terça-feira, 20 de julho de 2010

Fortaleza à moda Francesa

Prédio da empresa Boris Fréres & Cie Ltd, em foto de 1910.
(foto - arquivo NIREZ)

A mania começou por volta de 1869, quando por aqui se instalou a casa de comércio de Theodore Boris & Irmão. Este estabelecimento, de propriedade de dois irmãos de nacionalidade francesa, transformou-se depois na firma Boris Frères, com sede em Paris.
Em 1878 um dos sócios – Isaie Boris – veio residir no Ceará, o que deu prestigio, respeito e credibilidade ao estabelecimento. O nome Boris era sinônimo de confiança, garantia de seriedade nos negócios. O espírito popular começou a chamar o oceano de Açude do Boris; qualquer impasse que surgia em determinada situação, o gracejo é que seria resolvido pelo Boris; à Justiça deram a alcunha de mãe do Boris, significando que até os tribunais eram influenciados pelo comerciante.
Isaie Boris tornou-se Vice Cônsul da França e elevou-se mais ainda na consideração e estima da sociedade fortalezense, do comércio e dos poderes públicos. Coordenou e foi presidente da comissão Organizadora quando da participação do Ceará na Exposição Internacional de Chicago em 1892-93, elaborando o catálogo de produtos cearenses que deveriam figurar na exposição. Com o afastamento de Isaie Boris, a firma Boris Frères passou a ser administrada em Fortaleza por Achille Boris, outro grande empreendedor.
A tal ponto chegou a influência e a atuação dos Boris em Fortaleza, que algumas vezes, teve a Fazenda do Estado de recorrer ao seu financiamento para atender as carências monetárias dos cofres públicos.
Por conta dessa crescente ingerência da Casa Boris nos negócios e na vida da cidade, essa influência foi se acentuando, e ficou ainda maior com as viagens à Europa, de preferência à França, de várias personalidades cearenses, algumas acompanhadas das famílias, onde às vezes se demoravam meses e anos, segundo dizem, as expensas da Casa Boris.
Muitos foram os cearenses que estudaram, se graduaram médicos, engenheiros na França, e casaram com damas francesas.

 
Fachada da Loja Torre Eiffel na Rua Major Facundo, n° 88.
(foto - Arquivo NIREZ)

A Casa Boris também abriu caminho para que vários franceses se estabelecessem por aqui, como o professor Louis Vergeot, correspondente-redator de “Le Journal” de Paris e delegado da “Alliance Française”, que se destinava a propagação da língua francesa nas colônias e Norberto Golignac, que mantinha um serviço de carruagens de luxo, para casamentos, passeios e batizados.
Ao lado de outros estabelecimentos que foram abertos na mesma época, tais como os de Gradvohl Frères, Levy Frères, Benoit Levy & Dreifuss, e outros, generalizou-se a moda de dar nomes franceses às empresas cearenses. Assim surgiram estabelecimentos com atuação em ramos diversos, com denominações como Au Phare de La Bastille, Louvre, Bom Marché, Notre Dame de Paris, Rendez-Vous dês Amis, Torre Eifel, Hotel de France, Hôtel de l’Univers, Art-Nouveau, Café Riche, Farmácia Pasteur, Farmácia Francesa – todas vendendo artigos de procedência francesa: modas, tecidos, sapatos, chapéus, perfumes, bijouterias, conservas, vinhos, bebidas, licores e produtos farmacêuticos.


Cartaz de propaganda da Farmácia Pasteur, fundada em 1894.
(foto  - Arquivo NIREZ)

Os colégios ensinavam o idioma francês e as famílias cultivavam hábitos, vestuários e maneiras à moda francesa, que nada tinham em comum com os hábitos e costumes em voga na provinciana Fortaleza. O modismo se estendeu a praticamente todos os setores e a mania do afrancesamento dominou Fortaleza durante longo período.


8 comentários:

Lúcia Paiva disse...

É, Fortaleza sofreu considerável ifluência francesa, em inúmeros setores,nas letras,arquitetura,
comércio...e tal...
No ginásio, era obrigatório o ensino da língua francesa nas três séries iniciais, isso na década de 1950, quando estudei em escola pública.

Meu pai trabalhou como "guarda-livros"(contador)na empresa dos Boris, naquele prédio da praia de Iracema, aí mostrado.

Gosto da influência francesa!!!!
Foi uma bela época!!!

Beijo, amiga!
Lúcia

Fátima Garcia disse...

Oi Lúcia,
concordo que a belle epoque deixou uma herança positiva para Fortaleza, inclusive na urbanização que resultou no traçado xadrez das ruas da cidade.

Lúcia Paiva disse...

Quando menina, adorava rodear os quateirões, quadradinhos, com as amiguinhas da rua em que eu morava,a Barão de Aratanha, sem deixar a calçada.
Eram a própria Barão de Aratanha, sentido sertão,à direita a Rua Antônio Pompeu, novamente à direita a Rua Solon Pinheiro, seguindo à direita a Rua Meton de Alencar e....novamente a Barão.

Era em volta do "tabuleiro de xadrez", nosso inocente e gostoso passeio, na Fortaleza das décadas de 1040/50.

Valeu, Fátima, recordar!

Liúcia Paiva disse...

Voltei!!

Retornei tanto ao passado que, ao invés de 1940, digitei 1040....é a vista que trai...às vezes rsrsrs!

Anônimo disse...

oi,
poderiam me informar
o dono de da empresa Gradvohl fréres,
era o empresario Roberto Maurice Gradvohl?

Fátima Garcia disse...

encontrei uma única referência sobre os proprietários da empresa Gradvohl Frères. Seriam Gerson Gradvohl e seus filhos Henri e Lazare. Este último era quem dirigia os negócios no Ceará.

Anônimo disse...

eae mano

Anônimo disse...

Empresa gradvohl freres, era uma filial da empresa em Paris e Gerson gradvohl era o diretor em Paris e aqui no Brasil existia 2 filhos, Roberto Maurice gradvohl e Leon gradvohl, Henri gradvohl assumiu a empresa em Paris após a saída de Gerson.