pela mesma equipe. 

Toinho Mendes

 Antônio Mendes foi revelado nos programas de humor. Fazia escada para Renato Aragão em Vídeo Alegre. Logo passou a fazer propaganda na telinha da TV, do Romcy, do Armazém Nordeste, e outros. 
Grosso, desbocado, fora dos padrões televisivos, estava mais para camelô do que para garoto propaganda.  Toinho improvisava entre um e outro comercial, num tempo em que ainda era possível se fazer televisão ao vivo. 
Recebia o mote e mandava ver, fazia o comercial dialogar com o programa em que estava inserido.  Antônio Mendes não temia ver sua performance associada ao mau gosto e expunha nosso lado vulgar na fala que não imitava sotaques.

Romcy Magazine na Rua Liberato Barroso (foto: O Povo)

 Certa vez apareceu no vídeo segurando uma galinha morta,  numa analogia aos preços baixos do Romcy Magazine (ideia do Tarcísio Tavares, da Publicinorte), usava camisas de times, usava cartolas e fazia um duplo sentido que visava reforçar um apelo de vendas.
 Em uma terra com fama de não ter memória, vale a pena lembra-lo.  É uma forma de recuperar um pouco da irreverência cearense que depois foi valorizada pelos novos humoristas.

Fonte:
Carvalho, Gilmar de. O gerente endoidou: ensaios sobre publicidade e propaganda/Gilmar de Carvalho. Fortaleza: omni ed., 2008,  157p
Nepomuceno, Nivardo C. Publicinort Invest. Disponível em http://nivardo.webng.com/publicinorte2.htm 

2 comentários:

Rossy disse...

Olá amigos.
Aqui neste link vocês podem ver a foto do romcy antigo com uma melhor clareza, e com certeza várias outras fotos que podem ajudar a enriquecer este blog:

http://www.orkut.com.br/Main#Album?uid=8730952781678651409&aid=1217601589

Abraços a todos.

Fátima Garcia disse...

Oi Rossy
fui lá na sua pagina do orkut e pedi p/voce me adicionar. Grata pela dica
abs